Não é segredo nenhum que o mundo do automobilismo ainda é predominantemente masculino, seja atrás do volante, como em áreas técnicas. O que também não é mais segredo é o aumento do interesse das mulheres pela área.
Em 2021, a F1 com a Motorsport Network divulgou uma pesquisa global que contou com a participação de 167.000 fãs, nesta pesquisa foi constatado que o público feminino praticamente dobrou em menos de quatro anos, passando de 10% para 18%.
O interesse não termina nas arquibancadas, apesar de ainda pequeno ele existe dentro das pistas, as meninas e mulheres que entram nesse meio encontram alguns obstáculos diferentes dos homens, um deles é a necessidade de provar que podem competir no mesmo nível que o sexo oposto.
Elas no volante
Leticia Pagy, 12 anos, pilota de Kart que se prepara para o seu primeiro campeonato na V11 em São Paulo e no estadual do Rio de Janeiro, sabe bem disso.
Não temos dificuldades para entrar, temos dificuldade para nos manter, pois, temos que a todo tempo provar que temos capacidade de andar em igualdade, quando um menino bate o carro, é simples, ele somente cometeu um erro, agora vai você menina cometer esse erro.”
Leticia se apaixonou pelo automobilismo em 2021 durante uma viagem em família, ela conta que foi seu primeiro contato com o kart e por isso ficou em última no grid. Assim que saiu do carro falou para o pai que queria aprender, decidida procurou uma escola para pilotos e começou a treinar já em fevereiro do mesmo ano.
Letícia, diz que já se arrependeu em alguns momentos e que é muito difícil ser uma garota nesse meio. Ela aponta que nenhum garoto quer perder para uma menina e quando uma se destaca eles tentam atrapalhar para forçar uma desistência.
Além disso, algumas equipes ainda resistem à ideia de ter uma menina competindo, Leticia conta que se não fosse por seu pai ainda não conseguiria competir esse ano. Ele se uniu a outros pais de garotas e juntos criaram uma equipe, uma forma de conseguirem o preparo adequado para as competições.
Meu grande sonho é um dia poder correr na fórmula 1, mas escutamos todos os dias que não será possível, aí vamos nos adaptando e criando outros sonhos como somente correr em outras categorias e chegar na Stock Car um dia”.
Já a trajetória de Patrícia Sobrinho, pilota amador, começou de um jeito diferente, ela destaca que apesar de adorar dirigir, não andava de kart e que quando foi convidada para um evento de corrida não pensou duas vezes e que tudo deu certo para ela por se tratar de um evento para iniciantes.
Todas as meninas receberam apoio dos pilotos. Ouvimos comentários negativos ou preconceitos? Sim, eles ainda existem em pleno século 21, mas vem de uma minoria. Após três grids dessa imersão parti para o grid tradicional com pilotos experientes.”
A experiência trouxe aprendizado e a confiança de Patrícia nela mesmo e no carro aumentou assim como as disputas na pista.
É um esporte gratificante lidamos com desafios e resiliência o tempo todo, pois nem tudo são flores, nem toda corrida sai como planejado…igual à vida.
E….apaixonante como a vida!”
A vida no Kart para Pauline Coradini, apesar da paixão, começou apenas ao final de 2021 Hoje ela participa de campeonatos femininos e mistos.
Pois correr entre os homens é provar a si mesma o quanto somos fortes e resistentes. Ser uma piloto mulher é algo muito especial. Porque um homem piloto é um piloto (não desmerecendo os homens), mas uma mulher piloto é algo fantástico, porque a mulher neste esporte é um talento, é uma figura de coragem e muita determinação.”
2022 foi um bom ano para a carreira da Pauline, a pilota se tornou campeã do KGV pra Elas e vice-campeã do Karteiras.
Para elas
A missão de atrair as mulheres para o automobilismo ganha cada vez mais força, o projeto FIA Girls on Track tem como objetivo capacitar e envolver as garotas em todos os aspectos da área. O projeto ainda tem parceria com a academia Ferrari no programa FIA Girls on Track – Rising Stars.
Leticia será uma das participantes do projeto em um dos eventos que acontece na Fórmula E.
Vale lembrar-se da W series, criada em outubro de 2018, uma categoria 100% feminina que busca oferecer oportunidades igualitárias as competidoras, inclusive eliminando os obstáculos financeiros. A pontuação da competição é semelhante ao sistema da Fórmula 1, a categoria também distribui pontos para a superlicença, documento da FIA necessário para pilotar na Fórmula 1.
Infelizmente por motivos financeiros a terceira temporada da categoria encerrou de maneira precoce, desta maneira Jamie Chadwick conquistou o tricampeonato. A categoria retorna este ano.
Foto destaque: Divulgação/W Series
Camila Regueiro, jornalista formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.