A Era Parmalat mudou a história do Palmeiras na década de 1990, com pouco menos de 10 anos de parceria. O clube conquistou diversos títulos e contou com grandes equipes montadas, com craques do gabarito de Rivaldo, Roberto Carlos, Cafú, Djalminha e outros.

Foram muitas conquistas, entre elas, títulos do Brasileirão, da Copa do Brasil e da Libertadores. O modelo de gestão compartilhada entre o clube e a empresa Parmalat inspirou futuras parcerias entre empresas e clubes tradicionais no Brasil.

Outro ponto importante, foi a popularização do cargo de Diretor Executivo de Futebol, que nos dias de hoje, são essenciais para os clubes de elite no Brasil. A forma que a parceria encontrou de formar equipes competitivas foi formar times para ciclos de dois anos.

Essa ideia surgiu por conta das recorrentes vendas de jogadores para o exterior e funcionou muito bem, já que com as vendas, o clube e sua parceira continuavam conseguindo montar equipes competitivas e seguiram vencendo torneios.

Dentre as equipes montadas na Era Parmalat, qual delas foi a melhor? O time de 1994, que foi bicampeão brasileiro? A equipe de 1996, que marcou mais de 100 gols e foi campeã paulista? Ou o time comandado por Felipão, que venceu a Libertadores de 1999?

Abaixo traremos as principais informações de cada uma dessas equipes, com os títulos conquistados, os principais destaques, as campanhas e números. Após a leitura, tire suas conclusões e debata com seus amigos!

O Palmeiras de 1993-1994

Foto do time do título do Palmeiras no Campeonato Paulista de 1993
A tradicional foto do título do Campeonato Paulista de 1993

Time-base

Velloso (Sérgio); Cláudio (Mazinho), Cléber, Antônio Carlos e Roberto Carlos; César Sampaio, Flávio Conceição (Amaral), Zinho, Rivaldo (Edílson); Edmundo e Evair.
Técnico: Vanderlei Luxemburgo.

A Campanha

Tendo início em 1992, a Era Parmalat só foi dar frutos no ano seguinte, após reformulação do elenco, algumas referências da década de 1980 saíram da equipe, como o zagueiro Toninho Cecílio e o meia Edu Marangon.

Nomes como: o goleiro Velloso, o lateral Mazinho, os meias César Sampaio e Zinho e o atacante Evair formaram a base do time que foi bicampeão paulista e do Brasileirão em 1993 e 1994.

Outros nomes chegaram para reforçar a equipe, entre eles, Antonio Carlos e Cléber para a zaga, Cláudio e Roberto Carlos para as laterais e Edmundo e Edílson para o ataque, esse último, sendo um pedido pessoal do presidente da Parmalat no Brasil, Gianni Grisendi

Vanderlei Luxemburgo teve seu primeiro grande trabalho na carreira e se tornou um dos principais técnicos do país após passagem pelo Palmeiras, tendo chegado a equipe apenas em abril de 1993, já no segundo turno do Paulistão.

O “Pofexô” substituiu Otacílio Gonçalves, campeão da Série B de 92 e que foi demitido depois de uma sequência de derrotas diante do Vitória, na Copa do Brasil, e para o Mogi Mirim de Rivaldo e de Vadão, que ficou conhecido como “Carrossel Caipira”.

Com Luxemburgo, o Verdão deslanchou. O treinador pôs o time para jogar com a bola no chão, soltou os laterais Roberto Carlos e Mazinho (um coringa que oscilava entre a ala e o meio nas escalações) e fez os jogadores mais leves e habilidosos — Zinho, Edílson e Edmundo — girarem em torno de Evair, que fazia um pivô de primeira categoria.

Logo na primeira partida sob nova direção, o Palmeiras reagiu e superou o Vitória na Copa do Brasil, mas foi eliminado pelo Grêmio na fase seguinte. Tudo bem, o foco era no Paulista e em acabar com a fila de títulos que chegava a 17 anos naquele momento.

No Estadual, o time emendou uma sequência de 11 vitórias em 12 jogos com Luxemburgo, uma campanha que rendeu uma vaga para a final. O adversário era o Corinthians, justamente a única equipe que tinha derrotado o Palmeiras na arrancada da classificação.

O fim da fila e o domínio

A final do Paulista de 1993 é um dos momentos da história mais lembrados pelo torcedor palmeirense.

A derrota no primeiro jogo, a clássica provocação do porco de Viola, a vitória por 4 a 0 na volta, o pênalti de Evair, o fim da fila contra o maior rival… Enfim, foi tanta história que fizeram até um documentário sobre o título.

O fim da seca de certa forma libertou o Palmeiras, que passou a aliar o ótimo elenco e o bom futebol com uma notável confiança em campo.

Tanto foi que o time paulista conquistou as outras duas competições que disputou naquele ano, a Copa Rio-São Paulo, novamente batendo o Corinthians nas finais, e o Campeonato Brasileiro, numa campanha impecável de 16 vitórias em 22 jogos e duas vitórias nas finais contra o Vitória do goleiro Dida e do atacante Alex Alves.

Em 1994, o Verdão repetiu a dose. Reforçado do colombiano Rincón no meio campo e do goleiro Gato Fernández, o time repetiu a boa campanha de 1993 e conquistou o bicampeonato paulista, que foi disputado por pontos corridos. Foram 20 vitórias e sete empates em 30 jogos.

Entre o Estadual e o Brasileiro, o Palmeiras disputou uma série de torneios alternativos e amistosos, como a Copa Bandeirante e a Taça Lev Yashin, disputada na Rússia.

Uma dessas competições foi logo antes do jogo decisivo das oitavas de final da Libertadores, contra o São Paulo. A “excursão” até hoje tida pelo torcedor como responsável pela derrota para o rival tricolor, que defendia o bicampeonato continental. Na Copa do Brasil, outro insucesso, dessa vez para o Ceará nas quartas de final.

No Brasileirão, a equipe de Luxemburgo voltou a brilhar. Sem Edílson, mas com todo o talento de Rivaldo, o alviverde conquistou o bicampeonato em mais uma final contra o Corinthians, vencendo o primeiro jogo por 3 a 1 e empatando a volta em 1 a 1.

O Palmeiras de 1993 e 1994 é lembrado até hoje como o time que não só pôs o fim à uma fila de 17 anos, mas também como o que deu a partida para o domínio do clube paulista na década, o que repetiu o feito da Academia dos anos 60 e 70 com a dobradinha nos brasileiros e o que fez tudo isso jogando um futebol de alto nível.

Títulos do Palmeiras de 1993-1994

  • Campeonato Paulista (1993, 1994)
  • Campeonato Brasileiro (1993, 1994)
  • Copa Rio-São Paulo (1993)
  • Torneio Lev Yashin (1994)
  • Torneio Brasil-Itália (1994)

O Palmeiras de 1996

A foto do título do Campeonato Paulista de 1996
A foto do título do Campeonato Paulista de 1996

Time-base

Velloso; Cafu, Sandro, Cléber e Júnior; Amaral, Flávio Conceição, Djalminha e Rivaldo; Müller e Luizão.
Técnico: Vanderlei Luxemburgo

A Campanha

O título Brasileiro de 1994 decretou o fim do biênio vitorioso. Quem não saiu ao fim daquele ano — casos de Mazinho e Rincón, que foram para a Europa, e César Sampaio, Zinho e Evair, que foram todos para o time que hoje é o Yokohama F.C, do Japão — o fez no decorrer do Paulista do ano seguinte, como Roberto Carlos e Edmundo.

O ano de 1995 foi de transição, mas não foi uma total decepção, ainda se somarmos o desmonte do time titular com a saída do técnico Vanderlei Luxemburgo.

Ficou a base defensiva do bi (Antônio Carlos, Cléber, Amaral e Flávio Conceição) e Rivaldo. Eles receberam a companhia de um jovem Cafu e de um já veterano Müller.

O elenco foi suficiente para chegar à final do Paulistão, perdida para o Corinthians, e para fazer as épicas quartas de final da Libertadores contra o Grêmio.

Na ida, o Tricolor de Roger Machado, Paulo Nunes, Jardel e do professor Luiz Felipe Scolari, venceu por 5 a 0. Na volta, o time gaúcho abriu o placar aos oito minutos e viu o adversário paulista virar para 5 a 1 e ficar a um gol dos pênaltis.

A campanha do Brasileiro de 95 foi irregular, mas serviu para o time reintroduzir Vanderlei Luxemburgo ao comando e para descobrir a dupla Djalminha e Luizão, do Guarani, que foram contratados no fim do ano.

O ataque dos 100 gols

A saída do zagueiro Antônio Carlos ao fim de 95 e a chegada do lateral esquerdo Júnior no começo de 96 finalizaram a montagem do time que seria conhecido como o Ataque dos 100 gols.

Luxemburgo armou um esquema que usava muito da base do bi brasileiro de 1994. Sandro e Cléber, na defesa, e Amaral e Flávio Conceição, no meio, seguravam o piano; o resto atacava. Cafu e Júnior avançavam muito pelas laterais e Djalminha e Rivaldo se mexiam entre o meio e o ataque.

A principal mudança era na grande área. Müller, mais experiente, jogava como um segundo atacante, mas fazendo o pivô e servindo quem chegava do meio e da lateral. Luizão reinava na pequena área para completar os passes, cruzamentos e rebotes de um sistema ofensivo muito produtivo.

Essa equipe conquistou o Campeonato Paulista de 1996, sendo derrotada somente uma vez, para o Guarani. No restante das equipes, o Palmeiras passou o trator. Em 30 jogos, 102 gols marcados numa média superior a três gols por partida — 3,4, para ser exato.

Para se dimensionar o futebol jogado por aquele time, vale lembrar que o Santos de 2010, aquele de Robinho, Neymar e Ganso, marcou 72 gols em 23 partidas, o que resulta em 3,1 gols por jogo.

Foi justamente sobre o Santos que aconteceu a vitória mais marcante desse time, um 6 a 0 em plena Vila Belmiro.

A mesma facilidade do Paulista era vista na Copa do Brasil. O Verdão fez 26 gols entre a 2ª fase e a final e só foi derrotado duas vezes, no jogo de volta das semis, contra o Grêmio, e também no jogo de volta da final, quando perdeu o título para o Cruzeiro.

Foi difícil segurar as estrelas de uma equipe com tamanho desempenho e, após a Copa do Brasil, a saída de Rivaldo deu partida no desmanche do time. Antes, Müller já tinha ido para o São Paulo.

Cafu, Djalminha e Luizão ficaram até o fim do ano, quando o Verdão caiu nas quartas de final do Campeonato Brasileiro para o Grêmio, mas já estavam de malas prontas para a Europa.

O Palmeiras do Ataque dos Cem gols foi de fato fulminante. Um período intenso, devastador e infelizmente curto. Mas também histórico. Uma equipe marcante ao ponto de estar na prateleira das grandes da história do clube, mesmo com um só título conquistado.

Títulos do Palmeiras de 1996

  • Campeonato Paulista (1996)
  • Taça Jihan (1996)
  • Taça Xangai (1996)

O Palmeiras de 1998-1999

Foto do título da Libertadores de 1999
Foto do título da Libertadores de 1999

Time-base

Marcos (Velloso); Arce (Rogério) Júnior Baiano, Roque Júnior (Cléber), Júnior; César Sampaio, Galeano, Zinho e Alex; Paulo Nunes e Oséas (Evair).
Técnico: Luiz Felipe Scolari

A Campanha

O ano de 1997 foi bastante similar ao de 1995, no sentido de ser um bem-sucedido ano de transição. O desmonte do Ataque dos 100 gols foi completo ao fim do Paulistão e, mesmo assim, o Palmeiras chegou à final do Campeonato Brasileiro e às semis da Copa do Brasil.

O Verdão terminou aquele ano já com Luiz Felipe Scolari no banco de reservas e boa parte do time campeão da Libertadores de 1999, com Rogério, Zinho, Alex, Oséas e Euller. Roque Júnior, Cléber e Galeano já integravam o elenco desde antes.

Em 1998, esses jogadores já formavam o time-base da temporada, já reforçados do lateral direito Arce e do atacante Paulo Nunes.

O futebol sob o comando de Felipão era diferente, com mais vibração, menos ofensividade e a parte técnica mais voltada aos esforços individuais, principalmente por parte dos meias Alex e Zinho.

Em fevereiro, o time mostrou a aptidão daquele estilo de jogo, indo para a final da Copa Rio-São Paulo e derrotado apenas nos pênaltis pelo São Paulo de Dodô, Denílson, França e Marcelinho Paraíba. O Tricolor também derrotou o Alviverde nos dois jogos das semifinais do Paulistão.

Se o São Paulo foi o grande adversário do primeiro semestre, no segundo esse posto pertenceu ao Cruzeiro. Foram quatro decisões com o time mineiro. A mais importante, claro, foi a da Copa do Brasil, vencida pelo Palmeiras com um gol de Oséas no último minuto.

O final do calendário do futebol brasileiro em 1998 viu nada menos que seis jogos consecutivos entre Palmeiras e Cruzeiro. Na época, a moda eram as decisões em melhor de três.

As três primeiras partidas aconteceram pelas quartas de final do Campeonato Brasileiro. Os mineiros levaram a primeira, por 2 a 1, e os paulistas repetiram o placar na segunda. No terceiro confronto, o Cruzeiro vingou a Copa do Brasil com um gol aos 43 do segundo tempo.

Terminados os compromissos nacionais, foi a vez da final da Copa Mercosul. A Raposa, novamente, saiu vencedora do primeiro jogo, novamente por 2 a 1. Mais uma vez o Verdão igualou a disputa, dessa vez com um 3 a 1 no Parque Antártica.

A última partida do ano foi uma indicação do aconteceria no meio do ano seguinte: muito disputada e com o Palmeiras comemorando um título continental diante da sua torcida.

A Família Scolari conquista a América

O únicos reforços significativos para a equipe de 1999 foram o zagueiro Júnior Baiano e o retorno de Evair. Nem Palmeiras, nem Parmalat nem Felipão viam a necessidade de modificar um time campeão de dois torneios no ano anterior.

Tinha ainda a questão econômica. A grana da empresa da laticínios estava começando a minguar e os investimentos não eram e nem seriam mais os mesmos. E olha que o Verdão começou com três pancadas na cabeça na Rio-São Paulo: 5 a 1 para o Vasco, 3 a 1 para o Santos e 4 a 0 para o Fluminense.

A situação só começou a melhorar mesmo depois da vitória contra o Corinthians na fase de grupos da Libertadores, por 1 a 0. Dali em diante, a “Família Scolari” engatou uma sequência que os levou a disputar duas finais e duas semifinais em 15 dias.

No meio de junho, o Palmeiras largou sua quinzena decisiva nas semifinais do Paulistão contra o Santos, vencida com um 2 a 2 no agregado e a vantagem pela melhor campanha.

Em seguida, o jogo de volta das semis da Copa do Brasil contra o Botafogo de Bebeto e Sérgio Manoel. Deu Fogão nos pênaltis, após o 1 a 1 no tempo regulamentar. O clima ficou pesado na sequência, com a derrota para o Corinthians no primeiro jogo da final do estadual.

Depois foi a vez da finalíssima da Libertadores, contra o Deportivo Cali. O jogo de ida, no qual os comandados de Scolari foram derrotados na Colômbia por 1 a 0, foi antes do início das semis do Paulista.

Na volta, um time que tinha batido o campeão da edição anterior (Vasco) nas oitavas, passado pelo então campeão brasileiro (Corinthians) nas quartas e goleado um dos gigantes da Argentina (River) nas semis não iria deixar barato. O Verdão venceu por 2 a 1 e conquistou a Libertadores nos pênaltis.

Nem deu muito tempo para comemorar. Quatro dias depois, o Palmeiras foi tentar a missão impossível de devolver o 3 a 0 do Corinthians na finalíssima do Paulistão. O jogo foi encerrado com a antológica briga no gramado depois da embaixadinha de Edílson. O placar ficou em 2 a 2. Título para o Timão.

O restante do ano foi um pouco mais tranquilo, mas não sem decisões. O time não conseguiu se classificar para a fase final do Campeonato Brasileiro, mas seguiu até a final da Copa Mercosul.

O fim de 1999 foi um tanto melancólico, com as perdas da Mercosul, para o Flamengo, e do Mundial Interclubes, para o Manchester United.

As derrotas, no entanto, não tiraram o brilho das conquistas da talvez mais copeira das equipes do Palmeiras. Um grupo que chegou a infindáveis decisões, que colecionou jogos antológicos e recuperações inacreditáveis. E deu ao clube o título do torneio que ele mesmo chama de obsessão.

Títulos do Palmeiras de 1998-1999

  • Copa do Brasil (1998)
  • Copa Mercosul (1998)
  • Copa Libertadores (1999)

O fim da Era Parmalat no Palmeiras

As conquistas da Família Scolari fecharam com chave de ouro uma década de glórias para o Palmeiras e uma parceria de sucesso com a Parmalat. Em 2000, a empresa de laticínios entrou em falência e foi interrompendo suas ações no futebol durante o ano.

A co-gestão terminou oficialmente no dia 31 de dezembro, mas os investimentos já vinham minguando no decorrer da temporada. Ainda assim, a Parmalat se despediu do Palmeiras com os vices da Libertadores e da Copa Mercosul e o título da Copa dos Campeões.

Em 2001, ainda com os respingos do time de 1999 e 2000, o Verdão conseguiu chegar até as semifinais da Libertadores. O problema foi em 2002, quando não conseguiu resistir à crise financeira e caiu para a Série B.

Se a Era Parmalat inspirou outras parcerias no futebol brasileiro, seu fim não ensinou muitas lições aos clubes. O Corinthians, por exemplo, fez um caminho muito similar com a MSI; o Fluminense também ficou quebrado depois da saída da Unimed.

No novo momento do futebol brasileiro, continuam os aportes financeiros privados aos times. Mas agora eles tem um caráter mais pessoal, como Paulo Nobre e depois Leila Pereira e a sua Crefisa no Palmeiras e, mais recentemente, Rubens Menin e a MRV no Atlético Mineiro.

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