Ana Cristina, uma das grandes promessas do vôlei brasileiro, abriu o coração, em entrevista ao ge, sobre um dos momentos mais difíceis de sua carreira.
A atleta, que começou a jogar profissionalmente aos 16 anos e hoje defende o Fenerbahçe, da Turquia, compartilhou o período em que quase abandonou o esporte.
Aos 20 anos e com duas medalhas olímpicas no currículo, Ana revelou como o desgaste mental quase a afastou das quadras e como conseguiu superar essa fase para voltar ainda mais forte.
A pressão e o pedido de dispensa de Ana Cristina
Ana Cristina, de apenas 20 anos, já tem uma carreira invejável, com pratas e bronzes olímpicos, mas a jornada nem sempre foi fácil. A ponteira admitiu que, em determinado momento, cogitou parar de jogar.
O pedido de dispensa foi um divisor de águas na minha vida. Eu estava em um momento muito difícil, desgastada mentalmente, sem prazer nenhum de estar em quadra. Se eu tivesse continuado daquela forma, explodiria, a ponto de não querer mais o vôlei“, relembra.
Essa pausa foi essencial para que Ana Cristina se reconectasse consigo mesma e com o esporte:
Foi um momento em que me retirei do vôlei, das redes sociais. Voltei para o clube com uma mentalidade totalmente diferente, renovada, grandes objetivos pela frente.
A importância da saúde mental
Ana Cristina aproveitou para falar sobre a crescente discussão a respeito da saúde mental no esporte.
O corpo é nosso instrumento de trabalho, mas a mente também. Se não tivermos uma mente forte, não conseguimos aguentar a pressão de ser jogador de vôlei.
Ana Cristina acredita que a saúde mental precisa ser tratada com a mesma atenção que a preparação física. A atleta vê uma mudança gradual no ambiente esportivo, com mais abertura para falar sobre esses temas.
Depressão e ansiedade existem, e não podemos ignorar isso. Há tratamentos, e as pessoas precisam se sentir à vontade para buscar ajuda.
Redes sociais: uma faca de dois gumes
Além da pressão dentro das quadras, Ana Cristina também enfrentou os desafios das redes sociais. Apesar de reconhecê-las como uma ferramenta poderosa, ela alerta para os perigos de um uso descontrolado.
As redes sociais são ótimas se você sabe usar da maneira certa, mas, quando sai do controle, pode te machucar muito.
A ponteira opta por manter sua vida privada longe dos holofotes, encontrando equilíbrio entre a carreira e o ambiente digital.
Representar o Brasil: um privilégio e um desafio para Ana Cristina
Para Ana Cristina, vestir a camisa da Seleção Brasileira desde as categorias de base é uma das maiores honras de sua carreira.
A atleta escolheu dar o seu melhor sempre que está defendendo o Brasil, canalizando a pressão dos torcedores de forma positiva.
A camisa pode ser um peso tão grande a ponto de você não suportar ou pode servir de instrumento para que a atleta voe cada vez mais alto.
Ana Cristina reconhece o impacto que o esporte tem, não só na sua vida, mas também na daqueles que a cercam:
Vejo o quão felizes minha família e amigos ficam com as minhas conquistas. Isso me motiva a ser melhor a cada dia.
O sonho olímpico
Mesmo já sendo medalhista olímpica, Ana Cristina mantém o foco em um grande objetivo: o ouro olímpico.
Meu maior sonho profissional é ser campeã olímpica. Algumas Olimpíadas ainda estão por vir e, se o ouro já chegar em Los Angeles 2028, vou falar que meu próximo maior sonho será levar o bicampeonato“, encerrou Ana Cristina.
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A importância do acompanhamento da saúde mental para jovens atletas
O ambiente esportivo moderno oferece tanto oportunidades quanto desafios significativos para os jovens atletas.
Entre as questões mais complexas está a pressão psicológica, intensificada pelas redes sociais e expectativas externas.
O acompanhamento da saúde mental torna-se, assim, um elemento crucial para o bem-estar e o desempenho desses atletas.
Psicólogos esportivos como Eduardo Cillo e Mariah Theodoro da Silva destacam os impactos dessa nova realidade e a importância de estratégias para lidar com ela.
O impacto das redes sociais na vida dos atletas
As redes sociais, ao mesmo tempo, em que conectam atletas ao mundo, podem ser uma fonte significativa de estresse e distração.
Mariah Theodoro da Silva observa que o uso excessivo dessas plataformas pode levar à fadiga mental, afetando a memória, a tomada de decisões e até mesmo o desempenho esportivo.
O problema se agrava quando a exposição nas redes aumenta a vulnerabilidade emocional dos atletas, que passam a enfrentar críticas e ofensas que elevam seus níveis de estresse e ansiedade.
Desdobramentos cognitivos pelo uso de mídia social também são observados e consequentemente a saúde emocional desse atleta estará prejudicada.
A fadiga mental, por exemplo, é um dos sintomas gerados pelo uso excessivo de mídia, prejudicando o aprendizado, afetando a memória, solução de problemas, tomada de decisão e um cansaço além do natural.
Eduardo Cillo complementa essa visão, enfatizando que as redes sociais consomem tempo e energia dos atletas, o que pode prejudicar seu descanso e foco.
Além disso, a volatilidade das opiniões públicas nas redes pode inflar o ego ou, ao contrário, desestabilizar emocionalmente os atletas, impactando diretamente sua rotina e desempenho.
Parece inocente e pouco desgastante, mas, na prática, a rede social acaba consumindo bastante da energia e do tempo do usuário.
Se esse usuário é um atleta, então ele corre o risco de descansar menos do que ele precisa, de perder o foco e também se desgastar.
Com mensagens que podem ou enaltecer demais uma vaidade, um ego, ou enfraquecer.
A pressão exacerbada sobre os atletas na atualidade
A pressão sobre os atletas, especialmente os jovens, como Ana Cristina, é uma realidade antiga, mas que ganhou novas dimensões com o avanço da tecnologia e das redes sociais.
Mariah Theodoro da Silva destaca que a exposição nas redes, somada às expectativas dos patrocinadores e à necessidade de resultados rápidos, coloca os atletas sob um tipo de pressão multifacetada, que vai além do campo de jogo e invade suas vidas pessoais.
Alguns preditores de pressões de atletas hoje em dia incluem a exposição nas redes sociais, cobranças e expectativas elevadas de um público maior e sem “identidade”, além da pressão para atender patrocinadores.
Os avanços científicos e tecnológicos, embora incríveis, também podem se tornar mais um tipo de pressão ao otimizar a performance de forma incessante.
Eduardo Cillo acrescenta que, embora a pressão por desempenho sempre tenha existido, a visibilidade ampliada pelos diversos canais de mídia atuais torna o desafio ainda maior.
Hoje, os atletas precisam aprender a lidar com a ideia de que seus sucessos e fracassos são assistidos por milhões de pessoas em tempo real, algo que pode desviar o foco da tarefa principal: a competição.
Por conta de mudanças tecnológicas, incluindo redes sociais, o atleta acaba sendo bem mais exposto, pois há diversos canais de transmissão além das mídias tradicionais, permitindo que o público assista ao sucesso ou fracasso do atleta.
O atleta precisa aprender a lidar com isso, focando na tarefa durante a competição, sem pensar que está sendo visto por milhões de pessoas.
A necessidade de um suporte psicológico adequado
Diante desses desafios, o acompanhamento psicológico torna-se essencial para ajudar os jovens atletas a desenvolverem estratégias de enfrentamento e a blindarem-se contra os efeitos negativos da pressão e das redes sociais.
Tanto Mariah quanto Eduardo enfatizam que, ao se preparar mentalmente, o atleta não apenas melhora sua performance, mas também protege sua saúde emocional, garantindo uma carreira mais equilibrada e saudável.
O cenário atual exige que os jovens atletas estejam equipados não só com habilidades físicas, mas também com ferramentas psicológicas para enfrentar as pressões do esporte e da vida digital.
O suporte psicológico adequado é, portanto, um investimento essencial no sucesso e no bem-estar desses jovens talentos.
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Repórter no Esportelândia. Formada em Letras pela UFRJ e Jornalismo pela FACHA. Passou por Vavel Brasil, Esporte News Mundo, Futebol na Veia e PL Brasil. Está no Esportelândia desde 2021.