Você provavelmente não deve ter ouvido falar de Wally Triplett. Mas certamente sabe que, para termos o futebol americano como conhecemos, pessoas como ele existiram.

Wally foi o primeiro homem negro draftado pela NFLa de fato jogar no campeonato. Além romper uma das barreiras dentro da liga, o running back colecionou casos de luta contra o racismo e a segregação racial vigente nos EUA nos seus anos de atleta.

Contamos a sua história no texto a seguir, para que seu pioneirismo e a sua importância não sejam só reconhecidos mas também lembrados.

Quem é Wally Triplett?

Wally Triplett jogou por Lions e Cardinals
(Reprodução/Detroit News Photo Archive)

Wallace Triplett é um ex-jogador profissional de futebol americano natural de La Mont, no estado da Pensilvânia. Nascido em 1926 e falecido em 2018, atuou na NFL entre 1949 e 1953.

“Wally”, como era chamado, foi um pioneiro da integração nos esportes norte-americanos, sendo o primeiro homem negro draftado e utilizado na NFL e também um dos primeiros a entrar em campo no College Football.

Onde Wally Triplett jogou no futebol americano universitário?

Wally Triplett jogou nos Nittany Lions, o time da Penn State University, a Universidade Estadual da Pensilvânia. Triplett atuou entre 1946 e 1948.

Quando Wally Triplett foi draftado na NFL?

Wally Triplett foi draftado na NFL em 1949, pelo Detroit Lions. Foi a primeira escolha da 19ª rodada — na 183ª posição, para ser mais exato.

Em quais times Wally Triplett jogou na NFL?

Wally Triplett jogou em dois times da NFL. Entre 1949 e 1950, atuou pelo Detroit Lions, totalizando 18 partidas. Depois foi a vez de usar a camisa do Chicago Cardinals (Atual Arizona Cardinals) entre 1952 e 1953, mas entrando em campo somente em seis oportunidades.

Existe um filme sobre Wally Triplett?

Em março de 2021 foi confirmada a produção de um filme sobre a vida de Wally Triplett, focado principalmente em seu tempo na Penn State University, com gravações no campus e escrito por Camille Tucker, roteirista experiente e Hollywood.

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História de Wally Triplett

Wally Triplett recebeu uma bolsa da PSU

A história de Wally Triplett começa com uma carta. Duas, na verdade, endereçadas à sua casa de infância e juventude na Philadelphia. Wally morava com os pais no lar do treinador do time de futebol americano de seu colégio, onde o jovem arrebentava, claro.

Localizada nos ricos subúrbios da cidade, a casa deve ter confundido os recrutadores da Universidade de Miami, que se impressionaram com os números do prospecto de Philly e o enviaram um convite para aceitar uma bolsa de estudos para jogar na instituição em 1946.

“Só para vocês saberem, eu sou negro”, ele teria respondido, sabendo que a faculdade, assim como a maior parte do país, era segregada. De fato, a Universidade assumiu que um homem negro não moraria em tão rico lugar e retirou, via uma segunda carta, a bolsa antes oferecida.

Wallu guardou a carta pelo resto de sua vida, como que para comprovar que o pessoal de Mimai estava errado. Mas ele demorou bem pouco para provar isso.

Semanas após a recusa, o jovem foi aprovado, por méritos acadêmios, para a Senatorial Scolarship, uma bolsa de estudos governamental. A escolha foi usá-la no próprio “quintal”, a Universidade da Pensilvânia.

Wally Triplett no College Football

A Penn State era um local um tanto mais progressista que Miami, especialmente o time de futebol americano e seu técnico, Bob Higgins. Anos antes, ambos já tinham selecionado um jogador negro para a equipe, Dave Alston, que infelizmente faleceu ainda jovem, por complicações após uma cirurgia.

Ainda assim, Wally Triplett e seu amigo Dennis Hoggard, que também conseguiu uma bolsa, foram um dos pioneiros  da integração em PSU.

Wally, como era de se esperar, manteve o desempenho do high school  no college. Mais ágil e astuto do que muito alto, rápido ou forte, se consolidou como um running back especialista em retornos de kickoffs.

A habilidade o faria se destacar no esporte mais para frente. Outras histórias que o eternizaram, porém.

A recusa do time de 47

Wally Triplett sempre foi inteligente e principalmente ciente de sua luta. Militante, chegou a mobilizar um protesto contra a exclusão de homens negros das barbearias próximas à universidade  e também a provar a discriminação de um dos professores do curso em suas avaliações.

Quis o destino (ou a história) que ele encontrasse e inspirasse um time com a mesma consciência.

Em 1947, Wally já era um sophomore  e parte integral do time quando veio, novamente, a Universidade de Miami em sua vida — e na tabela do campeonato. Como era de praxe em confrontos entre faculdades segregadas e segregadas, as adeptas da separação exigiam que os jogadores negros fossem excluídos das partidas.

Mas a equipe de 1947 da PSU não era como as outras. Repleta de veteranos da Segunda Guerra Mundial e de trabalhadores de minas de carvão, que experimentaram a integração nas condições mais extremas, o grupo optou por ir além do esporte e se recusar a jogar sem a presença de Wally e Dennis.

O Cotton Bowl Integrado

Havia espaõ para mais quebras de barreiras pela equipe de Penn State. No ano seguinte, Wally, Dennis e o time simplesmente integraram, na marra, o Cotton Bowl, tradicional jogo festivo mas compeititvo disputado no Texas, um dos estados de maior tensão racial nos EUA.

Se contra Miami os líderes brancos precisaram se reunir para tomar a decisão histórica, contra os SMU Mustangs sequer houve discussão. A posição de PSU era clara e até apoiada pelo técnico adversário.

Para dar um toque de dramaticidade na história toda, foi de Wally Triplett o touchdown que empatou a partida em 13 a 13, o resultado final.

Wally Triplett na NFL

Depois dos anos de luta em Penn State, Wally Triplett deu o passo seguinte ao ser draftado pelo Detroit Lions, da NFL, em 1949.

Aqui é importante deixar algo claro: Wally não foi o primeiro homem negro a jogar a NFL, esse foi Kenny Washington, em 1946; também não foi o primeiro a entrar no Lions, sendo Bob Mann o pioneiro no caso; sequer foi o primeiro draftado, que foi George Taliaferro, ou mesmo o primeiro escolhido na turma de 1949.

Mas Triplett foi o primeiro draftado a assinar um contrato e jogar. O draft, na época, não era garantia de nada e Wally se provou mesmo em um ambiente ainda segregado e numa liga que, no geral, não o queria.

Sem falar que o jogar fez o que hoje é o caminho tradicional e ideal, aliando estudos e esporte no colegial e na universidade e colhendo, enfim, os frutos na NFL.

Guerras e recordes

Seus feitos não param por aí. Triplett foi um produtivo running back dos Lions. Estabeleceu, por exemplo, o recorde de jardas devolvidas em uma partida (249), que durou 44 anos e hoje é ainda a maior marca da franquia e a segunda maior da história da liga.

Já a sua média de 73,8 jardas por retorno, alcançada numa partida contra o Los Angeles Rams, segue imbatível.

Foram dois bons anos de Wally pelo Lions, até que foi, curiosamente, o primeiro jogador da NFL a ser convocado para a Guerra da Coréia. Deixou a liga em 1950 e voltou em 1952, já pelo Chicago Cardinals, onde jogou apenas seis partidas antes de se aposentar, aos 27 anos, em 1953.

Memória e legado de Wally Triplett

Wally Triplett seguiu um ativista até o fim da vida

Wally Triplett viveu uma vida pacata após a aposentadoria da NFL, o que não foi um grande trauma, aparentemente. No fim, disse que gostava mais de futebol do que de futebol americano e queria mesmo era ser professor — o que, determinado como era, também o fez.

Conforme foi envelhecendo e seu país lentamente evoluindo em sua questão racial, Wally foi ganhando reconhecimento, ao menos para a comunidade de Penn State, onde virou uma figura reverenciada e requisitada para eventos e palestras.

Faleceu em 2018, ainda com a carta da Universidade de Miami entre seus pertences, mas com toda uma vida de luta como verdadeiro legado.

Estatísticas de Wally Triplett

  • Partidas: 24
  • Pontos marcados: 24
  • Jardas retornadas: 664
  • Touchdowns: 1
  • Recepções: 17
  • Jardas percorridas: 321
  • Jardas recebidas: 175
  • Fumbles: 5

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*Última atualização em 20 de abril de 2021

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Autor Lucas Ayres

Jornalista formado pela UNESP, foi repórter da Revista PLACAR. Cobriu NBB, Superliga de Vôlei, A1 (Feminino), A2 e A3 (Masculino) do Campeonato Paulista e outras competições de base na cidade de São Paulo. Fanático por esportes e pelas histórias que neles acontecem, dos atletas aos torcedores.