A Seleção Masculina de Bernardinho sofre com a falta de ponteiros de alto nível, enquanto a equipe feminina de Zé Roberto Guimarães não consegue repetir o mesmo impacto com suas opostas.

O cenário se repete em torneios decisivos e deixa no ar a pergunta: como resolver as carências que afastam o Brasil dos títulos mais importantes?

Enquanto Alan e Darlan são protagonistas no Brasil masculino, Rosamaria e Kisy enfrentaram duras críticas. Já Gabi Guimarães, Júlia Bergmann e Ana Cristina ganham elogios que Lucarelli, Honorato e Lukas Bergmann ainda buscam.

Opostos decisivos com Bernardinho, lacuna na Seleção feminina de Zé Roberto

No time de Bernardinho, Alan e Darlan assumiram o protagonismo como opostos. Vibrantes e decisivos, os irmãos garantiram vitórias na VNL e mantiveram o Brasil competitivo.

Já no feminino, Rosamaria e Kisy vivem sob críticas, especialmente quando comparadas a nomes como Egonu e Antropova, da Itália. Em exclusiva ao Esportelândia, o técnico de vôlei feminino, Paulo Milagres, comentou as comparações:

Hoje o voleibol internacional é muito físico, com jogadoras grandes e ágeis. Isso não é falta de competência de Rosamaria ou Kisy, que têm nível para qualquer seleção do mundo, mas sim um desafio de sistema e estratégia.

Opostos: Alan + Darlan x Rosamaria + Kisy

Produção combinada

  • Alan + Darlan (Mundial, 3 jogos): 44 + 9 = 53 pontos (≈17,6 por jogo combinados)
  • Rosamaria + Kisy (Mundial, 7 jogos): 70 + 41 = 111 pontos (≈15,8 por jogo combinados)

Insight dos números: regularidade e eficiência sobrepõe o volume

O número bruto até engana: Rosa + Kisy juntas entregam volume similar ao combo Alan + Darlan, mas a diferença é eficiência e regularidade. Alan sozinho já sustenta médias de 15+ pontos com consistência, enquanto Rosa precisa de 6 jogos de titular para chegar em 70 (≈11,6/jogo).

Kisy só explode quando é titular em torneios menores, mas não mantém no mais alto nível. Já Darlan, mesmo reserva, entra e garante impacto imediato (9 pts em 3 jogos no Mundial, mas 24 na fase final da VNL).

Conclusão: no masculino, a reserva soma; no feminino, a reserva dilui. O Brasil masculino tem dois opostos que se complementam, enquanto o feminino tem duas opostas que competem sem se complementar.

As ponteiras: trunfo feminino, dor de cabeça no masculino

Enquanto o Brasil feminino conta com Gabi Guimarães, Júlia Bergmann e Ana Cristina (quando saudável), o time masculino busca alternativas.

Lucarelli, ídolo da geração Rio-2016, já não mantém o mesmo rendimento. Arthur Bento Lukas Bergmann despontam como soluções, mas ainda carecem de experiência.

Em entrevista ao Esportelândia, o bicampeão olímpico, Giovane Gávio, comentou o que falta nos ponteiros de Bernardo Rezende:

Talvez o que falte seja um jogador que ataque bolas rápidas, como fazíamos eu, Giba e Dante. Os atletas hoje são maiores e mais fortes, mas a velocidade pode ser um diferencial importante.

Ponteiros: Lucarelli, Arthur, Honorato e Lukas x Gabi, Júlia e Ana Cristina

Produção combinada

  • Lucarelli: 25 pts / 3 jogos = 8,3 por jogo
  • Arthur: 33 / 3 = 11 por jogo
  • Honorato: 10 / 3 = 3,3 por jogo
  • Lukas: 0 / 3 = 0

Total ponteiros masculinos (Mundial): 68 pontos em 3 jogos = 22,6 por jogo

  • Gabi: 142 / 7 = 20,3 por jogo
  • Júlia: 94 / 7 = 13,4 por jogo
  • Ana Cristina: (VNL antes da lesão) 167 / 9 = 18,5 por jogo

Total ponteiros femininos (Mundial, sem Ana): 236 em 7 jogos = 33,7 por jogo

Insight dos números: existe um abismo entre experiência e renovação no masculino e no feminino

Lucarelli caiu de patamar. Ele entrega menos da metade do que Gabi sozinha. No masculino, nem somando todos os ponteiros dá para bater a produção individual de Gabi na mesma competição.

Gabi é uma “solução tática” além de artilheira: no Mundial, marcou 47% de todos os pontos das ponteiras brasileiras. Lucarelli, no masculino, fez só 36% da produção do setor, mas em números absolutos, bem mais baixo.

Ana Cristina, quando saudável, chega a produzir em média +120% em relação a Lucarelli. Conclusão: o feminino tem três ponteiras top 20 do mundo; o masculino depende de uma promessa (Arthur), um ex-top (Lucarelli) e peças de rotação (Honorato e Lukas).

A experiência, liderança e exemplo de Gabi influencia para cima o desempenho de Júlia Bergmann e Ana Cristina. Em contrapartida, Lucarelli não consegue liderar ou ser exemplo, mesmo com seu ouro olímpico.

Paulinho Milagres destaca problema estrutural, base e pressão

Para Paulo Milagres, treinador de Camarões e profundo conhecedor da base feminina no Brasil, o caminho passa pela paciência e por mudanças estruturais:

Precisamos repensar a formação de base. O talento existe, mas falta rodagem internacional. E também precisamos diminuir a intensidade das críticas.

O torcedor não imagina o que o jogador sente depois de uma derrota. Mais do que atacar o que falta, é preciso valorizar o que o adversário faz bem.

Giovane Gávio crava que o futuro depende de ajustes e paciência

Giovane Gávio aponta que o masculino tem um desafio técnico, enquanto o feminino precisa de soluções táticas.

É uma geração vencedora. O importante é paciência e continuidade. Os jovens terão chances de mostrar talento e se consolidar. Esse processo é natural. É fundamental que esses jovens tenham a chance de jogar e mostrar o talento deles.

Paulo Milagres reforça que a diversidade de sistemas pode ser uma saída para Zé Roberto, como na variação que usou Gabi de oposta contra a Turquia.

No jogo contra a Turquia (na VNL), o Zé Roberto utilizou uma formação com Ana Cristina e Júlia Bergmann de ponteiras e a Gabi jogando de oposta. Essa variação deu muito mais volume ao sistema defensivo e aumentou a agressividade nos contra-ataques. Pessoalmente, gostei muito dessa formação.

Conclusão

  • Eficiência de setor: no masculino, os opostos são o motor da seleção (Alan+Darlan = estabilidade e alto nível). Entre as mulheres, as ponteiras são o motor (Gabi, Júlia, Ana = elite global).
  • Fragilidade espelhada: masculino sofre com os ponteiros; feminino sofre com as opostas.
  • O que os números escondem: Darlan reserva contribui mais em média do que Kisy reserva: é diferença de impacto imediato.
  • Liderança faz a diferença: Gabi faz a função que Lucarelli já não consegue: ser o farol técnico e emocional.
  • Problema de Zé Roberto menor que o de Bernardinho: o Brasil feminino, mesmo com “problema de oposta”, gera 50% mais pontos de ponteiras do que o masculino consegue gerar.

Comparativo de médias de pontos por jogo (VNL + Mundial)

Mulheres PTS/J Média PTS/J Homens
Gabi Guimarães 296 PTS (13 J) 22,8 × 9,7 68 PTS (7J) Ricardo Lucarelli
Rosamaria + Kisy 206 PTS (13 J) 15,8 × 24,6 443 PTS (18J) Alan + Darlan
Júlia Bergmann + Ana C. 506 PTS (22 J) 23,0 × 5,9 107 PTS (18J) Arthur + Honorato + Lukas

Por que a Seleção Feminina sofre com as opostas no feminino?

Porque a posição exige volume de pontos em alto nível. Jogadoras como Egonu, Antropova, Vargas e Boskovic dominam o cenário mundial. Rosamaria e Kisy têm qualidade, mas ainda oscilam diante das potências.

O que falta ao Brasil masculino nas pontas?

Faltam ponteiros de elite. Lucarelli, mesmo experiente, não tem mais o rendimento de antes. Bergmann e Honorato oscilaram, e Arthur Bento ainda está em desenvolvimento.

Como solucionar ambas as carências?

No feminino, variar formações e acelerar a transição da base, afirma Paulo Milagres. No masculino, investir em ponteiros velozes e dar rodagem aos jovens, além de continuidade e paciência, é o que defende Giovane Gávio.

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Eric Filardi Content Coordinator

Coordenador do Esportelândia desde 2021, é jornalista pós-graduado em Jornalismo Esportivo. Autor do livro “Os Mestres do Espetáculo”, que está na biblioteca do Museu do Futebol de São Paulo. Passou por Jovem Pan, Futebol na Veia e PL Brasil.