Considerado um dos heróis da Seleção Brasileira, ele foi peça-chave na classificação do Brasil para a Olimpíada de Sydney 2000, mas, ironicamente, foi cortado da equipe que ele ajudou a levar até lá.
Em entrevista ao podcast Ataque Defesa, Joel Monteiro relatou como este momento impactou sua vida profissional e pessoal. A história de sua trajetória e seu corte das Olimpíadas ainda geram debates e lembranças aos torcedores.
- Receba as notícias em primeira mão em nosso Grupo de WhatsApp, Grupo do Telegram ou Canal de Transmissão!
- Siga o Esportelândia nas redes sociais: Facebook, Twitter, Bluesky, Threads e LinkedIn.
A trajetória espetacular e frustrante de Joel Monteiro na Seleção Brasileira
Joel Monteiro entrou para a história do vôlei brasileiro ao ser convocado para a Seleção Brasileira em 1997, quando o técnico Radamés Lattari assumiu o comando da equipe no lugar de José Roberto Guimarães.
Essa fase marcou um período de transição para a Seleção Brasileira, que ainda contava com alguns jogadores da geração de 1992, como o experiente Maurício.
Joel, juntamente com outros atletas como Ricardinho e Gustavo, chegou para compor um novo time que seria fundamental nos anos seguintes.
Os anos de 1997 a 1999 foram pautados pela minha entrada e do Ricardinho nos jogos, sempre virando o jogo.
Essa dupla troca foi chamada de “Mr. M”, porque a gente entrava em algumas situações que eram roubadíssimas, conseguíamos virar o jogo e resolver uma pancada de situações.
Foi assim na Liga Mundial e em muitas outras competições, inclusive na Copa do Mundo de 1997.
Durante esse período, Joel alternou entre reserva e titular da Seleção Brasileira, mas sempre com atuações de destaque em grandes competições.
Com o 4º lugar na Copa do Mundo, tiveram que disputar o Pré-Olímpico em São Caetano-SP. O grande jogo foi a final contra a Argentina.
O jogo histórico de Joel Monteiro: Brasil x Argentina e a classificação para a Olimpíada de Sydney 2000
O grande momento de Joel na Seleção Brasileira ocorreu durante o Torneio Pré-Olímpico Sul-Americano, em 1999, quando o Brasil enfrentou a Argentina na final que valia uma vaga para as Olimpíadas de Sydney 2000.
O Brasil estava em desvantagem, perdendo por 1 a 0, com o time formado por Marcelinho, Marcelo Negrão, Gustavo, Douglas Chiarotti, Giba e Carlão, quando Joel e Ricardinho entraram em quadra para virar o jogo.
O Brasil estava perdendo por 1 a 0, Ricardinho e eu entramos no segundo set que já estava meio desandado, e conseguimos virar. Nessa dupla troca entrei já saindo da rede para sacar.
Não lembro exatamente quantos, mas foi um caminhão de pontos, tanto de saque quanto de contra-ataque. Ganhamos o segundo set e o terceiro, perdemos o quarto, e eu estava com uma atuação bem importante.
No tie-break, a rotação estava: Milinkovic ia para o saque, quando rodava era eu quem ia [para o saque]. Ele foi para o saque e a Argentina fez 6 x 2. Quando eu fuipara o saque, viramos para 8 x 6 e acabamos vencendo.
A virada foi impressionante e o Brasil conseguiu assegurar a classificação, graças a uma performance de destaque de Joel, que fez uma grande sequência de pontos.
Porém, apesar de sua atuação heroica e da classificação para a Olimpíada, Joel não fez parte da equipe que disputou os Jogos Olímpicos de 2000.
O corte de Joel da Olimpíada: “Peguei ranço do Brasil”
O corte de Joel da Seleção Brasileira para a Olimpíada foi um momento de grande frustração. Ele havia desempenhado um papel crucial na classificação da equipe, mas foi deixado de fora por motivos que, na época, ele não conseguiu entender completamente.
Fiquei muito frustrado, absurdamente frustrado, principalmente porque aquele jogo foi em janeiro, em abril eu me casei [com a jogadora de vôlei Katia].
Quando ela foi convocada, eu pensei: ‘Que maravilha, dobradinha na Olimpíada, eu e minha esposa'. E eu fui cortado de uma maneira que não dava entender.
Joel se viu em um turbilhão de emoções e sua frustração foi tanta que ele tomou uma decisão radical: sair do Brasil.
Eu pensei: ‘Preciso ir embora do Brasil. Aqui eu não vou mais jogar'. Me deu ranço do Brasil. E aí decidi ir para a Itália.
Joel saiu do Brasil e foi jogar na Itália
O corte fez com que Joel se distanciasse do país e buscasse novos horizontes no exterior. Sua ida para a Itália foi um divisor de águas em sua carreira, já que ele passou a jogar em uma liga de altíssimo nível e a ter experiências profissionais que marcaram sua trajetória.
Claro, eu queria ter ido para a Olimpíada. De tudo o que vivi jogando pela Seleção, foi a única coisa que eu não joguei. A mais importante. Fiquei marcado por não ter ido para a Olimpíada.
Joel reflete sobre o corte, entendendo, anos depois, que a razão para sua exclusão estava relacionada à necessidade de levar jogadores campeões olímpicos para a equipe, como Giovane Gávio e Dante.
Eles acabaram sendo convocados por não conseguirem se classificarem no vôlei de praia, onde estavam atuando. Mesmo com a decepção, Joel nunca falou mal da comissão técnica.
O prêmio de consolação de Joel
Mesmo com a decepção, Joel nunca falou mal da comissão técnica e sempre tentou ver o lado positivo, como sua ida para a Itália, onde viveu sua melhor fase da carreira.
Nunca abri a boca para falar mal da comissão técnica, nem de nada. Eu tentei tirar o melhor proveito dessa situação.
Algumas pessoas, quando fui para a Itália, disseram que aquele jogo [contra a Argentina] foi uma das melhores apresentações individuais que já viram. Esse jogo realmente marcou a minha vida.
Apesar do corte, ele é lembrado por ajudar o Brasil a conquistar a vaga olímpica e por sua impressionante performance contra a Argentina.
Inclusive, a injustiça sofrida por Joel teve troco. Ou quase isso. A Seleção Brasileira foi eliminada da Olimpíada justamente para os argentinos.
Por obra do destino, o Brasil acabou perdendo para a mesma Argentina. Lembro de uma declaração do Hugo Conte [jogador argentino]: ‘O Joel não estava aqui' [para ajudar o Brasil como no Pré-Olímpico].
Isso foi um prêmio de consolação [para Joel]. Sinal que todo mundo viu [que Joel deveria ter sido convocado]. Só não viu quem tinha que ver [o técnico].
Ver essa foto no Instagram
Coordenador do Esportelândia desde 2021, é jornalista pós-graduado em Jornalismo Esportivo. Autor do livro “Os Mestres do Espetáculo”, que está na biblioteca do Museu do Futebol de São Paulo. Passou por Jovem Pan, Futebol na Veia e PL Brasil.