A série The Last Dance foi um fenômeno cultural e de audiência, atualizando o debate sobre a dinastia do Chicago Bulls e a NBA como um todo. Como toda boa história, também deixou as pessoas curiosas com o passos seguintes dos seus personagens, especialmente o tempo de Michael Jordan no Washington Wizards.

Antes do documentário, a passagem era um tanto esquecida, até não ter toda a grandiosidade e a riqueza histórica dos 14 anos de Jordan em Chicago.

De esquecida para menosprezada, foi um passo. A aventura de Michael Jordan na capital dos EUA foi tachada como um fracasso, mas não foi bem assim.

Jordan teve bons momentos nos Wizards, com suas clássicas partidas de mais de 40 pontos, além de ter sido duas vezes All-Star e até considerado para MVP de uma temporada.

A Esportelândia corrige essa injustiça histórica e explica como foi a passagem de Michael Jordan no Washington Wizards.

Michael Jordan dirigente dos Wizards

Depois de toda a treta da temporada de 1997-98 nos Bulls, envolvendo elenco, técnico e direção – e muito bem explicada em “The Last Dance” – Michael Jordan realmente saiu dos Bulls, e de toda a NBA, na verdade, com a sua segunda aposentadoria anunciada no começo de 1999.

Nos seis meses que separaram o fim da sua última temporada no Chicago Bulls e o anúncio, a NBA entrou em um locaute – uma paralisação dos donos das franquias -, e que teve Michael num papel central na negociação entre jogadores e empregadores.

A Liga vivia um momento de transição, com uma certa mudança de poder entre franquias e jogadores, muito por conta do tamanho que Jordan atingiu. Talvez por isso mesmo que ele tenha sido tão presente nas tratativas.

Uma pessoa com a qual o então ex-jogador falou muito nessa história toda foi Abe Pollin, dono do Washington Wizards. O contato foi importantíssimo para a ida de MJ para lá, primeiro como um dirigente, em 2000.

Isso porque Michael Jordan teve uma proposta um tanto “indecente” na época. Phil Jackson estava montando os Los Angeles Lakers que seriam campeões de 2000, 2001 e 2002, e chamou seu eterno parceiro para fazer parte da campanha.

Apesar do salário “mínimo” oferecido, a chance de ser mais uma vez campeão era tentadora. Mas Abe Pollin ofereceu algo melhor.

Michael Jordan posa com Abe Pollin em sua apresentação como presidente de operações do Washington Wizards.
Michael Jordan e Abe Pollin (dir.) em sua apresentação como dirigente dos Wizards (Foto: Yahoo/Getty)

No contrato assinado com os Wizards, válido por cinco anos, o presidente Michael Jordan começaria como dono minoritário, teria um aumento progressivo das ações, chegando a algo na casa dos 20%, a maior porcentagem que um atleta negro teria na época, maior até do que Magic Johnson, que tinha laços muito profundos com a gerência dos Lakers.

Então, em 2000, Jordan começou a trabalhar como presidente do Washington Wizards. E tinha um trabalho grande pela frente. Na temporada 1999-00, a franquia tinha sido a última colocada da sua divisão.

O ex-jogador então montou um elenco que equilibrava jovens promissores, como o ala Richard Hamilton e o armador Laron Profit, com veteranos regulares, como Chris Whitney. Trocou o técnico e o assistentes também. Não deu nada certo.

Em 2000-01, o primeiro ano completo de Michael Jordan como presidente de operações, os Wizards tiveram a segunda pior campanha da NBA, com 19 vitórias e 63 derrotas.

Jordan apelou para o passado. Chamou seu treinador do início dos Bulls, Doug Collins, trouxe um pouco mais de experiência com Ty Lue, campeão com os Lakers (e que depois seria campeão com os Cavaliers, como técnico).

Também esteve à frente da infame escolha de Kwame Brown como número um do Draft de 2001, mas isso aí é melhor a gente deixar para lá.

Até porque, de tanto olhar para trás, Michael tomou uma decisão mais importante do que qualquer uma outra que fez como dirigente. Ele voltaria para a quadra. Mais uma vez.

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Quando Michael Jordan jogou no Washington Wizards

É possível que, além da eterna saudade das quadras, Michael Jordan tenha voltado a jogar por um motivo maior. Ele anunciou seu retorno à NBA no dia 21 de setembro de 2001, apenas dez dias depois do fatídico Onze de Setembro.

E de fato foi uma boa distração, a volta de MJ. Até para os próprios jogadores. Nas viagens, nos treinos, na pré-temporada, Michael arrebatou fãs e multidões de uma maneira muito similar à dos tempos dos Bulls.

No começo, até os jogadores ficaram meio anestesiados. Há relatos de treinos em que o pessoal esquecia um pouco das tarefas e ficavam assistindo o camisa 23 jogar.

Os causos desse começo são ótimos. Há um em que, num jogo de pré-temporada em Miami, Jordan falou para seus companheiros na subida para a quadra: “Eu vou mostrar para vocês como se marca 20 pontos em um quarto, e depois vou descansar”. Ele fez 18 no primeiro quarto. E descansou.

Nos treinos, a mesma coisa. Em um, Hubert Davis, um ala-armador, estava com a corda toda, acertando vários arremessos. Então Michael, que estava no seu time, trocou de colete, só para marcar Davis, que não acertou mais nada depois.

Quando foi a vez de Jordan arrebentar no treino, acertando absolutamente tudo, o técnico Doug Collins parou o treino e pediu para o craque não arremessar mais. Dali em diante, os jogadores viram uma exibição de gala de um armador, com passes e assistências que nada deviam à Magic Johnson e John Stockton.

Perguntado sobre a sua visão, MJ teria dito: “Ah, eu sempre vi tudo na quadra. Mas é que eu gosto de arremessar”.

No vídeo abaixo, dá para ter uma noção da forma com a qual Jordan voltou à jogar. São alguns minutos de um jogo de pré-temporada, contra os Pistons:

Não foi surpresa, portanto, ele começar a NBA com tudo. Nos primeiros vinte jogos da temporada 2001-02, Michael Jordan teve uma média de 27 pontos por jogo, além de 6 rebotes e 5 assistências.

Nos 10 jogos seguintes, a média subiu para 30 pontos, com os mesmos 6 rebotes e 5 assistências.

Em resultados, depois de um começo irregular, os Wizards chegaram a emendar nove vitórias consecutivas, bem na fase dos 30 pontos por jogo do camisa 23. Mas a lesão de Richard Hamilton, o melhor companheiro de equipe de Michael, fez a campanha cair para um aproveitamento de 50%.

Na volta do jovem ala, Washington chegou fazer mais uma sequência de cinco vitórias, mas o período jogando sozinho, além, ora, dos 38 anos de idade (três deles parado) cobraram, e Jordan lesionou o joelho.

No período em que ficou fora, os Wizards fizeram um triste 1-9, e a vaga para os playoffs ficou distante.

O saldo da temporada 2001-02 ainda assim, foi bastante positivo. Jordan teve média acima dos 22 pontos, foi chamado para o All-Star. Antes da lesão de Hamilton, começavam burburinhos de sua presença na eleição do MVP da temporada.

Mais uma dança de Michael Jordan

Para a temporada 2002-03, os Wizards deram uma mexida no elenco. Richard Hamilton foi parar no Detroit Pistons, que cederam outro bom ala, Jerry Stackhouse. A ideia era MJ ter um parceiro com vitalidade, mas um pouco mais experimentado.

Não deu exatamente certo. Jerry teve os mesmos 21 pontos de média da temporada anterior, mas longe dos quase 30 de 2000-01. Além de ter alguns atritos com Jordan.

Onde quer que Michael Jordan estivesse, haveria questões desse tipo. Exigente e sempre com uma postura de testar e elevar o aspecto mental dos companheiros, o camisa 23 colecionou casos e desafetos. Nos Wizards, por exemplo, o armador Laron Profit foi trocado depois de ter provocado Jordan nos treinos.

Com ou sem polêmica, Michael sempre fez o seu trabalho. E trabalhou bastante naquele ano. Jogou todos os 82 jogos da temporada, que resultaram na exata mesma campanha de 2001-02, com 37 vitórias e 45 derrotas.

Sem vaga nos playoffs, restou a Jordan o All-Star, numa outra curiosidade bacana. Ele não tinha sido eleito para as celebrações de 2002-03, mas Vince Carter, na época arrebentando no Toronto Raptors, cedeu sua vaga para a lenda do basquete.

O All-Star daquele ano foi uma festa em homenagem ao legado de Michael Jordan, até antecipando a decisão que ele tomaria ao final daquela temporada.

A aposentadoria definitiva de Michael Jordan

No dia 16 de abril de 2003, Michael Jordan fez o último jogo da sua carreira. Foi uma derrota para o Philadelphia 76ers, em que o camisa 23 anotou 15 pontos e viu seu adversário, o jovem Allen Iverson, encaçapar 35.

Uma despedida um tanto agridoce, mas assim mesmo são as despedidas. Ao final da temporada, a lenda do basquete anunciou a sua terceira e definitiva aposentadoria.

Mágoas desses tempos, Jordan diz ter nenhuma. Dentro da quadra, pelo menos. Em maio de 2003, logo depois de sua aposentadoria, Abe Pollin o demitiu de seu cargo como presidente de operações.

Mas, se Michael Jordan estava determinado a ter uma franquia na NBA, nada o pararia. Nada nunca o parou, na verdade. Em 2006, virou acionista dos Charlotte Bobcats, do estado da Carolina do Norte, onde viveu toda a sua juventude, e de onde saiu da universidade para a NBA.

Em 2010, virou acionista majoritário e portanto dono do agora Charlotte Hornets, negócio que ainda não prosperou tanto dentro de quadra, mas já garantiu dois bilhões de dólares na sua conta.

Grandes Momentos de Michael Jordan nos Wizards

Mesmo sem chegar aos playoffs nas duas temporadas pelos Wizards, Michael Jordan teve momentos de brilho absoluto. Confira alguns deles:

51 pontos contra o Charlotte Hornets

Pouco tempo depois de sua volta – dois meses depois, para ser exato – Michael Jordan arrebenta contra os Hornets, com 51 pontos, numa vitória por 107-90.

Sequência de 40+ no Ano Novo

Depois da aula contra os Hornets, MJ empolgou, e começou o ano novo com tudo. No dia 31 de dezembro, 45 pontos contra os Nets de Jason Kidd:

Em janeiro, mais duas aulas. 40 pontos na vitória contra o Cleveland, e saideira contra o Phoenix Suns, com 41 pontos:

Reencontro de Jordan com Pippen

Um dos momentos mais marcantes da temporada 2002-2003 foi o reencontro de Michael Jordan e Scottie Pippen, na época no Portland Trail Blazers. O Portland venceu o jogo (98-79), mas no duelo pessoal, um empate: os dois fizeram 14 pontos.

Mais uns 40 antes dos 40

Na temporada 2002-03, mais um início de ano bastante produtivo para o veterano Michael Jordan. Logo no quarto dia de janeiro, 41 pontos contra o Indiana Pacers, treinado pelo desafeto Isiah Thomas. Foi uma vitória apertada, por 107-104:

Em fevereiro, outras duas exibições de gala, e outras duas vitórias apertadas, que mostram como o Wizards custou em acompanhar sua estrela. MJ fez 45 pontos no 109-105 contra o New Orleans Hornets, e 41 pontos no 89-86 contra o New Jersey Nets, poucos dias depois de completar 40 anos:

Estatísticas de Michael Jordan nos Wizards

2001-2002:

  • 22,9 PPJ – 5,2 ASS – 5,7 REB – 1,4 ROU
  • 60 Jogos: 30 Vitórias – 30 Derrotas
  • Wizards com o 2º melhor público da NBA

2002-2003:

  • 20 PPJ – 3,8 ASS – 6 REB – 1,5 ROU
  • 82 Jogos: 37 Vitórias – 45 Derrotas
  • Wizards com o 2º melhor público da NBA

Michael Jordan x Kobe Bryant

  • Michael, 38 anos: 23 PPJ – 5 ASS – 5 REB – 42% FG
  • Kobe, 37 anos: 17 PPJ – 3 ASS – 4 REB – 35% FG

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*Última atualização em 9 de julho de 2020