Qual a real probabilidade de termos o fisiculturismo nas Olimpíadas? Essa é uma pergunta que, com certeza, os fãs do esporte já se fizeram. Porém, a resposta é simples: nunca! Mas vamos explicar o motivo.

Primeiramente, o fato do esporte bodybuilding não ter controle de recursos ergogênicos por meio de agências antidoping, assim como é nos Jogos Olímpicos, isso com certeza dificultaria a entrada do fisiculturismo nas Olimpíadas.

Diante deste cenário, o Esportelândia irá te mostrar uma solução de um mundo hipotético onde o fisiculturismo nas Olimpíadas deixaria de ser sonho e se tornaria realidade.

Fisiculturismo nas Olimpíadas: como isso poderia acontecer?

A priori, o passo inicial para tornar o fisiculturismo um esporte olímpico seria adicionar um controle de antidoping nos atletas do esporte.

Desde que a testosterona sintética foi criada, na década de 40, os hormônios derivados dela começaram a ser utilizados para fins de alta performance, devido aos ganhos de força, estética e de massa muscular.

Assim, desde o princípio do fisiculturismo até hoje, como os principais shows da década de 1960 sendo o Mr. Universo e o Mr. Olympia, o uso de tais drogas, proibidas pelo antidoping, é algo normal no esporte.

Para o fisiculturismo nas Olimpíadas acontecer, o esporte teria que se sujeitar a uma mudança que, hoje, está em alta: o fisiculturismo natural com controle de antidoping.

Antes de entrarmos no mundo do fisiculturismo natural, que realmente é uma modalidade dentro do bodybuilding que está em grande evidência no cenário, vamos lembrar que este processo já aconteceu na vida real.

Fisiculturismo nas Olimpíadas qual a real possibilidade
Premiação do Campeonato Brasileiro de fisiculturismo natural da INBA na categoria Wellness (Divulgação/INBA)

O Mr. Olympia com antidoping

No final da década de 1980, um dos grandes destaques do noticiário era a chegada de testes antidoping nas Olimpíadas.

Com tal notícia se espalhando mundialmente, os irmãos Weider, responsáveis pelo Mr. Olympia e por outros shows de grande escalão do esporte, como o Arnold Classic, decidiram transformar o bodybuilding para acontecer o sonho de ter o fisiculturismo nas Olimpíadas.

Com isso, os atletas que disputariam os dois grandes shows da época iriam ser testados no antidoping. No Mr. Olympia 1990 aconteceu a checagem de doping de 20 fisiculturistas, onde cinco deles foram pegos no doping.

Na ocasião, Lee Hanney, detentor de 8 títulos do Olympia, foi o grande campeão. De acordo com relatos da época, a diferença entre seu físico naquele ano, com doping, e seu físico no ano anterior, sem doping, era nítida.

Para muito dos fãs, esta foi uma das piores edições de Mr. Olympia, muito por conta da retirada das drogas importantes para um fisiculturista. Assim, em 1991, o teste de doping da IFBB Pro League foi descontinuado e a ideia de termos o fisiculturismo nas Olimpíadas falhou.

 

O crescimento do fisiculturismo natural

Para aumentar as chances de vermos o fisiculturismo nas Olimpíadas, a modalidade de natural bodybuilding, onde diversas federações são responsáveis, está cada vez mais em alta.

Com o grande sucesso do influenciador Rodrigo Goes e de outros atletas naturais do Brasil, o fisiculturismo com controle de antidoping ficou em evidência no cenário nacional.

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Rodrigo Goes, um dos grandes nomes do fisiculturismo natural, ao lado de sua esposa (Reprodução/Rodrigo Goes)

Diante desse cenário, uma forma do fisiculturismo fazer parte das Olimpíadas seria utilizando todas as ferramentas utilizadas na INBA (International Natural Bodybuilding Association), a federação responsável pelos mais importantes shows do cenário natural.

De acordo com o site da federação, o teste de antidoping é realizado conforme algumas regras previamente descritas, como:

Fisiculturismo nas Olimpíadas: qual a real possibilidade?
Informações retiradas do site oficial da INBA

Para finalizar essa discussão, o treinador Lucas Alves, que coleciona títulos em campeonatos de fisiculturismo natural, deu sua opinião sobre como o antidoping pode ser feito para incluir o fisiculturismo nas Olimpíadas em entrevista exclusiva.

Acredito que, primeiro, deveria existir um campeonato como seletiva e um doping rigoroso em todos os atletas.

A aceitação do público seria negativa

Ainda há de se destacar a grande importância da aceitação do público diante de uma abordagem completamente diferente para o fisiculturismo.

Afinal, o esporte não possui tanto marketing que fura a bolha por meio de patrocínios, restando assim a verba financeira que gira em torno de audiência. O que torna a aceitação por parte do público uma grande questão.

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Atleta Ramon Dino, ídolo do fisiculturismo, e influenciador Renan 4Fit, após uma palestra para fãs no Arnold Classic Brasil 2024 (Divulgação/Arnold Classic)

Para saber mais sobre o assunto, conversamos com o jornalista Matheus Macarroni, com anos de experiência cobrindo campeonatos de fisiculturismo, que deixou claro a real possibilidade de como os fãs iriam reagir com shows de fisiculturismo nas Olimpíadas.

Ser olímpico, ou não, não vai fazer uma grande diferença para o fã de fisiculturismo, referente àqueles fãs raízes. Então, o fã que acompanha o fisiculturismo há 10, 20 anos, tá pouco se lixando se é olímpico, ou não.

Macarroni ainda utilizou como exemplo o Mr. Olympia de 1990, no qual falamos anteriormente, que foi o primeiro e único com antidoping.

Em 1990, o campeão do Arnold Classic Ohio foi o Shawn Ray, só que teve antidoping naquele ano e o Shawn Ray falhou. E aí o campeão foi o que tinha ficado em segundo, que foi o Michael Ashley. Com todo respeito ao Michael, ele não é metade do que o Shawn Ray foi para o fisiculturismo.

Para o fã de fisiculturismo, a gente sabe que o principal título é o Mr. Olympia. Jamais será a Olimpíada, porque nas Olimpíadas precisaria ser um campeonato natural, e a gente sabe que o fisiculturismo natural não tem tanta repercussão quanto o tradicional.

Podemos ver o fisiculturismo nas Olimpíadas ou o bodybuilding não é um esporte?

Ainda há quem discuta que o fisiculturismo não é um esporte por conta da falta de performance esportiva diante de um palco. Se levarmos em consideração o conceito de esporte, o fisiculturismo realmente não se encaixa.

A modalidade acaba levando para o palco anos de resultado de treinos de musculação, porém, sobre o palco, o máximo de performance executada seria algo parecido com uma performance artística de poses.

 

Poderíamos fazer um paralelo com patinação artística e nado sincronizado, onde há performances de artes durante os Jogos. Porém, ainda assim, estaríamos falando de uma apresentação baseada num esporte, que no caso seria patinação e natação, respectivamente.

Ou seja, ainda no quesito da aceitação do público, com certeza seria comum vermos a discussão sobre “fisiculturismo é esporte?” ficando evidente na sociedade.

O jornalista Matheus Macarroni ainda fez questão de mencionar outro grande problema em relação à aceitação do público de fora da bolha do bodybuilding ao verem shows de fisiculturismo nas Olimpíadas.

Se fosse esporte olímpico, eu acho que iam tentar alegar uma eventual fraude, o que, no fundo, a gente sabe que pode acontecer.

Caso fosse um negócio muito bem controlado e realmente fosse um campeonato de naturais, o nível ia ser bem inferior.

Eu não acho que o cara que está acostumado a ver Ronnie Coleman, Jay Cutler, Dorian Yates e Phil Heath vai parar para assistir o fisiculturismo nas Olimpíadas.

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Físico de Dorian Yates no ano de 1994 (Reprodução/Instagram Dorian Yates)

Grandes atletas que poderiam estar presentes em shows de fisiculturismo nas Olimpíadas

Diante do assunto de fisiculturismo nas Olimpíadas, surge a grande dúvida: quem seriam os representantes do Brasil nos Jogos?

O país tem uma verdadeira seleção de mais de 30 nomes confirmados para o Mr. Olympia 2024, porém, nenhum deles poderiam competir no fisiculturismo natural por conta das drogas.

Assim, cabe aos fisiculturistas naturais presentes na nossa nação representar o país neste evento.

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Lucas Alves, agachado ao centro, ao lado de alguns atletas de seu time após um campeonato (Reprodução/LrTeam)

Sobre isso, o treinador Lucas Alves, que possui muita experiência dentro de campeonatos de bodybuilding natural, destacou alguns nomes que poderiam ser favoritos ao ouro pelo Brasil.

Atualmente, acredito que esses atletas se destacariam na escolha para representar o Brasil nas Olimpíadas: Jayme De Lamadrid, Léo Garcia, Ícaro Lermen, Ivan Silva, Alison Alves, Matheus Lacerda e Kenai Pugliesi.

Atletas do Olympia nas Olimpíadas

Por outro lado, alguns atletas hormonizados, que são de grande destaque em suas categorias subindo no Olympia, o show mais importante do esporte, poderiam ter a escolha livre de deixarem de hormonizar para competir em shows de fisiculturismo nas Olimpíadas.

Assim, poderíamos ver, em um cenário altamente hipotético, Ramon Dino, Rafael Brandão, Francielle Mattos e muitos outros fisiculturistas de renome dentro da IFBB Pro League (a liga profissional de fisiculturismo) competindo nos Jogos.

Fisiculturismo nas Olimpíadas
Atletas disputando o título do Arnold Classic Brasil 2024, com Rafael Brandão (sunga verde) ao centro (Divulgação/Arnold Sports)

Porém, existe um lado da moeda onde tais competidores acabariam optando por continuar trilhando seu caminho no Olympia. Afinal, desde que o fisiculturismo surgiu, o Olympia é o mais importante show do esporte.

Entrevistamos o atleta Edvan Palmeira, da categoria Men's Physique, para dar sua opinião sobre o assunto. Edvan é um dos melhores brasileiros da categoria e chegou a ficar no top 5 no Mr. Olympia 2022.

Acho que se o fisiculturismo entrasse como esporte olímpico ele seria representado pelos atletas naturais e os atletas que competem no Mr. Olympia iriam continuar competindo no Mr. Olympia.

Porque é o evento que realmente brilham os olhos dos atletas e a maioria esmagadora tem um sonho de um dia pisar lá. Só para ter uma dimensão, um título de Mr. Olympia no mundo do fisiculturismo é comparável a uma Copa do Mundo.

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Palmeira posando no New York Pro 2024 (Reprodução/Gilco)

Na opinião do atleta, ele admitiu que não deixaria de competir no cenário profissional, deixando de lado o fisiculturismo nas Olimpíadas, para focar no seu sonho de ser Olympia.

Eu, como atleta, continuaria a me esforçar para ser o melhor atleta do mundo competindo no Mr. Olympia, que sempre foi o meu maior objetivo desde que competi pela primeira vez.

Diante de todo cenário, é fácil entender que, se dependesse do público e dos atletas já destacados no cenário profissional, o fisiculturismo nas Olimpíadas seria um fiasco. Além disso, tendo a chance de ser mais algo controverso do que, de fato, positivo.