O técnico argentino Horacio Dileo, atualmente à frente do Vôlei Renata, que conta com o levantador Bruninho, compartilhou suas perspectivas em uma entrevista ao podcast “Ataque Defesa”, do jornalista Alê Oliveira.

Durante a conversa, Horacio Dileo abordou questões estruturais do vôlei brasileiro, traçando um paralelo com as críticas feitas por Abel Ferreira e Tite em relação ao calendário exaustivo do futebol brasileiro.

A análise de Horacio Dileo sobre os treinamentos intensivos no Brasil e na Argentina ressoa com as preocupações desses técnicos, que denunciam a falta de tempo para descanso e recuperação dos atletas.

Horacio Dileo analisa volume de treinamento no vôlei brasileiro

Horacio Dileo destacou a intensidade e o volume dos treinamentos no Brasil, algo que ele considera único em comparação com outras partes do mundo.

O técnico é coerente ao dizer que todos precisam sentar juntos e conversar sobre o ótimo produto que o Brasil tem nas mãos, o voleibol.

Por outro lado, acredita que é mal aproveitado, com muito tempo gasto com treinos e explorando pouco o descanso dos atletas e a organização do calendário.

Precisamos sentar, planejar, discutir como trabalhamos na base, no adulto, como o jogo é televisionado, como é o calendário de competições para que os jogadores possam ter um descanso. Muitas vezes, os jogadores não têm descanso.

Essa observação reflete uma preocupação com o equilíbrio entre a carga de treino e o tempo necessário para a recuperação física dos atletas, um tema que também é alvo de críticas no futebol.

É um país onde se treina tanto, pode procurar em outro, que não seja Argentina ou Brasil, e não encontrará um lugar que treine o volume de horas que se treina aqui. Isso não existe. Então, isso também deve ser analisado.

Abel Ferreira e o impacto do calendário no futebol brasileiro

No futebol, Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, tem sido uma voz ativa contra o calendário apertado. Em novembro de 2023, após uma vitória sobre o Internacional pelo Brasileirão, Abel criticou a sequência de jogos com poucos dias de descanso. 

Abel argumenta que essa situação é insana e prejudicial, tanto para a saúde dos jogadores quanto para a qualidade do futebol apresentado.

É uma vergonha ter oito jogos seguidos com dois ou três dias de descanso. O Athletico perdeu três jogadores, hoje o Inter teve mais dois que se lesionaram. Será que isso não faz as pessoas refletirem?

Tite e a preocupação com a saúde dos atletas no futebol brasileiro

Tite, ex-técnico da Seleção Brasileira e atualmente no Flamengo, compartilha das mesmas preocupações. Após uma vitória sobre o Bahia, Tite direcionou suas críticas ao diretor de competições da CBF, Julio Avellar, enfatizando os riscos de lesões causados pelo calendário apertado.

Assim como Horacio Dileo no vôlei, Tite defende que as condições de treinamento e descanso sejam repensadas para preservar a integridade física dos atletas.

Vai estourar lesão, um joelho, um tornozelo! Prejudica todo o clube, uma campanha, o atleta individualmente. Cuidado!

A visão de Ramón Diáz e Renato Portaluppi sobre a recuperação física

O técnico argentino Ramón Diáz, atualmente no Corinthians, tem priorizado a recuperação física dos jogadores, reduzindo a intensidade dos treinos para evitar lesões. Ele trabalha ao lado de seu auxiliar, Emiliano Diáz.

Preparar uma equipe, quando você joga domingo e quarta, não tem muito tempo para fazer táticos. Então, aí é mais a parte de análise, de mostrar imagens, de falar muito na reunião.

Renato Portaluppi, técnico do Grêmio, também manifestou apoio a Tite, ressaltando que o calendário apertado impede o uso ideal do elenco e coloca em risco a saúde dos jogadores.

Fica impossível com o calendário. Não é desculpa, mas, no momento que você gasta para ter um grupo forte e não pode usar, fica muito difícil. Mas não adianta, as pessoas não vão entender, sempre querem o resultado.

Nós, treinadores, queremos sempre a vitória, mas, se colocar sempre o mesmo time em campo, não vai ter nada, nem vitórias, nem brigar por título, só um monte de jogador entregue ao departamento médico.

Quem faz calendário no futebol brasileiro, poucos entendem de futebol. Nunca entraram em campo. Para quem trabalha e vive do futebol, fica bastante pesado para a gente.

O calendário insano, segundo Gabriel Milito e Pep Guardiola

Gabriel Milito, técnico do Atlético-MG, também criticou o calendário do futebol brasileiro, apontando que ele “não existe em nenhum lugar da América do Sul e nem quase em outro lugar do mundo”.

Temos que analisar profundamente para decidir quais jogadores estão melhor para jogar. É uma equipe grande.

O calendário do futebol brasileiro não existe em nenhum lugar da América do Sul e nem quase em outro lugar do mundo. Porém, os jogadores estão acostumados. Eles têm o hábito.

Paulinho, atacante do Galo, concordou com o treinador:

Sabemos que o calendário suga, mas estamos acostumados. Estamos vindo de uma temporada que jogamos quatro competições. Temos que tentar aproveitar o auxílio da comissão técnica para recuperar os jogadores e trabalhar quem está jogando menos.

Essa crítica é compartilhada por Pep Guardiola, técnico do Manchester City. Após a classificação para a final da Copa da Inglaterra, Guardiola considerou “inaceitável” que seus jogadores fossem forçados a competir em condições tão extenuantes. Especialmente após partidas intensas como a da Liga dos Campeões contra o Real Madrid.

É inaceitável que nos façam jogar hoje. É impossível, para a saúde dos jogadores. Após os 120 minutos (pela Champions League), as emoções de Madrid (contra o Real), a forma como perdemos, honestamente…

Sei que a relação deste país (com a FA Cup) é especial, mas é pela saúde dos jogadores. Não sei como sobrevivemos.

A luta de Zé Roberto e Dorival Jr. por um calendário mais equilibrado

No vôlei, o técnico Zé Roberto, tricampeão olímpico, assim como Horácio Dileo, também criticou o calendário, mas da VNL no ano passado, e a falta de descanso para as jogadoras.

O comandante da Seleção Brasileira de Vôlei Feminino destacou a necessidade de um planejamento que considere a saúde das atletas.

Está insano. Não pode continuar dessa maneira. Precisamos conversar muito com a FIVB e com CBV para melhorar esse calendário.

Dorival Jr., técnico da Seleção Brasileira de futebol, também argumenta parecido com Horácio Dileo, mas no futebol, que é preciso encontrar um caminho para melhorar a qualidade, sugerindo uma revisão coletiva do calendário.

Eu vivi, ao longo de 20 anos, em clubes. Entendo o que é a distribuição de um calendário, acúmulo de jogos e as pessoas não entendendo porque se coloca times mistos, reservas.

Se quisermos mudanças, acredito que tenhamos que ter um encontro de todos. Precisamos aparar arestas para melhorar a qualidade do nosso futebol.

A distribuição dos jogos é feita pela CBF. Precisamos encontrar um caminho. Temos que parar, em algum momento, se quisermos um tipo de alteração.

A convergência de vozes: a necessidade de repensar o treinamento no esporte brasileiro

Assim como Abel Ferreira, Tite e outros técnicos do futebol, Horacio Dileo defende uma reavaliação das práticas no vôlei brasileiro.

O técnico argentino acredita que o volume excessivo de treinamento precisa ser repensado para garantir que os atletas possam ter um desempenho saudável e sustentável.

Essa convergência de opiniões entre profissionais de diferentes esportes evidencia um problema estrutural no esporte brasileiro, onde a busca por resultados imediatos muitas vezes sobrepõe-se à saúde e bem-estar dos atletas.

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