Mesmo sem nunca ter conquistado um título sequer, Alex Smith ressignificou o que é vencer dentro da NFL e de todo o esporte.

Em menos de dois anos, o veterano quarterback do Washington Football Team recuperou-se de uma lesão que poderia ter acabado não só com a sua carreira mas também com a sua vida. E nos inspirou profundamente durante o processo.

No texto a seguir, o resultado: contamos a sua história, que vai além de sua lesão, e a sua batalha pelo seu esporte, pela sua paixão e pela sua vida.

Quem é Alex Smith

Alex Smith quarterback do Washington Redskins

Alexander Douglas Smith é um jogador profissional de futebol americano natural de Bremerton, Washington. Nascido no dia 7 de maio de 1984, desde 2018 ele atua como quarterback pelo Washington Football Team, uma das 32 franquias da NFL.

Até o fim de 2018, Alex Smith era conhecido por sua qualidade acima da média em sua posição e por ter sido a primeira escolha do draft de 2005. Dali em diante, porém, passou a ser lembrado também lesão severa que sofreu durante um jogo e pela sua posterior — e surpreendente — recuperação.

Alex foi três vezes eleito para o Pro Bowl (2013, 2016, 2017), foi líder em passes na NFL de 2017 e em 2004, em seu último ano como universitário, entrou na seleção All-American e foi considerado o melhor jogador de ataque da Conferência Leste.

O quarterback também tem alguns recordes em seu nome, seja por algumas dos times em que atuou, seja em toda a NFL. Na liga, por exemplo, fez um jogo perfeito em 2013 quando passou para cinco touchdowns e não foi interceptado, e quando fez 287 passes sem ser interceptado no começo da temporada de 2017.

Pelas franquias, os feitos se acumulam entre números de passes sem interceptação, de jardas corridas por jogador em sua posição e de aproveitamento geral de passes. A maioria são pelo Kansas City Chiefs, onde jogou entre 2013 e 2017.

A história de Alex Smith na NFL

Alex Smith san francisco

Alex Smith não foi exatamente um fenômeno universitário, mas fez barulho bastante em 2004 — 4º colocado no prêmio Heisman e eleito o melhor da Conferência Leste — para ser selecionado pelo San Francisco 49ers na primeiríssima escolha do Draft de 2005.

Em sete temporadas no time da Califórnia, Smith nunca conseguiu desempenhar o que sua posição no draft indicava.

Com exceção de 2006, em que foi o primeiro quarterback da história do time a participar de absolutamente de todos os snaps, e de 2011, quando acumulou três recordes diferentes na franquia e foi pela primeira vez aos playoffs, em nenhuma outra oportunidade atuou nas 16 partidas disputadas na temporada regular.

A carreira de Alex Smith na NFL começou a mudar quando ele foi envolvido numa troca com o Kansas City Chiefs, em 2013. Foi no time de Missouri que o quarterback enfim mostrou seu verdadeiro potencial.

Com a camisa 11, Smith começou em pelo menos 15 partidas em todas as suas cinco temporadas no KCC, que, sob sua regência só não foi aos playoffs em 2014.

Quando foi trocado para o na época Washington Redskins, em 2018, Alex tinha acumulado 3 Pro Bowls, 10 recordes na franquia de Kansas e outros dois na NFL. Chegou até a liderar a liga em aproveitamento de passes, em 2017.

Literalmente em casa, o quarterback começou muito bem a temporada de 2018. Em nove jogos, venceu seis e tinha a média de um passe para touchdown por partida. O desempenho se mantinha na décima partida, contra o Houston Texans.

A lesão de Alex Smith

Alex Smith sendo carregado após a lesão em 2018
(Reprodução)

Lá em 2005, Alex Smith completou o seu primeiro passe para touchdown da carreira profissional contra o Houston Texans. No dia de 18 de novembro de 2018, contra o mesmo adversário, toda a NFL achou que tinha dado o seu último.

Já era o terceiro quarto da partida, no quarto down, quando, após o snap do Washington — que perdia por 17 a 7 — Kareem Jackson conseguiu dar um enérgico tackle em Smith. Até aí todo certo.

O problema foi que, frações de segundo depois, o DE J.J Watt, de mais de 130 kg, somou-se ao sack. Na queda, a perna direita do quarterback fraturou-se severamente. No termo clínico, uma fratura dupla (e exposta) da tíbia e da fíbula.

Este vídeo mostra a lesão de Alex Smith contra o Houston Texans. As imagens são fortes.

As complicações na lesão e a luta de Alex Smith

Obviamente que o jogador saiu direto do estádio para o hospital. Lá, os médicos de plantão o tranquilizaram afirmando que era de fato uma lesão complicada mas de uma cirurgia relativamente simples. A operação ocorreu de maneira bastante comum.

O problema foi o pós operatório. É natural que após uma fratura exposta o operado tenha febre, por conta de pequenas infecções. No entanto, passadas mais de 50 horas, a temperatura de Alex Smith só subia e as dores só aumentavam.

Entre exames, testes, tratamentos e medicamentos, foi enfim descoberto o que é chamado de um estado séptico do atleta. Em outras palavras, uma bactéria que estava na corrente sanguínea e que pôde se reproduzir a partir da exposição da fratura. E ela era “simplesmente” necrófaga. Isso mesmo, ela comia a carne da perna direita de Alex.

Foi o momento mais delicado do tratamento do jogador. Entre febres altíssimas e o diagnóstico pouco claro, sua vida correu sim perigo. Mas foi somente a primeira parte.

Com a infecção ativa, mas relativamente controlada, o quadro de Alex Smith foi, para se ter noção, descrito como similar ao de uma explosão militar. Foram inclusive as técnicas e medicamentos desenvolvidos para tratar soldados que o salvaram. Mas não sem consequências.

Somadas a atuação das bactérias com as intervenções cirúrgicas para impedir sua proliferação, a parte média da perna direita do jogador estava completamente esfacelada.

Para reconstituí-la, os médicos tiveram que retirar tecido da parte inferior de sua perna esquerda, apesar do risco da operação não dar certo e o jogador ter de amputar a perna — e ainda ter o membro restante enfraquecido.

Um risco, é bom dizer, tomado pelo próprio atleta em nome de uma remota possibilidade de retorno à NFL.

Vá além do Futebol Americano:

O retorno de Alex Smith à NFL

Alex Smith durante treino do Wahsington Football Team
(Reprodução)

O retorno sempre esteve na mente de Alex Smith. Na verdade, ele nunca chegou a se desligar da liga e do time. Ora, no caminho do FedEx Field para o hospital ele perguntava da formação da equipe após a sua saída, preocupado com o desempenho de seu substituto.

Voltar a jogar, por mais difícil que fosse, era o combustível de Alex durante todo o processo. Ele, por exemplo, optou por arriscar a reconstituição de sua perna direita a partir do tecido da perna esquerda para não ter de retirar de uma região de sua lombar que é essencial para os lançamentos.

Não se engane, o apoio de seus familiares — até a sua filha de 2 anos auxiliava a mãe na hora de medicar o pai — e o suporte do Washington foram essenciais. Mas é difícil imaginar que Alex Smith suportasse 17 intervenções cirúrgicas em nove meses sem essa luz ao fim do túnel.

Suportar talvez seja diminuir o que Alex fez nesse período. Ele superou, isso sim, diversos desafios. Risco de vida, de amputação, de nunca mais andar e de nunca mais jogar.

Sua situação era tão complicada que, enquanto se recondicionava fisicamente, os especialistas da NFL tinham dificuldade em estimar um retorno: simplesmente não existiam casos similares para se basear.

Eis que em março de 2020, em meio às incertezas da temporada de 2020/2021, Alex Smith foi liberado para retornar aos treinos da pré-temporada do Washington Football Team. Foi mais que uma superação; foi uma vitória.

O primeiro jogo de Alex Smith após a lesão

Alex Smith em atuação na NFL 2020
(Brad Mills/USA TODAY Sports)

A vitória de simplesmente voltar ao elenco de 53 jogadores do Washington Football Team já era grande o bastante para Alex Smith. Afinal, ele era naaquela altura um quarterback de 36 anos que ficou quase duas temporadas parado e tinha ainda dois jovens jogadores à sua frente na corrida pela titularidade.

Então, no dia 11 de outubro de 2020, na semana 3 da NFL, aparece a oportunidade. No fim do primeiro tempo da partida do Washington contra o Los Angeles Rams, o QB titular Kyle Allen teve uma pancada no braço que o tirou momentaneamente da partida.

O técnico Ron Rivera não teve um pingo de dúvida e mandou Alex Smith para a partida. O camisa 11 jogou todo o segundo tempo, mesmo com o titular já apto para o retorno ao campo.

No primeiro snap, Alex já fez um passe de seis jardas. No 3º, foi derrubado por Aaron Donald. A primeira partida do quarterback, no geral, foi boa.

Não o bastante para impedir a vitória do Rams por 30 a 10, sim, mas suficientemente convincente para alçá-lo oficialmente à condição de reserva imediato. E para eternizá-lo na história da NFL e de todo o esporte mundial.

O documentário sobre Alex Smith

A história de Alex Smith é inspiradora, emocionante até. Seu roteiro quase cinematográfico não teve outro desfecho senão a produção de um filme para reproduzi-lo. A ESPN dos EUA produziu “Alex Smith: Project 11″, que remonta a carreira e a luta do jogador, da maca do hospital para dentro do campo.

Times de Alex Smith

  • Washington Football Team (2018-2020)
  • Kansas City Chiefs (2013-2017)
  • San Francisco 49ers (2005-2012)

Estatísticas de Alex Smith

  • Passes para touchdown: 193
  • Passes interceptados: 101
  • Jardas em passes: 34.105
  • Aproveitamento: 62,3%
  • Rating: 82,1
  • Jardas percorridas: 2.602
  • Touchdowns corrido: 15

Curtiu a história de Alex Smith na NFL? Então aproveite para ler mais conteúdos sobre futebol americano:

*Última atualização em 11 de setembro de 2023