O trabalho de Bernardinho no Flamengo foi certamente uma das (poucas) gratas surpresas da paralisação do esporte brasileiro em 2020. Até porque o lendário treinador não chegou sozinho, trazendo consigo a tradição e literalmente toda a equipe do multicampeão SESC-RJ.
Apresentado no mesmo dia em que Jorge Jesus deixou o futebol do clube carioca, o técnico deu partida, no vôlei mesmo, a um dos mais promissores projetos esportivos brasileiros dos últimos tempos, no mínimo um dos mais ambiciosos.
Sob a bandeira do Flamengo e a liderança de Bernardinho, a ideia do novo SESC RJ/Flamengo é ir além dos resultados, somando formação de atletas, propagação de valores cívicos e até o desenvolvimento de uma cultura desportiva — além, claro, de reerguer um antigo campeão da Superliga.
A parceria entre SESC e Flamengo no vôlei
A parceria entre o SESC-RJ e o Flamengo foi firmada em julho de 2020, atendendo primeiramente uma questão prática. Muito por conta da pandemia, o SESC se encontrava em sérias dificuldades financeiras, tendo até encerrado a sua equipe masculina.
A união com o Flamengo permitiu ao menos que o time feminino, comandado por Bernardinho, seguisse funcionando. O clube rubro-negro, por sua vez, vinha de um péssimo desempenho, tendo vencido apenas quatro das 20 partidas disputadas na Superliga 2019/2020.
O Fla também foi atingido pela paralisação do esporte no Brasil e sozinho talvez não fosse capaz de montar um elenco competitivo ou mesmo de manter a modalidade na elite. Com a parceria o talentoso elenco do SESC-RJ foi absorvido.
No uniforme, o distintivo é do tradicional clube carioca, enquanto a entidade é estampada como um patrocinador. Nas quadras, a equipe-base é a mesma treinada por Bernardinho nas temporadas anteriores, e que segue com o técnico no comando.
O time treina nas dependências do Flamengo, no ginásio da Gávea, onde também joga enquanto não houver público nas partidas. A ideia é mandar os jogos no Maracanãzinho, se forem resolvidas as pendências burocráticas.
Elenco formado e já trabalhando para uma grande temporada. Vamos com tudo! #JuntosSomosUmaNação pic.twitter.com/2LsHvPOi6g
— Sesc RJ Flamengo (@sescrjflamengo) July 30, 2020
SESC-RJ, Bernadinho e Flamengo, uma combinação poderosa
A partir dos encaixes práticos, a combinação entre SESC e Flamengo é também bastante ambiciosa, como admitida pelo próprio Bernardinho.
A ideia básica é unir a bem-sucedida estrutura de comando do SESC — que conquistou 12 Superligas e outras duas Sul-Americanas — com o que o treinador chamou de “capilaridade” do Flamengo.
Em outras palavras, o plano é dar a popularidade, o alcance e o engajamento de um clube de massa a uma equipe comprovadamente vencedora.
Com essa soma, o céu é o limite. Bernardinho fala de Sul-Americana, de Mundial Interclubes, mas principalmente de um projeto a longo prazo e de um legado duradouro para o vôlei do Brasil. Experiência e conhecimento certamente não faltam para o homem que transformou a seleção brasileira em uma potência mundial.
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Projeto com a cara de Bernardinho no Flamengo
O projeto todo é muito centrado em Bernardinho. O treinador é uma espécie de garantia para os investimentos do Flamengo, além de um ativo publicitário e até um capital político para a diretoria rubro-negra.
Simultaneamente, as condições do clube da Gávea aproximam o técnico do seu ideal de trabalho, isto é, de um planejamento amplo e de uma ação “interdisciplinar”. Uma boa maneira de enxergar essa troca é o fato de que o SESC-RJ/Flamengo atuará sob o CNPJ do Rio de Janeiro Vôlei, cujo titular é…Bernardo Rezende.
A base do Flamengo no vôlei
Dentre tudo o que o Fla oferece, talvez o que seja mais atraente é o trabalho de base. O rubro-negro não é somente um dos melhores “produtores” de voleibolistas como é também um dos poucos que o fazem no vôlei feminino brasileiro.
O treinador, por sua vez, enxerga na formação de atletas um dos pilares do seu ofício. A constante renovação do grupo e a precisa gestão de novos talentos talvez foram as maiores marcas pessoais que deixou na seleção brasileira masculina.
Bernardinho é também dono de uma grande rede de escolinhas de vôlei no Rio de Janeiro. Elas não se caracterizam como categorias de base de fato mas ainda assim abastecem clubes das três divisões da Superliga.
O peso da formação de jovens jogadores é grande no projeto. Tanto que o CNPJ usado pelo Flamengo na temporada 2019/2020 deve ser usado para tocar uma “equipe de aspirantes” nas divisões inferiores do vôlei nacional.
Flamengo e Bernardinho para além do vôlei
Outro ponto tocado tanto por Bernardinho como por SESC e Flamengo é a utilização do Maracanãzinho. O plano é aproveitar a ocupação do lugar pelo pessoal do basquete flamenguista — que também manda seus jogos no ginásio — e expandir a cultura poliesportiva do clube.
Com a adição da torcida do futebol, que naturalmente orbita o complexo, é possível pensar em grandes ações socioculturais e também em planejamentos de marketing.
Esse olhar para além do esporte é outro assunto recorrente na oratória de Bernardinho. Na sua apresentação na Gávea, o treinador falou que quer fazer o projeto propagar valores cívicos e demarcar uma verdadeira cultura de trabalho.
O investimento em Bernardinho no Flamengo
Um dos maiores desafios de Bernardinho e de todo o projeto será tocar um trabalho de longo prazo em meio a pressão por toda a magnitude dos planos, pelos personagens envolvidos e até pelas questões políticas internas comuns aos clubes da dimensão do Flamengo.
Até porque inicialmente o dinheiro não será à altura — times como Praia Clube, Minas, Sesi/Bauru e Osasco contam maiores investimentos. A ideia é fazer do projeto algo autossustentável, isto é, sem a necessidade de grandes aportes financeiros do Fla.
Ao mesmo tempo, o fim do ranking de jogadoras voltou a possibilitar “Supertimes” na Superliga. O SESC-RJ/Flamengo, com sua estrutura, com sua capacidade de arrecadação e, claro, com o profissional que tem no banco de reservas, é um dos principais candidatos a formar uma dessas seleções.
Os títulos e as participações do Flamengo na Superliga
Ainda que a grana de largada não seja das mais altas, e por mais que a ambição do projeto seja para além das quadras, a alta expectativa por resultados é inevitável. Estamos falando, afinal, da combinação de uma equipe de enorme sucesso recente com um clube de grande tradição poliesportiva, inclusive no vôlei.
Se a década de 2010 foi dominada pelo SESC, foi em 1980 que o Flamengo teve suas maiores glórias. Venceu a Superliga feminina em 1978 e 1980 e o Sul-Americano em 1981. Para completar, em 1984 conquistou seu nono campeonato carioca.
A última taça erguida pelas mulheres do Mengão foi na Superliga de 2000/2001. No entanto, com a liderança de Bernardinho e o talento das campeãs do SESC, os títulos devem ser numerosos e mais recentes.
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*Última atualização 15 de setembro de 2020
Jornalista formado pela UNESP, foi repórter da Revista PLACAR. Cobriu NBB, Superliga de Vôlei, A1 (Feminino), A2 e A3 (Masculino) do Campeonato Paulista e outras competições de base na cidade de São Paulo. Fanático por esportes e pelas histórias que neles acontecem, dos atletas aos torcedores.