Caio Bonfim, maior nome da história da marcha atlética brasileira, acaba de se tornar medalhista olímpico do Brasil na marcha atlética com a prata em Paris 2024. O marchador compartilhou suas experiências, desafios e aspirações no esporte.
Com quatro participações olímpicas, Caio exemplifica a dedicação e resiliência, além de superações no esporte. Em entrevista exclusiva ao Esportelândia, ele discutiu sua trajetória, os desafios enfrentados, os aprendizados e as estratégias mentais para lidar com a pressão.
Caio Bonfim também falou sobre suas expectativas para o futuro da marcha atlética no Brasil após sua medalha olímpica em Paris 2024, seu envolvimento com jovens atletas e o projeto em Brasília para incentivar novos talentos, além do legado que deseja deixar para as futuras gerações.
Entrevista com Caio Bonfim: medalhista de prata na Olimpíada de Paris 2024
Para Caio Bonfim, representar o Brasil nas Olimpíadas sempre foi um privilégio e a realização de um sonho. Disputando sua quarta Olimpíada, ele lembra do esforço que fez desde jovem para chegar lá. Apesar dos treinos rigorosos, sabe que os atletas são pessoas, não máquinas, e cada conquista exige muito esforço.
Valorizando cada ano olímpico, Caio sente grande alegria e satisfação em realizar esse sonho repetidamente, demonstrando sua perseverança e amor pelo esporte, além do orgulho em representar seu país.
Para mim, é um privilégio [disputar uma Olimpíada]. Um atleta do esporte olímpico trabalha para esse momento. Estou indo para a minha quarta Olimpíada. É um sonho sendo realizado. Aquele garotinho que lutou e conseguiu ir para a primeira.
Somos pessoas, não máquinas. Tentamos trabalhar cada degrau da nossa carreira. Quando entra o ano olímpico e você pode estar numa Olimpíada, já é o primeiro passo. Para mim, é uma alegria, uma satisfação poder realizar esse sonho neste momento.
Carreira no futebol e estratégias mentais de Caio Bonfim para lidar com a pressão
O primeiro contato de Caio Bonfim no esporte foi com o futebol. Quando jogou a primeira vez, pensou: “Quero isso para minha vida”. Então, descobriu que adorava estar em movimento. No início, era bola o que o Caio queria. Ser jogador de futebol era um plano sério e até começou bem: chegou a ser lateral na base do Brasiliense.
Perdi muito tempo com o futebol por causa disso: falavam que eu jogava bem e fiquei ali, insistindo. Joguei bem, acho que por causa do preparo físico. Sou ambidestro e sempre caia para lateral.
Eu dizia: ‘Treinador, não sou velocista. Não consigo chegar para cruzar. Corro o campo inteiro, o jogo todo, mas chegar lá está me atrapalhando'. Esse preparo físico foi me jogando para a marcha atlética.
Os primeiros desafios no esporte
Caio Bonfim jogou futebol dos 6 aos 16 anos, mas não obteve grande sucesso, sendo frequentemente o primeiro a ser substituído, o que lhe trouxe maturidade precoce. Mas tinha em casa bons motivos para mudar e hoje, medalhista de prata na Olimpíada de Paris 2024, se tornar referência.
Era titular, mas sempre o primeiro a ser substituído. Isso me trouxe uma maturidade precoce.
A constante hostilidade e xingamentos moldaram sua mentalidade e ajudaram a enfrentar ambientes hostis em competições com mais resiliência.
Lidar diariamente com o xingamento era sério, não era apenas um ‘mimimi', como algumas pessoas pensam. Era algo constante. Todos os dias. Para mim, lidar com isso todos os dias foi essencial.
Desenvolver estratégias mentais para superar adversidades foi essencial para sua preparação. Após as Olimpíadas do Rio em 2016, começou a receber reconhecimento e elogios, mas também enfrentou novas expectativas e cobranças técnicas.
Apoio da família para seguir na marcha atlética
Caio aprendeu a lidar com o apoio moral da família e a manter o foco na própria realidade, sem deixar que as expectativas externas afetassem seu desempenho. Ele superou muitos desafios mentais, mantendo sua constância e dedicação.
Você precisa aprender a lidar com isso, entender que quem te trouxe até aqui não foram essas expectativas. Não precisa se cobrar tanto. Na verdade, você não pode controlar as expectativas das pessoas. Precisa entender que as expectativas delas não são suas. Você conhece sua realidade.
Expectativas para o futuro da marcha atlética no Brasil
Caio Bonfim tem uma grande esperança para o futuro da marcha atlética no Brasil após a prata olímpica. A marcha atlética está presente nos Jogos Escolares e nos Jogos da Juventude, eventos que ele considera ideais para o desenvolvimento do esporte.
A primeira edição desses eventos contou com uma grande adesão e revelou talentos promissores, o que faz Bonfim acreditar no crescimento contínuo da marcha atlética.
Ao me preparar para os Jogos Olímpicos, meu objetivo sempre foi estar entre os melhores para poder representar o Brasil da melhor maneira possível. Portanto, tenho grandes esperanças para o futuro da marcha atlética e para o desenvolvimento dela no Brasil.
Expectativas para o futuro da marcha atlética no mundo
No cenário mundial, sua esperança é que o Brasil também produza grandes atletas e quer ter a honra de estar entre eles. Agora, medalhista de prata nos Jogos Olímpicos, seu objetivo é se manter entre os melhores para representar o Brasil da melhor maneira possível.
Ser mealhista olímpico me faz pensar que, ao longo dos anos, a marcha atlética só tende a crescer. Minha esperança é que, no cenário mundial, a marcha atlética brasileira também produza grandes atletas e que eu tenha a honra de estar entre eles.
Interação com jovens atletas
Caio Bonfim recorda com satisfação os momentos em que tem contato com jovens promissores. Ele costuma oferecer palavras de incentivo, atitudes que os atletas que estão começando a valorizar.
Caio se lembrou de seu próprio início, quando o melhor marchador do Brasil, Sérgio Galdino, o havia lhe inspirado de forma semelhante, um gesto que ele guardava com carinho.
Eu me lembro de quando eu era pequeno e o melhor marchador do Brasil na época era o Sérgio Galdino. Ele também veio conversar comigo e me incentivou, é alguém que guardo com carinho no coração e que me ajudou muito.
Caio Bonfim se sente extremamente feliz com o sucesso desses jovens e procura equilibrar sua presença na mídia. Ele deseja estar perto o suficiente para apoiá-los, mas também mantém uma certa distância para não impor pressão. Para Caio, é importante que os novatos recebam destaque por mérito próprio.
Eu tento não ficar muito presente na mídia, para que eles tenham seu próprio espaço. Por um lado, quero estar perto o suficiente para que tenham destaque na mídia, mas, por outro lado, tento manter uma certa distância para não colocar pressão. Quero que as atenções se foquem neles.
Caio Bonfim acredita que o Brasil possui uma grande matéria-prima no esporte e que oportunidades como essa eram fundamentais para revelar talentos excepcionais para o mundo.
Projeto em Brasília para crianças que sonham em ser atletas
Caio Bonfim relata com orgulho a importância do Estádio Augustinho Lima, em Sobradinho, que abriga uma pista de atletismo, embora um pouco desgastada, ainda funcional.
Seu pai, Sena, está presente diariamente no local, envolvido com o projeto há 40 anos. O Clube de Atletismo Sobradinho, iniciado em 1983, é uma extensão do legado familiar, e Caio faz parte dessa continuidade.
Ele destaca que o atletismo é um esporte acessível, o que permite ao projeto atender a comunidade local. O objetivo de Caio Bonfim e de sua família é transformar o atletismo em uma parte fundamental da vida em Brasília, solidificando a importância do esporte na região.
O atletismo é um esporte acessível, o que nos permite atender à comunidade. Nosso objetivo em Sobradinho é fazer do atletismo uma parte fundamental da vida em Brasília.
Legado que gostaria de deixar para os futuros atletas
Caio Bonfim deseja que a marcha atlética receba o mesmo reconhecimento que outras modalidades esportivas. Apesar de bons resultados garantirem algum destaque, ele acredita que a marcha atlética ainda não alcançou o status das provas de 100 m, 200 m e outras competições populares.
Claro, quando você conquista bons resultados, há um momento de destaque, algo que acontece em todas as modalidades. Mas eu gostaria que as pessoas vissem as medalhas olímpicas, nos campeonatos mundiais, nos Jogos Pan-Americanos da marcha atlética da mesma forma que veem qualquer outra.
Seu sonho é que jovens aspirantes a atletas, especialmente nas cidades onde a marcha atlética não é amplamente conhecida, encontrem facilmente oportunidades para praticar a modalidade.
Ele lembra que, no passado, muitos atletas começavam em escolas de atletismo com várias opções, e a marcha atlética frequentemente não recebia o suporte adequado.
Quero que o atletismo esteja presente nas escolas, nos Jogos Escolares, de modo que os professores identifiquem naturalmente os alunos que se destacam nessa modalidade.
Caio Bonfim espera que clubes e escolas incorporem a marcha atlética em seus programas, inspirando e identificando talentos desde cedo.
O brasiliense quer que a marcha atlética seja reconhecida e acolhida como uma parte vital do atletismo no país, estabelecendo-se como uma força significativa no esporte.
Eu mesmo, nascido em um lar onde minha mãe era marchadora, explorei diversas modalidades até me encontrar na marcha atlética. O atletismo é belo assim, atendendo a todas as variedades de talento.
Ele é verdadeiramente democrático. Meu legado seria ver a marcha atlética florescer como um dos principais frutos do esporte brasileiro, uma árvore forte e vigorosa no campo do atletismo.
Lei de incentivo ao Esporte e Bolsa Atleta
Caio Bonfim ressaltou a importância do Bolsa Atleta em sua carreira, destacando que é uma iniciativa concreta e essencial para seu desenvolvimento.
O atleta elogiou o projeto por cobrir diversas categorias e a transparência do processo de inscrição, comparando favoravelmente com a falta de suporte em outros países.
Além disso, mencionou o apoio da Confederação Brasileira de Atletismo e do programa Compete Brasília, que foram cruciais para suas conquistas.
Caio acredita que, apesar das possíveis melhorias, esses programas são fundamentais para sua carreira e o avanço da marcha atlética no Brasil, esperando que continuem a apoiar os atletas.
É um projeto real que impactou significativamente minha carreira. Desde o início até hoje, não consigo imaginar minha trajetória sem a Bolsa Atleta. Meu apoio financeiro continua sendo proveniente dela, adaptado, é claro, à minha categoria.
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Repórter no Esportelândia. Formada em Letras pela UFRJ e Jornalismo pela FACHA. Passou por Vavel Brasil, Esporte News Mundo, Futebol na Veia e PL Brasil. Está no Esportelândia desde 2021.