Em 2011, o Brasil foi a grande sensação do surf internacional. Naquela edição do WCT Masculino (World Championship Tour, o Circuito Mundial), foram sete surfistas brasileiros participando. Eles conquistaram quatro das onze etapas e ainda estiveram em outros quatro pódios.
Os mais experientes viam naquela temporada uma espécie de tempestade surgindo. Não deu outra: nasceu a Brazilian Storm. Do apelido em diante, o Brasil foi, ano a ano, dominando o cenário mundial do surf.
Entre 2012 e 2014, três finais consecutivas. Em 2014, o primeiro título mundial com Gabriel Medina. Em 2015, foi a vez de Adriano de Souza, e Medina repetiu a dose em 2018. Ítalo Ferreira completou a dobradinha em 2019.
Entre 2015 e 2019, foram 30 etapas vencidas de 66 disputadas. Só no último circuito (2019), foram seis vitórias e outros 10 pódios de surfistas brasileiros. Nessa edição, o Brasil tinha 11 representantes, o país com o maior número de participantes.
Mas como surgiu a “Brazilian Storm”? Como os surfistas brasileiros se tornaram os melhores surfistas do mundo e uma das maiores esperanças de medalha olímpica em Tóquio?
Como surfistas brasileiros se tornaram os melhores do mundo
Para quem é novo no surf, pode parecer parecer estranho que um país com quase 8 mil quilômetros de costa seja apenas uma potência recente no esporte. A prática pode até dominar as praias brasileiras desde sempre, mas a estrutura esportiva é uma novidade.
Foi só no começo de 2010, quando cresceu o pensamento do surf como um esporte competitivo no Brasil, que o país passou a ter surfistas que pensam em carreiras de fato. Isso, por sua vez, foi resultado de um processo que começou lá entre os anos 60 e 70, mas também de uma evolução natural.
Começamos, enfim, a ter famílias com pais e avôs surfistas. Nos lares, pegar uma onda não é só um lazer ou um estilo de vida, mas uma atividade esportiva de fato.
Surfistas e atletas
Essa “ancestralidade” influenciou diretamente numa transformação na mentalidade dos surfistas brasileiros. Surfistas não, atletas.
Medina, Mineirinho, Filipinho, Ítalo… Todos têm uma rotina similar à de qualquer esportista de elite. Todos têm alimentação controlada e uma programação rígida de treinos e preparação física.
Os brasileiros começaram a ter acompanhamento de preparadores e personal trainers e a treinar mais fora do que dentro da água. O foco é principalmente no fortalecimento muscular, na flexibilidade e na agilidade.
O condicionamento especial é um dos principais motivos para o sucesso da Brazilian Storm. Primeiro por dar a estrutura corporal necessária para a “escola de surf” brasileira, de manobras arriscadas e muitos aéreos. O estilo progressivo garante muitos pontos, mas exige muito da parte atlética dos surfistas.
Depois, a preparação física diminui sensivelmente o número de contusões, que são naturais em qualquer esporte de alto rendimento. Menos lesões quer dizer mais etapas disputadas e mais chances no Circuito.
Gabriel Medina, por exemplo, venceu duas etapas em 2011, mas deixou de participar de outras cinco. Ficou sem o título.
Ainda assim, a evolução atlética por si só não é garantia de vitórias. Tampouco o talento, que os surfistas brasileiros têm de sobra. O surf, afinal, é um esporte individual e o psicológico dos competidores é essencial.
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O psicológico dos surfistas brasileiros
Imagine a situação: um mar aberto e agitado, uma multidão na praia e só uma prancha separando você das ondas. Em jogo, o título da maior competição mundial de surf. Para piorar, você divide a água com o seu adversário. Uma pressão e tanto.
Para desempenhar e exceder nessas situações, é preciso ir além do talento e da capacidade física. É necessário frieza, concentração — força psicológica, enfim.
O preparo mental tem sido outro ponto importante para o sucesso da Brazilian Storm. Não é necessariamente um diferencial. É, sim, uma equiparação ao que fazem alguns dos melhores surfistas internacionais, como Kelly Slater e Mick Fanning.
Motivos para o desenvolvimento psicológico dos brasileiros não faltam.
Além dos exemplos e da inclusão da parte mental na programação de treinos, os surfistas daqui passaram a contar com uma verdadeira rede de apoio, seja pelo número de compatriotas no Circuito, seja pela maior estrutura das equipes de cada atleta.
A estrutura dos surfistas brasileiros
Não é só de talento e profissionalismo que vive a Brazilian Storm. Por trás de cada um dos campeões mundiais e dos outros candidatos a títulos, existe toda uma estrutura para o seu preparo.
E não estamos falando apenas de instalações, que inclusive muitos dos principais surfistas brasileiros possuem dentro da própria casa, mas sim de pessoal. O Instituto Marazul é uma referência nesse sentido.
Medina, Ítalo Ferreira, Mineirinho, todos passaram por lá e foram acompanhados por nutricionistas, fisiologistas e psicólogos.
Há também treinadores, agentes e outros responsáveis por gerenciar a rotina e montar os planos e estratégias para o circuitos e suas etapas.
Muitos desses profissionais surfaram em outras épocas e é até possível que alcançassem maior sucesso se durante as competições tivessem alguém ao seu lado como, bom, eles mesmos.
O investimento nos surfistas brasileiros
Como você deve imaginar, nada disso sai de graça. Muito pelo contrário. A estrutura, as instalações, os profissionais, tudo é fruto de um maior investimento das empresas no surf como um esporte de alto rendimento.
O mercado do surf cresceu muito no Brasil e os empresários tiveram que acompanhar. Não basta mais investir apenas em equipes de audiovisual, nem há mais espaço para times de amigos e mentalidade amadora.
A conta é simples: maior sucesso dos atletas, maior retorno financeiro.
Mas o investimento não é só individualizado. Tradicionais marcas brasileiras de surf, como a Hang Loose, bancam competições amadoras nas praias daqui e estimulam a profissionalização de jovens talentos desde cedo.
É como uma categoria de base, que garante mais surfistas com a mentalidade dominante da Brazilian Storm e uma renovação constante de atletas, num processo que vem muito bem a calhar com a recente introdução do surf como esporte das Olimpíadas.
Os números e títulos dos surfistas brasileiros
- 4 títulos do WCT (2014, 2015, 2018, 2019)
- 33 etapas vencidas do WCT entre 2014 e 2019 (77 disputadas)
- 11 participantes no WCT de 2019
Os títulos mundiais dos surfistas brasileiros
- Gabriel Medina – 2014 – 3 etapas vencidas – 62.800 pontos
- Adriano de Souza – 2015 – 2 etapas vencidas – 57.700 pontos
- Gabriel Medina – 2018 – 3 etapas vencidas – 62.490 pontos
- Ítalo Ferreira – 2019 – 3 etapas vencidas – 61.070 pontos
Agora que você sabe o que há por trás do sucesso dos surfistas brasileiros, aproveite para aumentar seu conhecimento sobre surf:
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*Última atualização em 27 de julho de 2020
Jornalista formado pela UNESP, foi repórter da Revista PLACAR. Cobriu NBB, Superliga de Vôlei, A1 (Feminino), A2 e A3 (Masculino) do Campeonato Paulista e outras competições de base na cidade de São Paulo. Fanático por esportes e pelas histórias que neles acontecem, dos atletas aos torcedores.