Em toda a sua gloriosa história no esporte mundial, o Brasil possui uma série de nomes importantes, que marcaram a vida da população. O caso de Felipe Massa não é diferente. O atleta de 42 anos influenciou uma geração de fãs do automobilismo não só no cenário nacional, mas no mundo inteiro. Afinal, é difícil não pensar em sua imagem quando se fala de escuderias grandiosas, como Ferrari e Williams, por exemplo.
Hoje, piloto da Lubrax | Podium na Stock Car Pro Series, topou abrir as páginas de sua vida para revelar fatos não muito explorados anteriormente. Durante entrevista exclusiva ao portal Esportelândia, falou bastante sobre o início de tudo, a sua carreira no automobilismo, as polêmicas acerca da Fórmula 1 e o futuro do Brasil no esporte.
Relembre a vitória de Felipe Massa em Interlagos, em 2008
A entrevista exclusiva com Felipe Massa
O início
Durante a realização da 3ª etapa da Stock Car 2023, no Autódromo de Tarumã, no Rio Grande do Sul, o Esportelândia aproveitou para conversar com exclusividade com o piloto Felipe Massa. Atleta titular da equipe Lubrax | Podium, o competidor iniciou contanto sobre o seu primeiro contato com o automobilismo e a relação de seu pai com as corridas, o que o influenciou a seguir este caminho.
Na verdade, o meu pai corria por diversão, não profissionalmente, e eu sempre fui apaixonado, sempre queria estar junto nas corridas, ir acompanhar. Ia assistir às corridas e queria entrar dentro do carro, sentar, colocar o capacete dele. Então, eu sempre tive uma paixão muito grande pelo automobilismo.
Ele me deu uma motinha quando eu tinha uns seis anos, porque eu queria ser piloto de moto. Depois que andei, eu queria correr, queria pular, queria competir. Aí ele ficou meio preocupado em pensou: ‘eu vou levar para ele para andar de kart'.
Felipe Massa revelou que a sua trajetória iniciou-se ainda pequeno, quando acompanhava o seu pai em corridas amadoras. No entanto, a situação tomou grandes proporções, até o jovem garoto ir parar no kart. O piloto contou que desde o primeiro contato que teve como esta modalidade, teve certeza do que queria fazer.
Ele me levou em uma escolinha de buggy, na época, que era em São Paulo. Eu fiz a escolinha e consegui o melhor tempo da pista com o mini buggy, era uma pista pequenininha. Então o cara falou: ‘Olha, esse moleque aí tem jeito para o negócio, seria bom você botar ele para andar no kart'.
Aí tinha um kart lá e ele me colocou para dar umas voltinhas e, depois desse dia, eu fiquei apaixonado e queria ser piloto. Nunca mais pensei em outra coisa, a não ser o automobilismo. Depois daquele dia eu passei a fazer uns treinos de kart para começar a correr e eu sempre tive a certeza de que era aquilo que eu queria para mim.
No entanto, assim como para a grande maioria dos pilotos profissionais, Felipe Massa teve de enfrentar uma série de desafios para chegar aonde queria. Por se tratar de um esporte bastante elitizado, o automobilismo requer que seus competidores tenham boas condições financeiras, o suficiente para bancar todo o trajeto até o topo. E é exatamente nesse ponto em que a situação começou a ficar complicada.
Eram muitos os desafios. O maior desafio que tive era o financeiro, era arrumar o dinheiro para correr. Tanto no kart como no automobilismo, eu sempre corri com o que eu tinha, então isso sempre foi um problema muito grande. Fez eu aprender muito porque a gente sabia que uma oportunidade talvez seria a única que eu teria. Isso aconteceu no automobilismo.
Diante deste cenário, Felipe Massa teve de recorrer a uma porção de alternativas que possibilitassem a ele a chance de mostrar o seu talento. Até porque era só dessa oportunidade que o jovem garoto precisava.
Onde eu comecei, achei uma equipe que nunca tinha ganhado nada e eles me deram essa oportunidade, porque eu tinha um patrocinador que ajudava – que era o Hospital São Luiz, agradeço muito a eles.
Aí eu fiz metade do campeonato, cheguei em 5º lugar. Em 1999, eu corria na mesma equipe, fui campeão brasileiro de Fórmula Chevrolet. Ali era só um exemplo de que era o que eu tinha.
O desafio na Europa
No entanto, apenas o cenário nacional não bastava. Conforme conta Felipe Massa, se um garoto tem o sonho de chegar na principal categoria do automobilismo mundial, precisa competir em solo europeu. Além disso, se quer chegar à Fórmula 1 tem de competir e sair vitorioso, brilhar os olhos de quem está assistindo.
Dali para frente eu tinha que ir para o automobilismo na Europa, que é o caminho pensando em um dia ter a chance de chegar na Fórmula 1. Quando eu fui para a Europa, eu tinha duas opções. A primeira era ir para a Inglaterra, só que era muito mais cara, eu não tinha dinheiro e não consegui.
Então, optamos por correr na Itália, na Fórmula Renault. Eu tinha 100 mil euros e tive de escolher entre uma equipe que tinha mais patrocínio e aceitava o dinheiro que eu tinha, mas que era muito fraca, ou uma equipe um pouco melhor, mas que permitia eu correr apenas algumas corridas.
Felipe Massa conta que, ao longo de sua trajetória, teve de trilhar um caminho repleto de escolhas que definiriam diretamente o seu futuro. Afinal, escolher a equipe pela qual vai correr, tendo como base o, para aquelas condições, pouco dinheiro disponível, não é uma tarefa muito fácil.
Portanto, o talento teve de sobressair em relação a todas as outras questões. Se o sonho daquele jovem garoto seria realizado, a única forma possível teria de ser mostrando do que era capaz de fazer, mesmo não tendo o melhor equipamento a sua disposição.
Então eu fui para lá, com a chance de dar certo e cheguei já vencendo a 1ª corrida do torneio, disputando o campeonato italiano, liderando ele e o europeu. No final, pulando algumas corridas, eu fui campeão de ambos. Ali foi o ano mais importante da minha carreira porque, logicamente, eu fiz a minha primeira temporada na Europa e consegui esse resultado absurdo.
No ano seguinte, fui contratado para correr de Fórmula 3000, onde começou o interesse de tantas equipes de Fórmula 1 em cima de mim. Logo, a maior dificuldade na minha carreira sempre foi o financeiro, pois quando eu tive a oportunidade, eu consegui mostrar.
Fórmula 1 – Quando o sonho se torna realidade
Após passar por todas as dificuldades elencadas acima, Felipe Massa chegou ao campeonato com que tanto sonhou ao longo de sua vida. Toda a dedicação, o trabalho apresentado, finalmente estavam sendo recompensados com uma vaga na principal categoria do automobilismo mundial.
Sobre a oportunidade de correr na Fórmula 1, o piloto conta que é a realização de sonho. Nem todo mundo que almeja isso realmente consegue. Para ser mais exato, poucos dos que possuem esse sonho acabam por realizando-o no final. Dessa forma, é possível ter a dimensão da importância desse feito.
A Fórmula 1 é um sonho. É o sonho de cada piloto. Você tem muito mais pressão, logicamente, a dificuldade é muito alta. Você tem bastante diferença de uma equipe para a outra. Se você estiver em uma equipe competitiva, sabe que o sofrimento é maior.
Mas você está onde sempre sonhou, maior carro de guiar no planeta, aparecendo para o mundo inteiro, representando o seu país da maneira mais importante que tem. Você tem um monte de coisa junta.
O título mundial de Felipe Massa?
Como se chegar até a Fórmula 1 já não bastasse, Felipe Massa conseguiu fazer história e marcar o seu nome da história de grandes equipes da categoria, como Williams e Ferrari. Foi pela segunda, aliás, que quase conseguiu conquistar o título de campeão mundial e devolver o troféu ao Brasil depois da triste partida de Ayrton Senna.
Na verdade, o ex-ferrarista não se considera um “quase campeão” da temporada de 2008. Para o piloto brasileiro, o título daquele ano lhe pertence, muito devido ao caso do GP de Singapura, onde ele afirma que a corrida foi roubada, o que o prejudicou diretamente na conquista daquele mundial. Não à toa, hoje está tentando reaver a premiação em uma ação judicial.
Eu me considero com grandes chances de ter tido aquele título. Se você se lembrar de Singapura, foi uma corrida roubada. Depois que o Bernie Ecclestone falou sobre, a gente está tentando entender, legalmente, se tem alguma chance de voltar atrás.
[Decidi tentar voltar atrás] depois dessa entrevista do Bernie Ecclestone. Na época, existia uma lei que dizia que quando você passava de um ano para o outro e entregava a premiação para o piloto e para a equipe, o resultado não poderia ser mudado. E o Bernie Ecclestone disse que ele, o presidente da FIA, em 2008, todos sabiam e não quiseram fazer nada para não riscar o nome da Fórmula 1.
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Como principal argumento para brigar na justiça pelo título de 2008, Felipe Massa aponta a entrevista que Bernie Ecclestone, ex-chefe de Fórmula 1, concedeu à f1-insider.com, em março deste ano.
Segundo o antigo mandatário, ele e o presidente da FIA na época, Max Mosley, foram informados de que Nelson Piquet Jr. havia recebido ordens de sua equipe para bater propositalmente e proporcionar a chance de Fernando Alonso se recuperar e vencer a corrida. Contudo, não fizeram nada a respeito.
Então isso mostra que fui totalmente injustiçado com o que aconteceu naquele ano, em uma corrida roubada. Isso me fez levantar a antena e ir atrás de justiça. Eu não sou advogado, mas todo mundo sabe, fui claramente injustiçado e eu acho que justiça faz parte da nossa luta para conseguir ter o que aconteceu da maneira correta.
Aquilo foi uma corrida roubada. Foi uma manipulação, o que é uma coisa muito séria. Não foi um motor que quebrou. Teve também um motor que quebrou, mas isso faz parte do jogo.
Em uma onda tão grande de escândalos de manipulação de resultados no futebol brasileiro, Felipe Massa consegue associar o assunto ao que aconteceu na Fórmula 1. Para ele, este foi um claro caso de influência proposital no resultado da corrida.
Essa foi [uma manipulação]. Fizeram o Nelsinho Piquet bater por querer para ajudar o companheiro dele, que estava em último na corrida, a vencer. Eles fizeram totalmente uma manipulação para um resultado. O final da corrida foi completamente diferente daquilo que deveria ter sido. Então, foi uma manipulação.
Quando perguntado sobre a possibilidade haver outros casos parecidos na Fórmula 1, o piloto da Lubrax | Podium não soube dizer com exatidão. Não sabe de casos onde tenha acontecido algo parecido com o que houve com ele, mas lembra quando a McLaren foi suspensa em 2007, após copiar o carro da Ferrari.
[Se você diz a respeito de] uma corrida manipulada pelo resultado, como nesse caso que aconteceu comigo, não. O que tiveram foram outras coisas. Como em 2007, quando a McLaren pegou o projeto da Ferrari, copiou o carro e foram desclassificados do campeonato, eles foram punidos por uma situação.
Nesse caso [de 2008], não houve punição. No futebol e em outros esportes aconteceram muitas coisas, onde foram corrigidos os resultados.
A nova era da Fórmula 1
Mesmo não correndo mais pela principal categoria do automobilismo mundial, Felipe Massa afirma que segue acompanhando o campeonato e deu o seu palpite sobre o que acontece hoje nas pistas. Na sua visão, é inegável que o holandês Max Verstappen é o melhor piloto do grid nesse momento. No entanto, conclui dizendo que o ideal para a modalidade é sempre ver o máximo de disputas dentro da pista.
A gente não pode deixar de falar o que o Verstappen vem fazendo nesse momento. Hoje, claramente, ele tem o melhor carro, mas é o melhor piloto do grid. Assim como Hamilton foi por muitos anos também, como Senna foi, como Schumacher foi. Infelizmente, a Fórmula 1 tem uma diferença grande de um carro para o outro.
Por exemplo, a Red Bull, que tem três ou quatro segundos de diferença para as outras equipes, tendo ainda um piloto excepcional, que é o Verstappen, isso acaba deixando ele numa chance maior de vencer.
O legal é quando você tem duas equipes disputando, como teve ele com o Hamilton, como teve eu, quando eram McLaren e Ferrari disputando. Isso é o que os fãs querem ver: a competição.
Nesse ínterim, Felipe Massa ainda comentou sobre a possibilidade um brasileiro voltar a figurar no grid da Fórmula 1. Desde a participação de Pietro Fittipaldi nas duas últimas corridas da temporada 2020, o Brasil nunca mais teve um representante na principal categoria do automobilismo.
É um momento muito difícil para o Brasil, no automobilismo. Um momento onde a gente vê os pilotos sofrendo, poucos pilotos nas categorias de base fora do país. A gente viu que a gente não tinha uma categoria de base.
A Fórmula 4 começou ano passado, sendo que a Stock Car trouxe a categoria para ajudar os pilotos a chegar na Europa mais preparados. Então, a gente tem uma base sofrendo ainda, porque a gente tem doze carros correndo da F4, quando era para ter mais.
Entretanto, o ex-piloto de Ferrari e Williams enxerga a nova safra de atletas com bons olhos e nomeou alguns como prováveis brasileiros na Fórmula 1 daqui a pouco tempo.
Mas vejo nomes como Felipe Drugovich, que ainda não teve a oportunidade de guiar na Fórmula 1. A gente tem o Enzo Fittipaldi. Temos um piloto muito promissor, que entrou na Fórmula 3 e vem dominando, que é o Gabriel Bortoleto. O que ele vem fazendo é bacana, um piloto brasileiro ganhando a Fórmula 3. E tem o Rafael Câmara, que é um grande talento também, corre na regional esse ano.
Então é esperar o primeiro que tiver a chance, não só de entrar, mas de entrar e ficar no caminho certo. Isso é o mais difícil na Fórmula 1.
Qual o caminho para se tornar um piloto?
Ainda durante a entrevista exclusiva ao portal Esportelândia, Felipe Massa contou sobre os caminhos que um jovem atleta deve seguir para se tornar um piloto profissional. Na sua opinião, se o sonho é chegar na F1, o melhor a se fazer é competir nas categorias de Fórmula ao invés das de turismo. Porém, ele lembra que essa decisão não é nada barata e pode acabar se tornando pouco viável.
O caminho não é o carro de turismo, é carro de Fórmula. É sair de um kart e ir para uma Fórmula 4, Fórmula 3, Fórmula 2 e ter a chance de ir para a Fórmula 1. Esse é o caminho mais perfeito e correto que um piloto pode ter. Só que é muito caro.
Hoje em dia, a gente sabe o quanto o automobilismo é caro. Mais caro do que na minha época. Eu falei que o meu 1º campeonato estava 160 mil euros, hoje ele custa 500 mil, 700 mil euros, dependendo da equipe pela qual você queria correr.
Ainda pensando na questão financeira, Felipe Massa pondera que o atleta pode se tornar um piloto profissional correndo em outras categorias que não seja fora do país. O maior exemplo disso é a própria Stock Car.
Então, a gente sabe que a condição financeira é mais difícil ainda, mas, o caminho correto para o cara conseguir chegar na Fórmula 1 e ficar, ter a chance de vencer é esse que eu disse.
Depois, existem muitas categorias onde você vai conseguir ser profissional, como aqui no Brasil a Stock Car, uma categoria totalmente profissional, a gente vê a maior parte dos pilotos vivendo disso. Na Europa também, tem a Fórmula E e tantos campeonatos profissionais, onde você não é um piloto famoso, mas é um profissional e vive disso.
Melhor piloto e melhor pista para Felipe Massa
Hoje com 42 anos, Felipe Massa já possui uma vasta bagagem dentro do universo do automobilismo. Tendo corrido em algumas das principais categorias mundiais, o piloto conta que as suas pistas favoritas são as de alta velocidade, com um carinho especial para Interlagos.
As pistas favoritas que eu tenho são as de alta velocidade como SPA, Suzuka, pistas onde eu tinha um grande prazer de guiar em um circuito. E, claro, a corrida de casa para um brasileiro. Sem dúvidas, um sonho.
Já na hora de apontar o melhor piloto com o qual já competiu, Felipe Massa apontou alguns nomes importantes, mas conseguiu ser categórico na hora da sua decisão. Ainda listou o competidor com o qual mais sofreu.
Eu competi com muitos pilotos incríveis, até companheiros de equipe. Schumacher, Alonso, Kimi, mas o maior prazer que tive, muito por ser um grande fã, foi ser companheiro de equipe do Michael Schumacher. O Alonso foi o piloto que eu mais sofri como companheiro de equipe.
O futuro na Stock Car
Por fim, Felipe Massa falou sobre o seu futuro dentro da principal categoria do automobilismo brasileiro. Depois de um início de 2023 não tão bom quanto o desejado, o competidor da Lubrax | Podium parece não se desanimar com os resultados e segue trabalhando na busca para encontrar o acerto ideal do carro e fazer história na Stock Car.
Eu vim para a Stock Car para vencer. Meu trabalho é tentar virar um piloto vencedor aqui, tanto em corridas como em campeonatos. Nunca pensei em correr só para fazer parte do torneio, e sim para vencer. Estamos aqui tentando entender a categoria, mas isso [a vontade de ganhar] continua igual.
Para complementar, revelou que se sente muito bem atualmente. Para Felipe Massa, essa parece ser a medida para determinar até onde pode chegar na carreira.
Eu pretendo continuar enquanto eu estiver curtindo. Enquanto eu estiver entendendo que eu posso entregar muito como piloto. A gente sabe que a idade pesa em todos os esportes no geral. Mas, enquanto eu estiver curtindo, tendo prazer, vou continuar.
No momento, apenas não estou curtindo os resultados na Stock Car (risos), mas isso faz parte. No final, esse é o ponto que vai me fazer decidir por quanto tempo vou ficar.
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Editor no Esportelândia e redator no site Showmetech. Comentarista no portal “De Olho no Peixe” e diretor do documentário “Futebol do Espetáculo”, disponível no YouTube. Passou por Cinerama, PL Brasil e Futebol na Veia. Está no Esportelândia desde 2022.