O Brasil foi eliminado ainda na primeira fase do Mundial de Vôlei Masculino 2025. Uma derrota que entra para a história como a mais vergonhosa do vôlei nacional, ainda mais com o bicampeão olímpico Bernardinho a frente da Seleção.

A Seleção venceu a China por 3 x 1 e a República Tcheca por 3 x 0, mas perdeu para a Sérvia por 3 a 0. Precisava somente de um set para avançar e não conseguiu. Dependia da China contra os tchecos, algo que não veio. Um vexame completo.

Bruno Voloch, jornalista do O Tempo, que cobre vôlei há mais de 30 anos, analisou no programa O Tempo Sports a campanha do Brasil, a gestão de Radamés Lattari e a continuidade de Bernardinho, não poupando críticas à CBV e ao treinador.

A pior campanha da história do vôlei masculino brasileiro e foi com Bernardinho

Nunca antes o Brasil havia caído tão cedo em um Mundial. Bernardinho, ídolo e multicampeão, voltou ao comando com a promessa de resgatar a mística vitoriosa, mas a Seleção não viu a cor da bola contra a Sérvia.

Não dá para subestimar a incompetência. O Brasil tomou um baile da Sérvia. Não viu a cor da bola. Foi vergonhoso. Medíocre a participação do Brasil.

Horas antes da partida, Bernardinho recebeu a notícia da morte de sua mãe no Brasil. Visivelmente abalado, chorou em quadra, sendo consolado. Mas, como destacou o jornalista Bruno Voloch, emoção não explica a eliminação.

O Brasil não foi eliminado por causa da morte da mãe do Bernardinho. Precisava de um set. Um set! Perdeu por más escolhas, por decisões erradas. Com todo respeito ao Bernardo, meus sentimentos pela perda da mãe dele, mas é preciso separar as coisas.

Tem gente tentando distorcer os fatos. Claro que é uma situação emocionalmente pesada, que mexe com todo mundo. Mas, é hora de uma reflexão mais profunda. Está tudo errado.

Gestão sob pressão: Radamés Lattari no alvo

As críticas não ficaram restritas a Bernardinho. O presidente da CBV, Radamés Lattari, foi alvo de duras acusações pela condução do voleibol nacional.

Se a CBV fosse séria, o Bernardinho não era mais o técnico, não só por esse episódio, mas por desempenho; o Radamés não era mais presidente e, junto a sua incompetente diretoria, provavelmente seriam cobrados publicamente, investigados pelos Presidentes de Federações (90% parceiros) e certamente pelos órgãos superiores.

A maioria dos técnicos das categorias de base já teria dançado. O barco está afundando e eles ficam quietos porque estão comprometidos. Precisa acontecer uma revolução, como já vimos no futebol: o presidente caiu, trocamos de treinador várias vezes até chegar o Ancelotti. No vôlei parece tudo intocável.

O diagnóstico de Voloch vai além do Mundial. Ele aponta para anos de abandono das categorias de base, algo que explica os recentes fiascos em torneios mundiais Sub-21 e Sub-19 masculinos.

Más escolhas dentro de quadra

As opções táticas também foram questionadas. Bernardinho barrou Honorato e Lukas Bergmann — titulares na VNL — para dar espaço a Lucarelli, sem ritmo e voltando de lesão, e o jovem Arthur Bento.

Fez péssimas escolhas, alterações descabidas. Honorato e Lukas Bergmann eram titulares da VNL. De repente, viraram banco para o Arthur Bento e Lucarelli, que está mal fisicamente. E o Flávio como capitão antes do Lucarelli voltar? Não tem perfil nenhum para isso.

Daniel Seabra, também do O Tempo Sports, corroborou com Voloch e acrescentou que a Seleção Brasileira é um time previsível.

Não tem variação, não tenta nada. O Bernardinho de antes era ousado. Hoje? Nada. Tinha que colocar o Brasília, tirar o Cachopa… tentar algo novo! O Cachopa tava completamente marcado. Mas não. Deixou rolar do jeito que tava. Olha, sinceramente… perdi umas duas horas de sono vendo o jogo. Devia ter dormido mais cedo!

Auxiliares de Bernardinho deveriam ter assumido contra a Sérvia?

Com o abalo emocional de Bernardinho, a dúvida pairou: por que os auxiliares não assumiram o time? Bruno Voloch foi enfático:

Claro que o Rubinho ou o Marcelo Fronckowiak poderiam ter dirigido a Seleção naquele jogo. São treinadores experientes. Mas fato é que, com todo respeito à dor do Bernardinho, que é legítima, profunda, humana… mas essa dor não poderia contaminar 12, 14 jogadores e toda a comissão técnica. Não dá.

O Brasil perdeu o respeito no cenário mundial?

Para Voloch, não há como romantizar a situação. O Brasil perdeu mais do que um jogo. Perdeu status. Ninguém mais teme enfrentar à vencedora Seleção Brasileira.

O Brasil já foi referência mundial. Hoje, os adversários não têm mais medo. E isso é inaceitável. É um dos resultados mais frustrantes que eu já acompanhei no esporte.

Bernardinho deveria sair da Seleção?

Apesar da histórica eliminação do Brasil no Mundial de vôlei masculino, Bernardinho não tem um treinador que seja uma sombra para o seu trabalho e seus resultados em Atenas 2004 e Rio 2016, com dois títulos olímpicos, ainda pesam na decisão de permanecer na Seleção e guiar a renovação até Los Angeles 2028.

A CBV deve mudar sua gestão?

A crise expôs a necessidade de renovação estrutural. Para muitos especialistas, sem mudanças no comando, nada muda. Há tempos é falado sobre a necessidade de investimento na base, não apenas jornalistas, como o próprio técnico da Seleção Feminina, José Roberto Guimarães, vive batendo nessa tecla.

Qual treinador poderia assumir o lugar de Bernardinho na Seleção Brasileira?

Os substitutos naturais, em caso de saída de Bernardinho, seriam seus auxiliares, os técnicos como Rubinho ou Marcelo Fronckowiak, ambos com grande bagagem no vôlei. Além disso, nomes estrangeiros poderiam trazer novas ideias, como ocorreu no futebol.

Bruno Voloch apontou o argentino Marcelo Méndez, que fez um trabalho histórico no Sada Cruzeiro e atualmente é treinador da Seleção Argentina. Porém, a CBV relutou a colocar um argentino no comando da Seleção, mesmo com o auge dele no Sada Cruzeiro.

Com todo respeito ao Bernardinho, que teve uma carreira brilhante, irretocável, mas tudo passa. Hoje, ele não serve mais para ser o técnico da Seleção.

Marcelo Méndez, que foi vetado pela CBV quando estava no auge no Sada Cruzeiro, hoje está com a Argentina. Passou de fase no Mundial. Sem contar a catástrofe que é a base. O Brasil não ganha mais nada na base.

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Eric Filardi Content Coordinator

Coordenador do Esportelândia desde 2021, é jornalista pós-graduado em Jornalismo Esportivo. Autor do livro “Os Mestres do Espetáculo”, que está na biblioteca do Museu do Futebol de São Paulo. Passou por Jovem Pan, Futebol na Veia e PL Brasil.