A Superliga voltou junto com o público aos ginásios. Dessa maneira, tudo parece estar andando nos trilhos, porém essa é apenas uma aparência. A realidade do vôlei brasileiro é bem diferente. Dessa forma, o esporte vem sofrendo duros cortes de investimento. Assim, equipes estão com problemas financeiros, clubes perdendo patrocínio, grandes jogadoras estão ganhando menos em seus contratos e desrespeito com os árbitros.

Isso tem afetado de várias formas o nível do vôlei brasileiro, e pode ainda trazer danos muito piores no futuros. No entanto, hoje já vemos reflexos de alguns problemas, e alguns deles ficam ocultos ao grande público.

Árbitro em atuação na Superliga
Árbitro em atuação na Superliga/ Eliezer Esportes / Dentil Praia Clube

Além dos jogadores

Na história dos esportes, o juiz sempre foi contestado. Mas, muitos esquecem que os árbitros são figuras importantes para acontecer qualquer jogo.

Além dos desafios diários, os árbitros são forçados a lidar com imposições da organização e dos dirigentes, que não dão valor a classe e se aproveitam dos poderes que têm dentro das instituições.

Isso acontece tanto na Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), quanto na Comissão Brasileira de Arbitragem de Voleibol (COBRAV).

Antes de iniciar a 28º Edição da Superliga, Débora Santos, árbitra de vôlei, do Rio de Janeiro, se pronunciou contra as imposições contratuais do torneio.  Dessa forma, a juíza não está de acordo com o contrato imposto aos árbitros e resolveu não atuar nesta edição do torneio.

Nos últimos anos, a juíza carioca foi eleita a melhor árbitra brasileira em atividade, sendo reconhecida por grandes atletas, como Thaisa e Tandara.

Débora Santos fala sobre as imposição contratuais sofrida pelos árbitros
Débora Santos fala sobre as imposição contratuais sofrida pelos árbitros Eliezer Esportes / Dentil Praia Clube

Árbitros: a crise do apito

Conversamos com a árbitra Débora Santos sobre o seu afastamento do torneio.

“Foi uma série de fatores que vinham acontecendo e acabaram terminando com a obrigação de se assinar um contrato totalmente imoral. Contrato esse que impõe aos árbitros a abrirem mão dos seus direitos de imagem, e os colocando na obrigação de usar um uniforme com a imagem de um patrocinador, no caso a SKY”, disse Débora Santos.

Quebra de contrato

Em seguida, a árbitra explica quais são as imoralidades do contrato.

“A CBV recebeu os valores referente ao patrocínio, e nenhuma parte deste valor será repassada aos árbitros. No ano passado não havia patrocinador no uniforme dos árbitros, e mesmo com a chegada deles para essa temporada, os valores das taxas de arbitragem permaneceram os mesmos, sem qualquer tipo de reajuste, justificando que houve um prejuízo por conta da pandemia. alegando que, nos valores do contrato já estão incluídas as cotas de patrocínio, sendo que no ano passado não existia patrocinador”, contou a árbitra, que mostrou total indignação com o contrato.

Débora pediu explicações sobre o documento, mas a organização não deu ouvidos a árbitra.

“Tentei conversar junto a COBRAV, alegando a imoralidade do contrato, porém os demais árbitros resolveram ceder às condições feitas pela CBV e acabaram assinando o contrato”, disse Débora.

“A própria classe não se valoriza, tem muita coisa errada, os árbitros não são incluídos em nada, não há participação dos árbitros na construção do regulamento, não há reuniões de feedback, avaliações, nada, pelo contrário, são questionados e colocados em situações vexatórias, constrangedoras, sempre atacados e nunca defendidos pela organização, sendo obrigados ainda a fazer valer um regulamento que fere as regras do esporte em diversos aspectos.”.

Por fim, a árbitra finalizou:

“Nunca haverá uma valorização dos árbitros, se os próprios não querem se valorizarem”.

Arbitro em atuação na Superliga
Arbitro em atuação na Superliga/ Eliezer Esportes / Dentil Praia Clube

Foto destaque: Divulgação / Eliezer Esportes / Dentil Praia Clube