Antes de mais nada, o próximo fim de semana é muito importante para a F1. Já que é fim de semana do GP de Mônaco, que ao lado das 24 horas de Le Mans e das 500 milhas de Indianápolis (que também acontece neste fim de semana), formam a tríplice coroa do automobilismo mundial. Entretanto, você sabe porque o GP de Mônaco é tão importante para o automobilismo?

Primeiramente, a história do GP de Mônaco coincide com a historia do automobilismo mundial. Além disso, coincide com a história do principado de Mônaco. É importante ter em mente que o principado tem, ao todo, cerca de 2km quadrados. Portanto, quando acontece o GP de Mônaco pelas ruas do principado, o lugar para e as pessoas vão as suas sacadas para ver o show.

Era Pré-F1

Assim, isso acontece desde 1929, quando foi dada a largada pela 1ª vez para o GP de Mônaco. Em suma, a corrida fazia parte das celebrações da semana santa, e foi promovida pelo príncipe Louis II, também presidente do Automóvel Clube de Mônaco (ACM), e pelo  empresário monegasco Antony Nogues.

 Assim, a corrida foi realizada numa quinta-feira, 14 de abril de 1929. O circuito de Monte Carlo (nome dado ao circuito, graças ao cassino homônimo que faz parte do traçado) não era como o conhecemos hoje. A saber, ele tinha cerca de 3,145 km, com 14 curvas. E o 1º vencedor do tradicional GP foi o francês William Grover-Williams. Assim, pilotando uma Bugatti, ele superou o favorito Rudolf Caracciola, um dos maiores pilotos da era pré Fórmula 1.

Já na 2ª e 3ª corridas, já em 1930 e 1931, respectivamente, a Bugatti continuou dominando as ruas de Mônaco. Então, venceram os GP's, o francês René Dreyfus e o monegasco Louis Chiron. Em suma, até 1937, três equipes se dividiram no topo do pódio: Bugatti, Alfa Romeo e Mercedes-Benz. Entretanto, foram diversos pilotos que venceram a charmosa corrida. Entre eles, o próprio Caracciola, que triunfou em 1936. Vale lembrar que, devido a 2ª Guerra Mundial, não houveram corridas em Mônaco de 1938 até 1947. Inclusive, o 1º piloto a vencer o GP, William Grover-Williams, combateu na guerra, foi preso pela Alemanha Nazista e executado em 1945.

Na volta do mais charmoso GP do mundo, em 1948, o vencedor foi o italiano Giuseppe Farina (que mais tarde, em 1950, se sagraria o 1º campeão mundial da F1). Por questões contratuais, a corrida não aconteceu em 1949, e voltaria apenas no ano seguinte, mas de maneira diferente.

1950: O ano mais importante para o GP de Mônaco

Em suma, 1950 foi um ano muito importante para o automobilismo mundial. Principalmente, pois foi neste ano que a FIA criou o campeonato mundial da Fórmula 1. E para coroar a 1ª edição do campeonato mundial, a FIA acoplou o GP de Mônaco ao calendário da F1.

Então, foi a 2ª etapa do calendário, realizada no dia 21 de maio de 1950. E esta corrida entrou para a história do automobilismo por três motivos. Primeiramente, foi a 1ª corrida realizada num domingo. Além disso, o argentino Juan Manuel Fangio fez a pole position e venceu a corrida de ponta a ponta, feito inédito até então. Por fim, o GP de Mônaco de 1950 marcou a estreia da Ferrari na Fórmula 1. E logo na estreia, a escuderia italiana brigou pela vitória com Fangio (que pilotava uma Alfa Romeo). Vale lembrar que, durante a corrida, uma onda inesperada fez com que a agua invadisse a pista. O líder Fangio conseguiu escapar. Entretanto, o vice-líder Farina rodou, causando um acidente envolvendo oito carros.

Sem corrida em Mônaco em 1951, a F1 voltou a Monte Carlo no ano seguinte, onde quem venceu foi o italiano Vittorio Marzotto, da Ferrari.

1955-1962: Diversos pilotos se alternam no topo

Sem corridas no principado em 1953 e 1954, a Fórmula 1 voltou para Mônaco em 1955 para não sair mais (até 2020). Naquele ano, quem venceu a corrida foi o francês Maurice Trintignant, da Ferrari. Em uma corrida que marcou a 1ª vitória de um francês na maior categoria do automobilismo. Assim, a corrida também foi marcada pelo acidente de Alberto Ascari, que acabou errando a chicane, capotou por cima da barreira de proteção e caiu na água. Felizmente, Ascari saiu ileso.

Nos dois anos seguintes, foi a vez da equipe italiana Marserati colocar seus pilotos no lugar mais alto do pódio. Assim, foram Stirling Moss (em 1956) e Juan Manuel Fangio (em 1957) que triunfaram no principado.

Stirling Moss ainda venceu mais duas vezes o GP de Mônaco (em 1960 e 61). Contudo, desta vez pilotando um carro da Lotus-Climax (ou simplesmente Lotus). Antes disso, em 1958 e 59, foi a vez da equipe inglesa Cooper-Climax (ou simplesmente Cooper) vencer duas vezes em Mônaco (com Maurice Trintignant e Jack Brabham, respectivamente). Inclusive, Brabham foi o 1º australiano a vencer na F1 e em Mônaco. A Cooper voltou a vencer em 1962, com o inglês Bruce McLaren (que mais tarde criaria a McLaren).

Graham Hill: O 1º Mr. Mônaco

Em 1963, o GP de Mônaco já era o mais badalado do mundo. Todos os pilotos do mundo tinham o sonho de correr pelas ruas do principado. Principalmente, vencer o GP de Mônaco. Entretanto, faltava um piloto que fosse conhecido como o “Rei de Mônaco“. Ou seja, um piloto que fosse a grande referencia do circuito.

E a partir deste ano, o principado ganhou um novo “rei”. Em suma, foi o inglês Graham Hill que passou a dominar as ruas de Mônaco. Uma das maiores lendas do automobilismo mundial, Hill ganhou três vezes seguidas no principado (1963,64 e 65). Todas as vezes pela mesma equipe, a BRM (extinta em 1977). Com dois anos de intervalo, Graham Hill venceu mais duas vezes (em 1968 e 69), desta vez pela Lotus.

Assim, com cinco vitórias em um dos circuitos mais difíceis do mundo, Graham Hill se tornou uma lenda viva e venerado em Mônaco. Vale lembrar que no intervalo em que Hill não venceu, ele terminou as corridas em 3º (1966) e 2º (1967). Era impensável que Graham Hill seria superado como Mr. Mônaco.

Vale lembrar que na corrida de 1967, aconteceu o 1º acidente fatal do GP de Mônaco. Assim, a vitima foi Lorenzo Bandini, que disputava a liderança até a 82ª volta, quando perdeu o controle do carro na mesma chicane que Ascari havia se acidentado anos atrás. Entretanto, o final foi diferente: O carro capotou e pegou fogo com Bandini dentro. O piloto nascido na Líbia ficou muito tempo dentro do carro, o que lhe causou queimaduras sérias. Chegou a ser levado para o hospital com vida, mas acabou falecendo três dias depois.

1970 – 1984: Era pós Graham Hill para o GP de Mônaco

Em 1970, ainda havia muita expectativa para Graham Hill em Mônaco. Entretanto, esta expectativa não foi cumprida, e quem venceu a corrida foi o austríaco Jochen Rindt (que era companheiro de equipe de Hill na Lotus). Em suma, Hill chegou apenas em 5º lugar, tomando uma volta do líder.

Já em 1971, Jackie Stewart foi o vencedor do GP de Mônaco. Além disso, o inglês cravou a volta mais rápida da história do circuito original de Mônaco. Em suma, foi uma volta de 1:22.200. Por fim, Stewart fez esta volta e venceu a corrida com um carro da Tyrrell.

De 1972 a 1974, três pilotos de três equipes diferentes se alternaram no topo. Entretanto, em 1973, houve uma grande mudança no traçado do GP de Mônaco. Foi a 1ª mudança no traçado desde a sua inauguração em 1929. Em suma, o circuito passou a ter 20 curvas (seis a mais do que o traçado original) e foi estendido para 3,278 km. Entretanto, a mudança não durou muito, e já foi remodelada em 1975. Neste ano, o traçado passou a ter 23 curvas, e uma extensão de 3,312 km.

1975 também foi importante. Já que marcou a 1ª vitória do lendário Niki Lauda em Mônaco, com uma Ferrari (o mesmo carro que Charles Leclerc bateu em um evento exclusivo, na mesma Mônaco, em 2022). Lauda voltaria a vencer no ano seguinte (1976).

Assim, até 1984, diversos pilotos estiveram no topo no GP de Mônaco. Entre eles, Carlos Reutemann (1980), Gilles Villeneuve (1981) e Keke Rosberg (1983).

Ayrton Senna: o 2º Mr. Mônaco

Mais uma vez, o GP de Mônaco precisava de um “rei”. Principalmente, para atrair público para o principado. E a partir de 1984, Alain Prost deslanchou. Assim, o francês parecia que quebraria o recorde de cinco vitórias de Graham Hill, se tornando o novo Mr. Mônaco. Em suma, Prost venceu três vezes seguidas (de 1984 a 86), mesma coisa que havia feito Hill anos atrás. Vale lembrar que em 1986 o traçado foi modificado mais uma vez. Agora, o GP de Mônaco contava com 25 curvas.

Todavia, Prost não contava com algo. Simplesmente Ayrton Senna. Assim, o brasileiro, grande rival de Alain Prost, conseguiu uma vitória milagrosa em 1987, com um dos carros mais fracos do grid (Lotus). Além disso, aconteceu nesta corrida a primeira dobradinha brasileira da história do GP de Mônaco, com Nelson Piquet terminando em 2º lugar.

No ano seguinte (1988), Alain Prost chegou a conquistar sua 4ª vitória em Mônaco. Contudo, estava em um disputa ferrenha com Senna, que acabou se acidentando e abandonou a prova. A partir daí, o mundo já colocava Prost como o 2º Mr. Mônaco, como o homem que deixaria Graham Hill orgulhoso (Hill faleceu em 1975).

Entretanto, Prost nunca mais venceu no principado. Já que a partir de 1989, Ayrton Senna passou a dominar as ruas de Mônaco. Assim, nunca na história houve uma dominância maior no local do que a de Ayrton Senna, que venceu cinco vezes seguidas, se tornando o maior vencedor do GP mais charmoso do mundo. Então, de 1989 a 1993, ninguém teve chances contra o brasileiro. O mundo agora conhecia o novo Mr. Mônaco: Ayrton Senna.

1994 – 2001: Era pós Ayrton Senna

Em suma, o grande nome do GP de Mônaco após Ayrton Senna foi do alemão Michael Schumacher. Assim, com um carro de pouca potencia (Benetton), o futuro heptacampeão venceu por dois anos seguidos (1994 e 1995). Em 95, o traçado foi modificado mais uma vez. Agora, o traçado teria as mesmas 25 curvas. Contudo, com uma extensão de 3,370 km.

A partir de 1996, Schumacher (já com um carro da Ferrari) passou a alternar vitórias com diversos pilotos. Em suma, o alemão venceu em 1997, 1999 e 2001. Nos anos em que não venceu, triunfaram Olivier Panis (1996), Mika Häkkinen (1998) e David Coulthard (2000). Vale destacar que a volta mais rápida neste formado, adotado em 1995, foi do brasileiro Rubens Barrichello. Em suma, o Rubinho cravou uma volta de 1:18.023 em 2002.

2003 – 2013: Sem dominância no GP de Mônaco

No ano seguinte ao recorde de Rubens Barrichello (2003), o traçado foi mudado mais uma vez. Pela primeira vez, o número de curvas foi reduzido, para 19. A 5ª variação do circuito também foi encurtada em relação ao seu antecessor, pois agora contava com 3,340 km.

Entretanto, os próximos 10 anos marcam um GP de Mônaco sem dominância de qualquer equipe ou piloto. Assim, diversos pilotos se alternaram no topo, com apenas um cravando uma sequencia de vitórias. Este foi o espanhol Fernando Alonso, que venceu em 2006 e 2007.

Além disso, venceram durante este período: JP Montoya (2003), Kimi Raikonnen (2005), Lewis Hamilton (2008), Jenson Button (2009), Mark Webber (2010 e 2012) e Sebastian Vettel (2011).

Primeira equipe a dominar Mônaco

A partir de 2013, não foi um piloto que passou a comandar o GP de Mônaco. E sim, uma equipe. E esta equipe foi a Mercedes. Em suma, todo fã de F1 sabe que desde 2014 (início da era híbrida da Fórmula 1), a Mercedes é quem dá show nas pistas. E claro que isso se reflete no GP mais famoso do mundo.

Então, de 2013 a 2016, só deu a equipe alemã em Mônaco. Assim, as vitórias foram de Nico Rosberg (2013,2014 e 2015) e Lewis Hamilton (2016). E em 2014, o traçado de Monte Carlo foi mudado pela última vez (até hoje), passando a ter 3,337 km (três km a menos do que o último traçado) com as mesmas 19 curvas.

Em 2017 e 2018, a Mercedes foi derrotada em Mônaco. A saber, a escuderia alemã perdeu para a Ferrari de Sebastian Vettel (2017) e para a Red Bull de Daniel Ricciardo (2018). Contudo, em 2019, Lewis Hamilton garantiu mais uma vitória para a Mercedes. Foi a última vitória da equipe alemã em Mônaco.

Por fim, após 65 anos do GP de Mônaco presente no calendário da Fórmula 1 de forma direta, não houve corrida no principado em 2020, devido a pandemia de COVID-19.

Na volta do GP ao calendário, em 2021, Max Verstappen garantiu a vitória de ponta a ponta. Vale destacar que, nesta corrida, a pole position era do piloto monegasco da Ferrari, Charles Leclerc. Entretanto, o piloto não largou devido a um problema no cambio de seu carro.

2022 e o futuro do GP de Mônaco

2022 representa uma nova era para a Fórmula 1. Portanto, é impossível prever algo para o GP de Mônaco baseado nos desempenhos anteriores. Em suma, Ferrari e Red Bull brigam ferrenhamente pelo topo, enquanto a Mercedes busca dias melhores em 2022. Será a 2ª vitória seguida de Verstappen no principado? Ou Charles Leclerc acabará com sua maré de azar no local onde nasceu e vencerá a corrida? Ou até mesmo algum piloto pode surpreender?

Contudo, o futuro do GP está ameaçado. Em suma, o contrato da F1 com o principado acaba em 2025, e existem especulações de que o mesmo não será renovado. Já que, para muitas pessoas, não faz mais sentido ter corridas em Mônaco. Principalmente, pois os novos carros da Fórmula 1 são “grandes demais” para as ruas do principado, o que faz com que ultrapassagens durante a corrida sejam quase impossíveis.

Só que é impossível imaginar o mundo do automobilismo sem o GP de Mônaco. Sim, de fato o GP se tornou outra coisa em relação a anos atrás, talvez nunca mais tenhamos uma grande dominância como a de Ayrton Senna ou Graham Hill. Contudo, este é o novo grande charme do local. O treino classificatório de sábado passa a ser essencial para a continuidade da corrida, no domingo. Além disso, Mônaco é o supra sumo do automobilismo, por toda sua história. Todo fã de automobilismo deveria defender o GP de Mônaco.

Foto Destaque: Divulgação/FIA