Tifanny na Superliga e as polêmicas
Tifanny Abreu, ao assinar com o time de Bauru para a terceira temporada da equipe na elite do vôlei brasileiro, rapidamente mostrou seu valor, repetindo o sucesso que teve na Itália.
No final de 2017, nas suas três primeiras partidas da Superliga, Tifanny acumulou impressionantes 70 pontos, destacando-se com a melhor média de pontos da competição. Embora a amostra não fosse suficiente para uma análise completa, seu desempenho inicial já chamava atenção.
Em 2018, Tifanny consolidou sua posição como uma das grandes estrelas da liga. Em apenas 30 sets, ela acumulou 160 pontos.
O auge de sua performance aconteceu em 30 de janeiro de 2018, quando marcou impressionantes 39 pontos em um jogo contra o Praia Clube, líder invicto da competição com 17 vitórias consecutivas e futuro campeão da edição 2017/2018.
Tandara e Tifanny e as reações no Brasil
Apesar de sua trajetória inspiradora no esporte, Tifanny Abreu enfrentou diversos desafios ao longo de sua carreira.
Seu desempenho impressionante no vôlei brasileiro gerou questionamentos sobre a legitimidade de sua presença em quadra, com algumas atletas e clubes alegando que sua força de ataque poderia criar um desequilíbrio.
Essas preocupações têm como base a transição relativamente tardia de Tifanny, realizada aos 29 anos. A crença é que seu desenvolvimento físico como homem na juventude lhe conferiria vantagens de potência e desempenho.
Alguns atletas, como Tandara, que divide com Tifanny o recorde de pontuação única na liga, e a ex-jogadora Ana Paula, medalhista de bronze nas Olimpíadas de 1996, manifestaram publicamente suas opiniões.
Ana Paula chegou a escrever uma carta aberta questionando a autorização de Tifanny para competir no vôlei feminino, destacando a polêmica em torno do tema.
Apesar das críticas e controvérsias, Tifanny continua a lutar por seu espaço no esporte, representando a causa dos atletas transgêneros em todo o mundo.
Os apoiadores de Tifanny no vôlei
O apoio a Tifanny Abreu não veio apenas de suas companheiras de equipe. Jogadoras como Thaís, Desiree e a ex-líbero Fabi também se manifestaram em sua defesa.
Essas atletas destacam que Tifanny está em conformidade com os parâmetros estabelecidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e pela Federação Internacional de Voleibol (FIVB), que incluem o tempo mínimo de transição e níveis aceitáveis de testosterona no sangue.
Além disso, a transição de Tifanny é vista como uma forma de eliminar possíveis vantagens físicas associadas a atletas transgêneros. Em 2017, o técnico do Golem Palmi revelou que Tifanny havia perdido cerca de 30% de sua potência original.
Ela mesma relatou sentir-se mais cansada e com um tempo de recuperação mais longo, com uma queda estatística em seu desempenho desde sua estreia: de 22 pontos por jogo em 2017 para 12 pontos em 2018/2019.
Na Superliga 2019/2020, Tifanny foi classificada como a 17ª melhor pontuadora por sets e a 11ª no geral. Mesmo durante a temporada de 2017-2018, quando estabeleceu recordes, seu time, o Bauru, não passou da oitava colocação, em contraste com o quinto lugar na temporada anterior.
Atualmente, Tifanny defende o Osasco, onde continua a ser um dos pilares da equipe desde 2021.
O que diz a ciência sobre outras jogadoras transgênero
A ciência ainda não oferece uma resposta definitiva sobre o impacto da presença de atletas transgêneros no esporte de alto nível. A falta de um número significativo de atletas trans em competições de elite torna difícil obter conclusões robustas.
Há argumentos válidos para ambos os lados do debate. A testosterona, reconhecida por seu papel no desenvolvimento corporal e suas propriedades anabólicas, é frequentemente citada por aqueles que questionam a participação de atletas trans.
Por outro lado, pesquisas com corredoras trans revelam que a transição tem impacto na performance. Este processo envolve a administração de estradiol e bloqueadores de testosterona, que reduzem os efeitos da testosterona natural.
No caso de Tifanny Abreu, suas análises anuais mostram níveis de testosterona de 0,2 nmol/L, bem abaixo do limite máximo permitido de 10 nmol/L e da média feminina de 3 nmol/L.
Essa baixa concentração pode explicar a contínua queda em seu desempenho e as dificuldades de recuperação física enfrentadas nos últimos anos.
O desempenho no vôlei
No final das contas, o impressionante desempenho de Tifanny nos primeiros anos no vôlei feminino pode estar ligado à sua experiência prévia na Superliga Masculina.
Os anos de atuação em um nível competitivo alto podem ter contribuído para a sua performance superior, surpreendendo o circuito feminino brasileiro.
A jogadora, até então pouco conhecida na modalidade feminina e com apenas alguns meses de experiência internacional, trouxe um estilo de jogo único, fruto de sua bagagem no vôlei masculino.
Além disso, é possível que os métodos de treinamento do vôlei masculino, historicamente mais avançados, tenham desempenhado um papel importante.
Vale lembrar que o investimento e o desenvolvimento do esporte masculino frequentemente recebem mais atenção, mas isso é um assunto para outro momento.
Ver essa foto no Instagram
Após explorar a trajetória de Tifanny e o impacto do movimento trans no vôlei, continue alimentando sua paixão pelo esporte com mais conteúdos exclusivos e atualizados sobre o vôlei:
- Quiz: Quem estava na seleção de vôlei em Barcelona 92?
- Melhor jogadora de vôlei do mundo: top 10 atual e da história
- José Roberto Guimarães: biografia, títulos e história no vôlei
- Quiz: Quais brasileiras estão no hall da fama do vôlei?
- Quiz: Acerte os jogadores da seleção de vôlei em Atenas 2004
Repórter no Esportelândia. Licenciado em Literatura Inglesa. Jornalista com passagens por Quinto Quarto, Blog de Escalada, Minha Torcida, Futebol Interior e Techpost. Está no Esportelândia desde 2022.