A longevidade no esporte é, sem dúvida, um dos maiores desafios que os atletas enfrentam. A pressão para continuar, mesmo quando os sinais do corpo começam a mostrar desgaste, é uma constante na maioria das modalidades.
Jon Jones, um dos maiores nomes da história do MMA, levantou recentemente uma questão importante sobre essa cultura, em que atletas se tornam prisioneiros da própria indústria esportiva.
Em uma entrevista reflexiva a ESPN, o lutador abordou a aposentadoria precoce e a falta de autonomia dos atletas para decidirem quando é o momento de se retirar.
Para Jones, não deveria ser necessário esperar o “declínio” para tomar essa decisão.
Você vê o Jordan quando quis voltar para os Wizards, a última memória é o declínio. Caras como Anderson e Liddell não conseguiam tomar um soco no final da carreira.
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Jon Jones detona aposentadoria tardia e cultua mentalidade do “suficiente”
Jon Jones, que carrega uma carreira repleta de títulos e vitórias, tem refletido sobre o futuro de sua trajetória no UFC.
Ao contrário de muitos atletas que esperam que o tempo ou a pressão de patrocinadores e fãs determine o fim de suas carreiras, Jones acredita que os atletas deveriam ter o poder de decidir por si mesmos quando é o momento de pendurar as luvas.
Em suas palavras, ele expressou uma frustração com a maneira como a indústria do esporte lida com a aposentadoria dos atletas:
Eu só quero começar um novo tipo de precedente com atletas, que você não precisa ser mastigado e cuspido pela indústria que trabalha. É ok você pegar a bola e ir para casa sem estourar seu joelho.
A crítica é clara: muitos atletas se veem obrigados a continuar sua jornada por pressão externa, seja pela fama, pelo dinheiro ou pela expectativa dos fãs. Mas, para Jones, essa não deveria ser a regra.
Todos vamos questionar se eu parei muito cedo. Ao mesmo tempo, sinto que, na cultura do esporte, vários atletas não param em seus próprios termos.
Ele defende que os atletas devem ser capazes de se retirar quando sentirem que “fizeram o suficiente” e não quando a indústria ou outros fatores os empurrarem para isso.
O risco de manchar o legado ao continuar no esporte além da conta
Ao comparar as trajetórias de outros atletas, Jon Jones destacou os casos de grandes nomes como Michael Jordan, Anderson Silva e Chuck Liddell.
Para ele, esses exemplos mostram os perigos de se prolongar no esporte até o ponto em que a performance não é mais a mesma, ou pior, o corpo começa a falhar.
Em um momento da entrevista, ele citou Jordan, que retornou ao basquete após uma pausa e jogou pelos Washington Wizards, uma fase da sua carreira que ficou marcada por um desempenho aquém do esperado.
Você vê o Jordan que quis voltar e foi um jogador médio de beisebol e depois um jogador médio com os Wizards. Essas são algumas das últimas memórias que você tem dele, em declínio.
Jones faz uma reflexão interessante sobre a forma como o retorno de Jordan às quadras dos Wizards poderia ter manchado sua imagem na lendária trajetória nos Chicago Bulls. Para o campeão de MMA, essa é uma lição clara: prolongar uma carreira pode resultar em perdas irreparáveis, seja em termos de legado ou da saúde do atleta.
O risco no MMA é ainda maior, aponta Jon Jones
A comparação com o caso de Anderson Silva, ex-campeão dos médios do UFC, também foi pertinente. Silva, que dominou o MMA por anos, viu sua carreira tomar um rumo triste quando, no fim, começou a sofrer derrotas dolorosas, e seus reflexos e resistência física se deterioraram.
Anderson Silva, caras como Chuck Liddell, que não conseguiam tomar um soco no final da carreira. Mas um jogador de basquete perde vários jogos de qualquer jeito. Você viu o Jordan e LeBron perderem.
Como um lutador de MMA, quando você consegue ir tão longe, a aposta é muito maior. Você está arriscando suas células do cérebro. É algo neurológico que você tem que levar a sério.
Jones reflete sobre o quanto os atletas se prejudicam ao prolongar suas carreiras além do necessário. No caso do Spider, por exemplo, foi nitidamente derrotado por consequência de uma idade avançada e do desgaste físico do esporte.
O lutador é firme ao afirmar que, para um atleta de MMA, a retirada precoce, quando ainda se está no auge, é uma maneira de proteger não apenas o legado, mas também a saúde a longo prazo. A pressão para continuar a lutar, muitas vezes, vem de fora, mas o preço que o atleta paga pode ser muito alto.
A decisão de Jon Jones em se aposentar por conta própria está próxima?
A decisão de se aposentar é uma das mais difíceis na vida de qualquer atleta. Para Jon Jones, essa decisão deve ser baseada no que o próprio atleta sente, em vez de esperar sinais de uma indústria que muitas vezes está mais preocupada com a exploração da imagem do que com o bem-estar do indivíduo.
Em sua reflexão, ele foi claro sobre como, mesmo com uma carreira cheia de vitórias, ele tem ponderado sobre o futuro:
Sinto que estou debatendo se vou me aposentar ou não. Realmente, não sei se vou me aposentar ou não. Sinto que vou basear a decisão de me aposentar ou não na minha performance.
Ao levantar essa questão, Jon Jones não só critica a cultura esportiva de forma geral, mas também oferece uma nova perspectiva para os futuros atletas.
O GOAT defende que é possível ser bem-sucedido e, ao mesmo tempo, consciente dos limites do corpo e da mente. Saber quando parar é tão importante quanto saber lutar.
Tudo bem dizer: ‘Fiz o suficiente. Sou o suficiente. Estou orgulhoso de tudo que fiz'. Eu apostei meu status várias e várias vezes. 16 vezes lutei contra o nº 1 do mundo. E ganhei todas. Quando é o suficiente? Quando eu posso pegar minhas fichas e sacar o dinheiro?
Coordenador do Esportelândia desde 2021, é jornalista pós-graduado em Jornalismo Esportivo. Autor do livro “Os Mestres do Espetáculo”, que está na biblioteca do Museu do Futebol de São Paulo. Passou por Jovem Pan, Futebol na Veia e PL Brasil.