A volta da Libertadores completou a retomada do calendário do futebol brasileiro em 2020. Da mesma maneira, pôs um ponto final da “preparação” dos times após a paralisação por conta da pandemia do novo coronavírus. Agora, a temporada é pra valer.
Já se passaram alguns meses desde que Athletico Paranaense, Flamengo, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos e São Paulo voltaram às atividades. Foi tempo suficiente para se preparar para a maior competição da América? E o quão diferentes estão das duas primeiras rodadas, disputadas há quase meio ano?
Vamos responder a essas e a outras perguntas neste Guia da Volta da Libertadores. Será uma versão especial, compacta e dinâmica, para uma edição diferente do torneio, de rígidos protocolos de saúde, de questões internacionais e infelizmente sem a sua maior atração: a torcida. Pelo menos a outra, o futebol, teremos de sobra.
Como será a volta da Libertadores
Foram seis meses desde o encerramento da segunda rodada da fase de grupos da Copa Libertadores da América 2020, a última antes da paralisação do futebol por conta da pandemia do novo coronavírus.
Parte da “demora” (ou seria o calendário brasileiro demasiadamente apressado?) para o retorno se deu pela elaboração de um complexo protocolo sanitário. Afinal, estamos falando de um torneio que envolve múltiplos países em situações diferentes em relação à pandemia.
A aprovação desses planejamentos por cada país foi outro motivo que tornou o processo mais longo. Até porque não basta fechar os estádios durante os jogos, mas também garantir que as regras sanitárias de cada lugar sejam respeitadas, assim como fazer com que a competição seja a mais próxima do molde tradicional — esparramada pela temporada — e exequível logisticamente.
As medidas da CONMEBOL na volta da Libertadores
Para atingir tamanho feito organizacional, a CONMEBOL teve que adotar uma série de medidas. A primeira delas foi a já mencionada execução dos jogos sem a presença de torcida, o que aliás nem está necessariamente sob o controle da entidade.
Depois, o protocolo estabeleceu um rígido controle e estratégias restritivas para os times visitantes. Todas as viagens internacionais serão feitas em aviões fretados pagos pela própria organização.
Os voos só acontecerão a partir do cumprimento de dois pontos pelas equipes: o envio prévio do itinerário detalhado da estadia no país a ser visitado e a testagem de toda a delegação, dos jogadores aos seguranças, até 24 horas antes do embarque.
O protocolo sanitário da volta da Libertadores
Casos positivos ou indeterminados não viajam. Dentro dos países, o processo burocrático da imigração será feito em ambiente isolado e o pessoal todo vai dali direto para o ônibus, que será lacrado por um funcionário da CONMEBOL e só aberto na chegada ao hotel.
Os check-ins já deverão ter sido feitos remotamente e as chaves dos quartos entregues ainda no transporte. No local da estadia, a saída só é permitida para treino e para o jogo. Nos treinamentos, só entra quem passar por uma medição de temperatura. O mesmo vale para os estádios das partidas.
Dentro de campo, o regulamente segue basicamente o mesmo. As únicas alterações são as cinco substituições permitidas durante o jogo e já praticadas no futebol brasileiro, além da permissão para a inscrição de 40 jogadores (antigamente eram 30) para a disputa. As delegações, no entanto, estão limitadas a 50 pessoas.
Quando volta a Libertadores?
A volta da Libertadores acontece a partir do dia 15 de setembro de 2020, primeira data da terceira rodada da fase de grupos, que vai até o dia 17. A sexta e última rodada da etapa classificatória transcorre entre os dias 20 e 21 de outubro.
A fase eliminatória ainda não tem datas definidas, somente a final, que acontece no dia 21 de novembro de 2020 — em jogo único e em campo neutro, é bom lembrar.
Os brasileiros na volta da Libertadores
Flamengo na Libertadores: novo estilo, mesmo espírito
O Flamengo terá um desafio duplo na Libertadores de 2020. Terá de defender o título e o fazer sem o grande mentor da incrível campanha do ano passado, o “Mister” Jorge Jesus.
A tarefa, porém, não será necessariamente hercúlea. Primeiro porque a fase de grupos, com duas vitórias nas primeiras duas rodadas, parece estar bem encaminhada.
Depois, passado o início instável da “era Torrent”, a equipe rubro-negra parece ter se habituado ao novo estilo proposto pelo treinador, como visto na incrível atuação contra o Bahia, na sétima rodada do Brasileirão 2020.
Jogadores como Éverton Ribeiro e Gérson já voltaram a se destacar e reforços como Michael e Pedro entraram nos eixos. De fato, a equipe não têm mostrado o mesmo domínio de 2019 mas, especificamente na Libertadores, isso não deverá ser um problema.
A campanha do título do ano passado foi muito mais marcada pelo coração e pela competitividade do que necessariamente pela subjugação dos adversários — com a exceção, claro, do histórico 5 a 0 sobre o Grêmio nas semifinais. A virada na finalíssima contra o River Plate é a maior prova disso.
Palmeiras na Libertadores: a obsessão e a molecada
A obsessão do Palmeiras pela Libertadores, tão bem ilustrada na música da torcida e na sua subsequente adoção como lema pelo clube, se junta à ambição do seu treinador. O torneio é um dos únicos que ainda não foram conquistados por Vanderlei Luxemburgo, um dos maiores vencedores do futebol brasileiro.
O fervor pela competição, no entanto, parece ir um pouco na contramão no projeto apresentado até na temporada até aqui. A equipe alviverde tem focado seus esforços na promoção e utilização de jovens das categorias de base, a mais vitoriosa do Brasil nos últimos anos.
Ainda que o talento de jogadores Patrick de Paula, Gabriel Verón e Gabriel Menino sejam indiscutíveis, é o volume dos jovens na equipe que deixa uma interrogação quanto aos momentos decisivos. Na partida contra o Sport, por exemplo, válida pela 10ª rodada do Brasileirão, foram cinco formados nos juvenis em campo. O placar ficou em 2 a 2.
Por outro lado, foi com essa mesma base — auxiliada pela experiência de Felipe Melo, Willian, Luiz Adriano e Gustavo Gómez — que Verdão venceu o Campeonato Paulista 2020 e que emendou uma extensa sequência invicta no Campeonato Brasileiro. A ver como essa química se dará nos jogos internacionais.
Athletico na Libertadores: projeto zerado e o “novo Tiago Nunes”
Das inúmeras saídas à paralisação do futebol, não faltam motivos para emperrar a reconstrução do ciclo vitorioso do Athletico Paranaense. De todos eles, porém, a demissão de Dorival Júnior é a que tem o impacto mais imediato.
Ainda buscando maior regularidade no Brasileirão, o Furacão volta as atenções à Libertadores em um grupo complicado e que terminou a segunda rodada com um empate quádruplo.
Na hora da decisão, a equipe deve naturalmente se escorar nos jogadores remanescentes das campanhas da Copa do Brasil de 2019 e da Sul-Americana de 2018, como o goleiro Santos, o zagueiro Thiago Heleno, o volante Wellington e o meia Nikão.
Resta saber se Eduardo Barros, técnico interino, será o “novo Tiago Nunes”, que assumiu o Athletico em condições similares e o deixou com dois dos maiores títulos do calendário do futebol brasileiro.
São Paulo na Libertadores: a roda gigante de Diniz
Se o objetivo do São Paulo com Fernando Diniz era ter um “carrossel” dentro de campo, acabou ganhando uma roda gigante fora dele. É impressionante como o Tricolor passou por inúmeros altos e baixos até aqui na temporada.
Do início promissor no ano à aparente estabilidade no Campeonato Brasileiro, a equipe paulista passou por uma turbulência daquelas após a eliminação no estadual e do início lento na competição nacional.
A vez agora é de uma certa trégua após a invencibilidade nos clássicos contra Corinthians e Santos e pela relativa “cessão” de Diniz quanto às idiossincrasias do seu estilo de jogo. O São Paulo continua tratando bem a bola, mas sem o preciosismo improdutivo de antes.
O time titular também foi um tanto repaginado, com o reforço do atacante Luciano — suspenso por três partidas na Liberta depois da confusão no Grenal —, que trabalhou com o atual treinador no Fluminense, e com o maior espaço para jovens da base como Gabriel Sara e Paulinho Bóia.
A defesa foi a mais transformada, com Diego Costa, outro garoto promovido, e o ex-lateral Léo (e ex-Léo Pelé) fazendo o miolo da zaga.
O que segue firme e regular é a pressão da torcida por títulos, além do receio por um complicado grupo D na Libertadores, com River Plate e os perigos da LDU. A derrota para o Binacional, do Peru, contribuiu muito para essa preocupação.
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Internacional na Libertadores: o técnico e o atacante
Se fôssemos seguir a tendência de unir os nomes dos queridinhos do povo, a dos favoritos do Internacional, Coudet e Galhardo, não sairia tão bem assim. Não importa. A dupla é o grande destaque da temporada: o primeiro pelas suas ideias, o segundo pela execução.
Pregando um jogo técnico e organizado, mas não necessariamente dogmático, Eduardo Coudet fez do Internacional um time inegavelmente competitivo, como provado pela liderança no “primeiro quarto” do Brasileirão.
O melhor foi que argentino fez isso sem grandes revoluções financeiras, como fez o compatriota Jorge Sampaoli no Atlético Mineiro. Foram apenas algumas adições pontuais à base do Colorado, como o volante Musto, o lateral Saravia e o próprio Thiago Galhardo.
O atacante é o grande destaque da equipe gaúcha no ano, e não só pelos gols que marcou no Campeonato Brasileiro. Galhardo foi quem mais evoluiu sob o comando de Coudet. Jogando como um segundo atacante, ele contribui para a circulação de bola e, claro, para a definição das jogadas.
As boas atuações de Thiago e as estratégias de Eduardo serão especialmente importantes nessa volta da Libertadores. O Inter, afinal, está desfalcado de três titulares após a confusão do GreNal na segunda rodada: Moisés (4 jogos), Edenílson (3 jogos) e Victor Cuesta (1 jogo).
Grêmio na Libertadores: minimizando as perdas
A temporada do Grêmio até aqui tomou um caminho claro, de minimizar as perdas. A primeira e mais óbvia é a técnica, após a saída de Everton Cebolinha, comprado pelo Benfica de Jorge Jesus.
A saída da ex-camisa 7 distanciou ainda mais o atual do grupo daquele que venceu a Libertadores de 2017 e definiu todo o trabalho de Renato Gaúcho desde então. Mais do que isso, escancarou a queda no desempenho da equipe, que não conseguiu mais reproduzir o sólido e vistoso futebol de outros tempos.
A goleada sofrida para o Flamengo nas semifinais do ano passado parece ter sido um golpe duro à “mística” do time de Renato, que agora busca minimizar as demais perdas, começando com Pepê e Ferreira, jóias da base do clube e substitutos naturais de Cebolinha.
Ao mesmo tempo, o Imortal segue atrás de bons negócios para encorpar o elenco com jogadores rodados, talvez na busca de outros “Diego Souzas”. Robinho, vindo de graça do Cruzeiro, e Diogo Barbosa, trazido do Palmeiras por um baixo valor, são bons exemplos disso.
Mesmo um tanto baqueado, o Grêmio está longe de ser um time descartado. Mesmo juntando os cacos, foi mais uma vez campeão Gaúcho, e ainda há talento e experiência na equipe, seja no campo, seja banco de reservas.
Santos na Libertadores: no ritmo de Marinho
A temporada do Santos deu uma bela de uma guinada após a saída de Jesualdo Ferreira e principalmente após a chegada de Cuca.
Com o novo comandante, o Peixe passou a aproveitar melhor o “legado” ofensivo de Jorge Sampaoli mas sem perder a herança pragmática de Jesualdo. Como resultado, conseguiu formar uma equipe que se não é brilhante é ao menos competitiva.
O Santos de Cuca trata melhor a bola que o do ex-treinador português, mas não é ultra-ofensivo como era com o “professor” argentino. Além do mais, o protagonismo parece estar mais dentro de campo do que à beira dele.
Até porque se as táticas foram renovadas, a história no jogo continua mesma: apertou, o Marinho resolve. Aos 30 anos, o atacante vive o ápice da carreira, pelo menos em produtividade. No Brasileirão, sua participação direta nos gols santistas beira os 75%.
O desempenho também não fica para trás, numa bela combinação de experiência, técnica e condicionamento físico, uma combinação comum aos bons jogadores nessa idade.
Onde assistir à Libertadores 2020
As transmissões da volta da Libertadores foram foco do noticiário por um tempo. Isso porque a Rede Globo rescindiu o contrato com a CONMEBOL, deixando de “vagos” dois pacotes, o da televisão aberta e o dos jogos secundários da TV a cabo.
O primeiro foi arrematado pelo SBT, que fechou a parceria com a entidade até 2022. As transmissões do canal de Silvio Santos acontecerão no horário nobre (21h30) das quartas-feiras. Serão dois jogos por rodada, com divisão regional das partidas, isto é, times paulistas passarão em São Paulo, gaúchos no Rio Grande do Sul e por aí vai.
O outro pacote foi acertado de uma maneira um tanto inovadora. Em parceria com a Bandsports, a CONMEBOL criará um canal próprio, inicialmente nas operadores Claro e SKY, que será vendido separadamente ao assinante.
Em outras palavras, quem já conta com a Bandsports nessa operadoras, terá de contratar outro pacote para assistir aos jogos secundários da TV a Cabo.
Grupo Disney e a volta da Libertadores na Internet
As demais maneiras de assistir à Libertadores seguem as mesmas. O grupo Disney conta com o pacote dos jogos principais, e os jogos passam nos canais Fox Sports. Na internet, o Facebook Watch transmite gratuitamente um jogo por rodada, sempre às quintas-feiras.
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*Última atualização feita em 14 de setembro de 2020
Jornalista formado pela UNESP, foi repórter da Revista PLACAR. Cobriu NBB, Superliga de Vôlei, A1 (Feminino), A2 e A3 (Masculino) do Campeonato Paulista e outras competições de base na cidade de São Paulo. Fanático por esportes e pelas histórias que neles acontecem, dos atletas aos torcedores.