A recente chegada de Carlo Ancelotti ao comando da Seleção Brasileira de futebol masculino gerou debates acalorados e a impressão de uma nova era, marcada pela busca por expertise internacional. Mas o italiano não é unanimidade em seleções nacionais.

Diversas outras modalidades já buscaram experiência internacional para evoluir seus esportes em um país completamente tomado pelo futebol masculino. Mas será que essa percepção de “invasão estrangeira” reflete a realidade do comando técnico no esporte brasileiro como um todo?

O Esportelândia fez um levantamento focado nas principais seleções nacionais adultas (com ênfase em esportes coletivos), buscando mapear a nacionalidade dos treinadores que lideram as equipes do Brasil atualmente.

Os resultados, embora confirmem a presença estrangeira, como o caso de Carlo Ancelotti, também pintam um quadro mais complexo e majoritariamente verde e amarelo.

Panorama após a chegada de Carlo Ancelotti: brasileiros ainda são maioria nas Seleções Brasileiras nos esportes coletivos

Carlo Ancelotti não foi o primeiro, nem será o último estrangeiro no comando de alguma seleção no Brasil.

Analisando uma amostra de 30 esportes coletivos, somente seleções principais, masculinas e femininas, constatou-se que a maioria dos comandos técnicos ainda é brasileira.

Dos 30 postos analisados, 23 são ocupados por treinadores nascidos no Brasil, contra 7 postos estrangeiros, representando 76,66% do total.

Vale ressaltar que basquete, rugby feminino (XV e Sevens) e lacrosse, os treinadores são 100% gringos. Os técnicos estrangeiros identificados na amostra foram:

Técnicos estrangeiros nas Seleções Brasileiras

  1. Basquete feminino: Pokey Chatman (EUA)
  2. Basquete masculino: Aleksandar Petrovic (Croácia)
  3. Futebol masculino: Carlo Ancelotti (Itália)
  4. Lacrosse feminino: Cristina Vélez (Espanha)
  5. Lacrosse masculino: Cristina Vélez (Espanha)
  6. Rugby feminino XV: Emiliano Caffera (Uruguai)
  7. Rugby feminino 7: Crystal Kaua (Nova Zelândia)

Técnicos brasileiros nas Seleções Brasileiras

  1. Basquete 3×3 feminino: Elen Rosa (Brasil)
  2. Basquete 3×3 masculino: Thiago de Sordi (Brasil)
  3. Beach Soccer feminino: Fabrício Santos (Brasil)
  4. Beach Soccer masculino: Marco Otávio (Brasil)
  5. Beisebol: Daniel Yuichi Matsumoto (Brasil)
  6. Críquete feminino: Luis Felipe Pinheiro (Xipinho) (Brasil)
  7. Críquete masculino: Richard Avery (Brasil)
  8. Flag Football feminino: Ana Luiza Cazarin (Brasil)
  9. Flag Football masculino: Heitor Medeiros (Brasil)
  10. Futebol feminino: Arthur Elias (Brasil)
  11. Futsal feminino: Wilson Saboia (Brasil)
  12. Futsal masculino: Marquinhos Xavier (Brasil)
  13. Handebol feminino: Cristiano Rocha (Brasil)
  14. Handebol masculino: Marcus Oliveira (Tatá) (Brasil)
  15. Hóquei sobre grama feminino: Luciana Mingroni (Brasil)
  16. Hóquei sobre grama masculino: Cláudio Rocha (Brasil)
  17. Polo aquático feminino: Paulo Rogério Moraes Rocha (Brasil)
  18. Polo aquático masculino: Thiago Batista (Brasil)
  19. Rugby masculino XV: Lucas Duque (Brasil)
  20. Rugby masculino 7: Lucas Duque (Brasil)
  21. Softbol: Fernando Oda (Brasil)
  22. Vôlei feminino: Zé Roberto Guimarães (Brasil)
  23. Vôlei masculino: Bernardinho Rezende (Brasil)

Isso significa que apenas cerca de 23,33% dos técnicos principais na amostra são estrangeiros. Embora seja uma porcentagem significativa, está longe de representar uma maioria ou uma “invasão”.

Entrevista do técnico croata da Seleção Brasileira de Basquete, Aleksandr Petrovic

Tendências observadas: por que consideramos técnicos estrangeiros como Carlo Ancelotti?

A análise dos dados revela algumas tendências interessantes sobre a distribuição desses técnicos estrangeiros, mas principalmente pela expertise que o Brasil não tem em determinados esportes e os treinadores de fora sim.
Similarmente, os outros esportes fazem isso com jogadores de futebol do Brasil.
  1. Foco na alta visibilidade: como mencionado inicialmente, os esportes de maior apelo popular e midiático (futebol e basquete) concentram três dos quatro técnicos estrangeiros identificados. Isso sugere uma estratégia deliberada das confederações de buscar nomes de renome internacional para posições sob maior escrutínio público e pressão por resultados imediatos, esse é o caso de Carlo Ancelotti na Seleção.
  2. Predomínio brasileiro em modalidades de tradição: esportes onde o Brasil tem um histórico consolidado de sucesso e formação de atletas e técnicos costuma manter brasileiro, como vôlei (Bernardinho e Zé Roberto). O futebol masculino sempre representou o mesmo cenário, por isso uma mudança para um treinador estrangeiro gerou tanto debate.
  3. Busca por expertise específica: os estrangeiros contratados vêm de países reconhecidos como potências em suas respectivas modalidades (Carlo Ancelotti, da Itália no futebol, Croácia/EUA no basquete, Nova Zelândia no Rugby), indicando uma procura direcionada por conhecimento técnico e experiência internacional comprovada.
Técnicos da Seleção Brasileira ("": &q000000202531;2025&q000000202531;): conheça todos da história
Carlo Ancelotti é o atual treinador da Seleção Brasileira de Futebol [IconSport]

Técnicos das Seleções Brasileiras em esportes individuais ou não coletivos

Nos esportes individuais (ou não coletivos), os técnicos são, em sua maioria, pessoais dos atletas ou dos clubes que eles representam. Ou seja, há uma mudança constante e nem sempre são fixos nas seleções.

No atletismo, por exemplo, o técnico que colocar mais atletas na Seleção é convocado como o treinador principal da Seleção naquela competição. O único atleta com treinador estrangeiro no atletismo é Almir Júnior, do salto triplo e em distância.

Na Seleção Brasileira de Ginástica Artística feminina, por exemplo, que conquistou medalhas nas últimas Olimpíadas, tanto no individual quanto por equipes, conta com o talento da ucraniana Iryna Ilyashenko, juntamente com Chico Porath (Brasil).

  • Atletismo: 99% técnicos brasileiros (único treinador estrangeiro é José Eduardo Sousa Uva (Portugal), técnico do Almir Júnior)
  • Badminton (feminino e masculino): Marco Vasconcelos (Brasil)
  • Boxe: Paco Garcia (Cuba)
  • Breaking (feminino e masculino): José Bispo de Assis (Bispo SB) (Brasil)
  • Canoagem Slalom: Ettore Ivaldi (Itália)
  • Ciclismo (Estrada/Pista): Armando Camargo e Emerson Silva (Brasil)
  • Ginástica artística feminina: Iryna Ilyashenko (Ucrânia)
  • Ginástica artística masculina: Marcos Goto (Brasil)
  • Ginástica de trampolim: Tatiane Figueiredo (Brasil)
  • Ginástica rítmica: Camila Ferezin (Brasil)
  • Judô feminino: Sarah Menezes (Brasil) e Andrea Berti (Brasil)
  • Judô masculino: Antônio Carlos Kiko Pereira (Brasil)
  • Levantamento de peso (feminino e masculino): Dragos Stanica (Romênia)
  • Natação: Felipe Domingues (Brasil)
  • Tênis de Mesa feminino: Jorge Luiz Fanck Júnior (Brasil)
  • Tênis de Mesa masculino: Thiago Monteiro (Brasil) tendo como auxiliar Francisco Arado (Paco) (Cuba)
Entrevista da técnica ucraniana da Seleção Brasileira de Ginástica Artística, Iryna Ilyashenko

Conclusão: existe um equilíbrio estratégico?

Embora a chegada de técnicos estrangeiros como Carlo Ancelotti a posições de destaque como a seleção principal de futebol masculino possa criar uma percepção de mudança generalizada, os dados mostram que o comando técnico das seleções brasileiras, em sua maioria, permanece nas mãos de profissionais do país.

A presença estrangeira, embora relevante (mais de um quinto na amostra analisada), parece ser mais uma escolha estratégica e pontual, concentrada em modalidades de grande visibilidade ou onde se busca uma expertise internacional específica, do que uma tendência dominante.

A aposta em nomes como Carlo Ancelotti, Petrović e Chatman demonstra uma abertura para o intercâmbio de conhecimento e a busca por resultados de impacto global. Contudo, a forte base de técnicos brasileiros em modalidades tradicionais e olímpicas evidencia a capacidade de formação e a confiança no trabalho desenvolvido internamente.

O equilíbrio entre valorizar os talentos locais e buscar referências externas parece ser a tônica atual no comando das seleções brasileiras, um cenário que certamente continuará a evoluir nos próximos anos. Assim como o intercâmbio de jogadores estrangeiros para o Brasil visa aumentar o nível da liga, seja no futebol, basquete ou vôlei.

Entrevista da técnica norte-americana da Seleção Brasileira de Basquete, Pokey Chatman

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Eric Filardi Content Coordinator

Coordenador do Esportelândia desde 2021, é jornalista pós-graduado em Jornalismo Esportivo. Autor do livro “Os Mestres do Espetáculo”, que está na biblioteca do Museu do Futebol de São Paulo. Passou por Jovem Pan, Futebol na Veia e PL Brasil.