Grandes vitórias, ascensão nos rankings, conquistas de Grand Slams e reconhecimento internacional. Poderíamos estar falando de Guga, mas esses são feitos da história recente dos tenistas brasileiros em duplas.

A partir da virada da década de 2010, o tênis do Brasil cresceu a partir das duplas. Elas se multiplicaram nos circuitos masculino e feminino e mostraram um aumento sensível no seu rendimento.

De 2015 em diante, a grande explosão. Foram cinco Majors conquistados em duplas masculinas, com títulos em todos os quatro Grand Slams.

No ranking da ATP, dois brasileiros, de duplas diferentes, chegaram a ocupar simultaneamente o Top 5 e, em momentos distintos, o Top 2. Mais para baixo, tivemos outros dois tenistas no Top 40, um no ATP, outra no WTA.

Bem antes deles, um pouco antes da era aberta (1968) Maria Esther Bueno só não fez chover nas quadras. A lenda do tênis mundial conquistou nada menos que 11 Grand Slams em duplas femininas e outro em duplas mistas. Não dá para imaginar o atual sucesso na modalidade sem o seu pioneirismo.

Mas foram os resultados recentes dos duplistas do Brasil que colocaram o esporte novamente em evidência no cenário internacional do tênis. O impacto do seu desempenho inclusive começa a ser visto nas novas gerações de jogadores daqui, que passaram a vislumbrar uma carreira na categoria.

Mas qual o motivo do sucesso dos tenistas brasileiros em duplas? Seria a modalidade uma solução para o desenvolvimento do esporte por aqui? E porque não há o mesmo rendimento nas simples? É o que procuramos desvendar abaixo.

O cenário dos tenistas brasileiros em duplas

Chega a ser engraçado que o ponto de virada para o sucesso dos tenistas brasileiros em duplas tenha sido a separação de uma grande parceria.

Marcelo Melo e Bruno Soares formavam um dos times mais famosos do esporte do Brasil na primeira década dos anos 2000. Disputaram Pan-Americano, Olimpíadas e venceram até o Brasil Open, quando ainda era na Costa do Sauípe.

Em 2012, porém, se separaram. Não por alguma briga, ou sequer de maneira completa, já que continuaram se pareando para disputas do Time Brasil, como Copa Davis ou Olimpíadas.

Deu certo. Bruno foi jogar com o austríaco Alexander Peya e começou a empilhar títulos ainda em 2012. Foram 11 só entre 2012 e 2013, contra cinco entre 2008 e 2011. Melo, por sua vez, custou um pouco para encontrar sua melhor fase; quando o fez, deslanchou.

Atuando ao lado do croata Ivan Dodig, venceu Roland Garros, dois Masters 1000 e alcançou o topo do ranking de duplas da ATP em 2015.

O ano seguinte viu Bruno Soares estourar. Dessa vez com o britânico Jamie Murray, irmão do “simplista” Andy Murray, o brasileiro fez uma temporada memorável. Venceu US Open, Australian Open e se catapultou para a segunda colocação do ranking mundial.

Quando Soares chegou à sua melhor classificação, infelizmente Melo já tinha saído do topo. Mas os dois chegaram a figurar simultaneamente no Top 5, resultando no que provavelmente foi o melhor momento da história do tênis brasileiro.

Contar a história de Marcelo Melo é uma boa maneira de explicar o sucesso dos tenistas brasileiros em duplas. Um grande case, como diriam uns.

Em 2007, Melo foi abordado por executivos da Centauro, rede de varejo de artigos esportivos, para um patrocínio.

A proposta era inusitada. E boa. A empresa queria se associar ao tenista por um longo prazo, dar suporte completo e levá-lo ao topo do ranking. A única condição é que ele teria de disputar somente torneio de duplas.

Patrocínios não são assim comuns no tênis do Brasil, muito um que fornece assistência e menos ainda um que traça um planejamento para levar o atleta à elite do tênis mundial.

Claro Marcelo aceitou e, em menos de 10 anos, se tornou o primeiro tenista brasileiro a alcançar o primeiro lugar do ranking da ATP depois de Gustavo Kuerten. Repetiu a dose em 2017, quando venceu Wimbledon e três Masters 1000 com Lukasz Kubot. Em 2020, figurou confortavelmente no Top 5.

Ao lado de Lukasz Kubot, Marcelo Melo foi campeão de duplas masculinas do torneio de Wimbledon
Ao lado de Lukasz Kubot, Marcelo Melo venceu o torneio de duplas masculinas de Wimbledon

Estrutura do tênis brasileiro e o físico

A história de Marcelo Melo é ilustrativa por vários motivos. O primeiro é a questão das duplas como um “atalho” atlético.

Com mais de dois metros de altura, o tenista teria dificuldade em prosperar nos torneios de simples, por conta da agilidade e grande atleticismo dos adversários. Até por isso que a sua patrocinadora insistiu na migração de categoria.

Por mais que a condição de Melo seja específica, o motivo físico é bastante comum entre tenistas brasileiros que vão para as duplas.

É lugar-comum que a estrutura do tênis do Brasil é deficitária. A formação e captação de atletas é falha, o que acaba impedindo o surgimento de grandes potências físicas e técnicas do esporte.

Mas são as condições precárias de treino desde a juventude que de fato separa os jogadores daqui do alto desempenho físico da elite do tênis.

curiosidades marcelo melo
Marcelo é conhecido como ”Girafa” por sua altura

Nas duplas, essa excelência física não é tão necessária. A quadra, ainda que seja maior, é mais preenchida e as distâncias percorridas são mais curtas. Não que os duplistas não sejam grandes atletas, mas não mora na potência do atleta a diferenciação de um campeão.

O que importa mesmo nas duplas, além do entrosamento dos parceiros, é a técnica. Voleio, saque, recepção, todos aspectos que os talentosos tenistas brasileiros têm de sobra.

Falta, sim, dinheiro para custeio de viagens das competições, especialmente na transição entre as categorias juvenil e profissional. Dá para imaginar, assim, o porquê das duplas serem uma boa opção.

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Melo, Sá e Soares: as referências do tênis brasileiro

Só que Marcelo Melo e Bruno Soares não tomaram suas decisões de seguir suas carreiras como duplistas do nada. Antes deles, outro jogador daqui vinha fazendo sucesso na categoria.

André Sá é considerado o pioneiro dessa nova fase dos tenistas brasileiros em duplas. Sá chegou ao Top 20 em 2009 e foi parceiro de Guga num dos melhores desempenhos do Brasil na Copa Davis.

Ele foi uma referência clara para Melo e Soares, tendo até sido o parceiro do primeiro no início da carreira dele. Os dois chegaram a conquistar quatro títulos juntos.

melhores tenistas brasileiros andre sa
André Sá foi um dos melhores tenistas brasileiros da história

Simplistas e a “sombra” de Guga

Com maneira de conseguir uma melhor estrutura, com referências e conhecimento compartilhado na categoria, além de uma adaptação favorável ao seu talento natural, dá para entender a razão dos bons resultados dos tenistas brasileiros em duplas.

Traçando um paralelo, também é possível compreender as dificuldades dos “simplistas”.

O caso merece um texto próprio, mas imagine você enfrentar sozinho todos os desafios impostos aos atletas de tênis do Brasil, sejam eles físicos ou estruturais, e ainda ter a sombra de Guga em cada partida.

Thomaz Bellucci
Belucci chegou a ser o melhor tenista brasileiro no ranking de simples, mas seu rendimento caiu

Luisa, Bia e Carol: a nova geração do tênis brasileiro em duplas

Se Marcelo Melo e Bruno Soares tiveram a inspiração por meio de André Sá, os dois têm servido de referência para a nova geração de tenistas brasileiros.

Bia Haddad, Luisa Stefani e Carol Meligeni são as jovens com o melhor desempenho entre os atletas daqui. As duas últimas são até mais representativas para o momento das duplas, já que formaram a dupla que levou o bronze no Pan de 2019, em Lima, no Peru.

Luísa, que em 2020 chegou ao Top 40 do ranking de duplas da WTA, inclusive foi seguir carreira nas duplas por opção própria, e, claro, sob a influência do sucesso de Sá, Soares, Melo, Demoliner e outros que mostram um caminho possível para tênis brasileiro.

No US Open, ela alcançou uma campanha memorável, chegando até as quartas de final da edição de 2020. Em Roland Garros, foi até a terceira rodada.

No Aberto da França, outros jovens brasileiros se destacaram. Bruno Oliveira e Natan Rodrigues foram vice-campeões do torneio juvenil de duplas masculinas.

Títulos de tenistas brasileiros em duplas

Títulos do Brasil em Grand Slams em duplas masculinas

  • Roland Garros (2015) – Marcelo Melo /Ivan Dodig
  • Australian Open (2016) – Bruno Soares /Murray
  • US Open (2016) – Bruno Soares /Murray
  • Wimbledon (2017) – Marcelo Melo /Łukasz Kubot
  • US Open (2020) – Bruno Soares/Mate Pavic

Títulos do Brasil em Grand Slams em duplas femininas

  • Australian Open (1960) – Maria Esther Bueno/ Christine Truman
  • Roland Garros (1960) – Maria Esther Bueno/ Darlene Hard
  • Wimbledon (1958) – Maria Esther Bueno/ Althea Gibson
  • Wimbledon (1960, 1963) – Maria Esther Bueno/ Darlene Hard (2x)
  • Wimbledon (1965) – Maria Esther Bueno/ Billie Jean King
  • Wimbledon (1966) – Maria Esther Bueno/ Nancy Richey
  • US Open (1960, 1962) – Maria Esther Bueno/ Darlene Hard (2x)
  • US Open (1966) – Maria Esther Bueno/ Nancy Richey
  • US Open (1968) – Maria Esther Bueno/ Margaret Court

Melhores rankings de tenistas do Brasil em duplas

  • 1ª colocação: Marcelo Melo (2015 e 2017)
  • 2ª colocação: Bruno Soares (2016)
  • 17ª colocação: André Sá (2009)
  • 34ª colocação: Fernando Meligeni (1997)
  • 35ª colocação: Marcelo Demoliner (2017)
  • 37ª colocação: Guga (1997)
  • 32ª colocação: Luisa Stefani (2020)

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