Eleito no final do último ano como o melhor jogador de futsal do mundo, Pito hoje é a grande estrela e referência do Brasil no esporte. Afinal, quem sonha em se tornar profissional da modalidade, agora tem o seu nome como principal inspiração.

De contrato renovado com o Barcelona e sonhando com o título da Copa do Mundo com a Seleção Brasileira, o jogador concedeu entrevista exclusiva ao Esportelândia, onde detalhou alguns dos seus segredos para chegar ao sucesso e o que ainda espera conquistar.

Assista aos lances de Pito, melhor jogador do mundo

O começo de tudo

Nascido em 6 de novembro de 1991, em Chapecó, Santa Catarina, Jean Pierre Guisel Costa pareceu já estar destinado ao sucesso logo de cara. Sob carinhoso apelido de Pito, dado por sua vó e sua mãe, o ainda garoto já praticava os primeiros pontapés na bola de futebol.

Em entrevista ao Esportelândia, o jogador conta que sempre teve paixão e admiração pelo esporte, mas que quem brilhava mesmo os olhos das pessoas era o seu irmão mais velho.

A minha infância foi basicamente futebol em si. Não era só o futsal, era futebol na rua, com meu irmão e com meus amigos. Acho que desde que eu me conheço por gente eu frequentava o futebol.

Meu irmão que era o craque. Só que ele foi convidado para participar da AABB [Associação Atlética Banco do Brasil], em Chapecó, e minha mãe comentou com eles que não podiam nos separar. Como minha mãe trabalhava, eu tinha que estar com meu irmão.

Ele só ia jogar lá se eu fosse junto, e eles aceitaram uma boa. Na época eu tinha seis, sete anos.

Pito conta que sua mãe nunca o cobrou nada em relação ao futuro na vida, mas que sempre deixou claro que o filho deveria fazer algo. Como sabia que o Pitinho, como era chamado, sempre foi apaixonado pelo esporte, o incentivava a correr atrás.

Pito (1)
Pito é referência no futsal brasileiro – Divulgação/Yuri Gomes

A trajetória de Pito com o futsal começa ainda muito jovem. Mas não demorou muito para que pegasse gosto pela modalidade. Enxergando no esporte uma oportunidade de vida, o atleta já teve que abrir mão duas vezes por não ter condições de jogar e chegou a duvidar de seu futuro.

Eu parei duas vezes. Uma no sub-15, porque eu troquei de colégio e aí só tinha aula de tarde, que era bem no horário do treino. Mas no outro ano eu consegui mudar para de manhã e voltei ao normal.

A segunda vez foi porque só tinha (a categoria) adulto em Chapecó e eu não estava apto ainda. Acho que ali começou um pouco a dar o baque de: ‘Será que eu vou ser jogador?', porque eu não estava fazendo mais nada.

Comecei a jogar com os amadores lá em Chapecó e não tinha nenhuma perspectiva. Foi quando um amigo meu me convidou para ir jogar no sub-20 do Criciúma. Lá as condições eram um pouco precárias, mas eu estava feliz da vida porque eu tinha um time pra jogar.

Desafios na carreira

Durante o bate-papo, Pito pontuo este exato momento da vida como o mais desafiador que enfrentou ao longo dos anos. Segundo revela o próprio jogador, foram muitas situações desagradáveis para conseguir se superar e se tornar o homem que é hoje.

Eu acho que (o momento mais difícil) foi a primeira vez que saí de Chapecó e fui para Criciúma. Chegando lá, claro, o cara pensa: ‘Eu estou saindo de Chapecó, estou indo para um time de outra cidade, a estrutura deve ser top'. Mas quando chega e não é nada do que o cara estava esperando…

Pito conseguiu listar uma série de fatores que contribuíram para tornar o momento algo extremamente desafiador. Mas também revela que agora sabe reconhecer os valores de cada situação que enfrentou.

Nós morávamos em sete pessoas num único apartamento. Tinha sala, mas a sala a gente fazia de quarto, porque não tinha onde colocar tanta gente.

Só tinha uma geladeira e um fogão, não tinha nem pia. Então, para fazer comida, era só pizza esquentada ou não tinha nada. Passei por algumas ali, mas a gente dá valor agora que está tudo tranquilo.

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O convite para a Europa

Enquanto atuava no Brasil e passava por algumas dificuldades, o atleta sempre teve em mente o sonho de um dia poder jogar na Europa. Mesmo que não conhecesse exatamente quais são os principais clubes do Velho Continente, tinha certeza que queria viver lá.

De fato, Pito ficou encantando com a oportunidade que recebeu em 2015 para jogar no futsal espanhol. Ao todo, o pivô brasileiro defendeu as cores do Elpozo Murcia e Inter Movistar, ambos da Espanha, antes de chegar ao poderoso Barcelona.

O meu foco principal era chegar no Barcelona, desde a época em que eu soube que tinha o futsal aqui. Eu acompanha o Ronaldinho Gaúcho, então era uma camisa com um nome muito forte.

No momento em que cheguei aqui e joguei contra eles, eu vi o ginásio deles, a torcida que tinham e me encantei, colocando como objetivo na carreira.

Óbvio que sempre respeitei os clubes que eu estava, mas tentava dar o meu melhor para que eu pudesse evoluir e chegar no Barcelona.

Pelo clube catalão, Pito já faturou oito títulos, sendo 1 Liga dos Campeões, 2 Ligas nacionais, 2 Supercopas, 1 Copa da Espanha, 1 Copa do Rei e 1 Copa da Catalunha. Além disso tudo, é o atual MVP da Liga.

Pito e Laporta 1
Pito renovou com o Barcelona até 2027 – Divulgação/ FC Barcelona

O melhor jogador do mundo

Seguindo os passos de atletas como Messi e Ronaldinho Gaúcho, que já usaram a camisa 10 do Barcelona e também foram eleitos melhores jogadores do mundo, só que no futebol, Pito admite que foi uma enorme gratificação receber um prêmio de tamanha importância.

Eu tive que abdicar de várias coisas. Claro que no fim de semana o cara quer ir para a festa, quer tomar uma, e eu estava focado no que era um objetivo maior que tudo isso.

Contudo, o atleta revela que a sua ficha ainda não caiu. Para ele, é como se tudo ainda continuasse normal, mesmo com a conquista histórica.

Eu buscava sempre isso, era uma meta minha, mas parece que não caiu a ficha, eu continuo o mesmo. Então, eu não me vejo assim ‘sou o melhor do mundo'.

Minha família fala comigo, os meus amigos, eles veem como uma coisa fora do normal, e é mesmo, só que de tanto que eu estou trabalhando, tanto que eu quis isso, para mim não mudou nada.

Ao citar a família, Pito confirma que esse foi o seu principal alicerce para obter o sucesso que conquistou. O jogador deixa claro que, sem eles, não teria chegado no lugar mais alto do mundo.

Eu me inspirei mais na minha família, no meu irmão, que era para ser o craque, mas teve que parar por problema no joelho. Eu sei que era um sonho para ele e, eu tendo essa oportunidade, tive que representar a gente.

Ele e minha mãe foram os que mais me inspiraram. Minha esposa também abdicou de muita coisa para me ajudar.

Retorno ao Brasil?

Contente e plenamente satisfeito com o momento que vive no clube, Pito não se diz ansioso para voltar ao Brasil no momento. O jogador declara que quer construir ainda mais história durante os anos de contrato que tem com o Barcelona.

Contudo, não descarta o retorno para o Brasil no futuro e, caso isso aconteça, já sabe exatamente o clube em que deseja jogar.

De momento ainda não (penso em voltar). Mas claro que eu quero, antes de me aposentar, passar por um clube no Brasil, viver esse momento de novo.

A minha vontade é retornar para o Carlos Barbosa. Se eu for jogar no Brasil, não vou mentir, é minha primeira opção, porque ali eu fui muito feliz, conheci minha esposa também. A família toda dela é dali. Então, tenho um carinho especial com o Carlos Barbosa.

O sonho da Copa do Mundo

Em 2024, o Brasil terá mais uma chance para vencer o título da Copa do Mundo de futsal, conquista que não fatura desde 2012. Atualmente, o país Canarinho é pentacampeão da modalidade, e Pito está focado em ajudar na busca do hexa.

É o objetivo principal dessa temporada! Até me fazem essa pergunta, os caras do Barcelona: ‘Tu prefere ganhar a Champions ou a Copa do Mundo?'

Aí eu comento que a Champions eu já ganhei, então, estou separando um lugarzinho especial para a Copa do Mundo.

Mas como as vitórias não acontecem apenas com vontade, o pivô da Seleção Brasileira revelou que está trabalhando muito para atingir o tão aguardado objetivo e levar para o seu país essa conquista.

É o foco total nessa data e espero estar lá, espero estar com 100% das minhas condições físicas e dar o meu melhor para ajudar a Seleção. É um objetivo muito grande que todos nós brasileiros temos.

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