Um dos brasileiros que representou o Brasil em Paris 2024, Caio Bonfim trouxe a medalha de prata para o país. Caio Oliveira de Sena Bonfim, nasceu em Sobradinho, no dia 19 de março de 1991, e é especializado nas modalidades de marcha atlética de 20 km e 35 km.
O brasileiro costuma se sair melhor na marcha de 20 km, sendo também a prova olímpica disputada. Nessa modalidade, Caio Bonfim já conquistou a medalha de bronze nos Campeonatos Mundiais de Atletismo de Londres 2017 e Budapeste 2023.
Além disso, nos Jogos Olímpicos do Rio 2016, ficou em 4º lugar. Apesar do resultado, terminou em 1:19:42, que havia sido o recorde brasileiro na época. Nos Jogos Pan-Americanos de 2019 e 2023, ficou com a prata. Caio Bonfim é reconhecido como o recordista brasileiro em ambas as distâncias.
Início da carreira de Caio Bonfim
Caio cresceu com seu pai, João Sena, sendo treinador de sua mãe, Gianette Bonfim, 7 vezes campeã brasileira de marcha atlética e duas vezes medalhista sul-americana. Em sua infância, seu pai colocava 12 crianças dentro do carro para levar para o treino. Segundo Caio, seu pai fez muito mais cidadãos do que campeões.
A decisão de se dedicar à marcha atlética foi tomada ainda na adolescência, um momento crucial de escolhas e crescimento pessoal. Consciente das dificuldades que poderiam surgir, Caio optou por trilhar esse caminho, mesmo ciente dos obstáculos que encontraria.
Primeiro ciclo olímpico de Caio Bonfim
Em 2011, ingressou na categoria adulta e começou a competir nos 20 km, enfrentando adversários mais experientes e conseguindo bons resultados. Em 2012, aos 21 anos, Caio Bonfim alcançou o índice olímpico, um marco importante em sua carreira.
Foi um ciclo de 2 anos. Em 2011, entrei na categoria adulta pela primeira vez, enfrentando adversários adultos na mesma distância, e conseguimos bons resultados. Foi um ano desafiador, tudo era novo para mim.
Segundo ciclo olímpico de Caio Bonfim
Nos anos de 2013 e 2014, Caio Bonfim enfrentou desafios constantes para alcançar o índice olímpico, com o apoio de sua mãe, uma campeã brasileira e sul-americana, que destacou a importância da consistência e resiliência.
Esse ciclo olímpico foi um período de amadurecimento para Caio Bonfim, ensinando-lhe a lidar com a pressão e a perseverar. Ele não se contentava apenas em participar dos Jogos Olímpicos, mas almejava uma medalha.
Sua jornada até a Olimpíada foi marcada por desafios, aprendizado e crescimento, representando um período especial de autoconhecimento e desenvolvimento para alcançar seus objetivos esportivos.
Aquele ciclo me amadureceu muito. As pessoas diziam: ‘Caio, tenha calma'. Eu consegui o índice muito tarde, muito perto dos Jogos Olímpicos. As pessoas falavam: ‘Tenha calma! No Rio, você vai conseguir'.
Eu dizia: ‘Não! No Rio, quero uma medalha'. Eu era bem ousado. Esse primeiro ciclo foi especial porque foi quando me conheci melhor e obtive boas respostas desse autoconhecimento.
Desafios na carreira de Caio Bonfim na marcha atlética
Caio Bonfim enfrentou inúmeros desafios ao escolher a marcha atlética como sua carreira. Durante a adolescência, ele teve que tomar decisões difíceis e abraçar a marcha atlética em um país com uma cultura esportiva limitada.
O apoio financeiro foi uma dificuldade significativa, agravada pela falta de compreensão da sociedade e da escola. Sua família ofereceu apoio moral, mas fora de casa, o preconceito e a falta de compreensão eram constantes.
Escolher viver da marcha atlética não é fácil. Na adolescência, optei por essa carreira, enfrentando dificuldades financeiras e a falta de uma cultura esportiva no país.
Apesar do apoio inicial da família, percebi que, fora de casa, a compreensão era limitada, e o apoio moral foi tão desafiador quanto o financeiro.
Conciliação de treinos na marcha atlética com os estudos
Caio enfrentou dificuldades ao conciliar os treinos com a vida escolar, esforçando-se para não repetir de ano e manter o ritmo acadêmico, apesar das críticas e piadas sobre sua escolha esportiva.
Para ele, competir em uma Olimpíada parecia mais simples do que superar as adversidades diárias e o preconceito. Ao ingressar na universidade em Educação Física, as dificuldades persistiram, com falta de apoio, piadas e hostilidade.
A marcha atlética era como jogar fora de casa todos os dias, exigindo grande força mental para superar as dificuldades e manter o foco nos objetivos. Essas foram as maiores dificuldades enfrentadas por Caio ao longo de sua trajetória como atleta.
Treinar na rua era como jogar fora de casa todos os dias. Sabe como é jogar fora de casa, você é o goleiro e fica embaixo das traves, sendo xingado ali. Mas nunca joga em casa.
Era fazer marcha atlética. Sempre tinha uma piadinha, sempre uma hostilidade. Tinha que estar mentalmente preparado. Essas foram as minhas maiores dificuldades.
Aprendizados da marcha atlética para a vida
Caio Bonfim enfrentou diversos desafios na marcha atlética, sempre afirmando a seus professores que não seria interrompido. Ele entendeu a importância de popularizar o esporte para superar o ambiente hostil e evitar que outros desistissem.
Caio percebeu que sua missão era marchar não apenas por si, mas também pela comunidade e pelos futuros jovens atletas, buscando melhorar as oportunidades para a marcha atlética. Seu objetivo era deixar o esporte em um estado melhor do que o encontrou, um dos maiores aprendizados de sua carreira.
Entendi que precisava ser forte e popularizar o esporte, já que o ambiente hostil poderia desmotivar alguns.
Percebi que devia marchar pela comunidade e pelos jovens que viriam depois, e meu objetivo era deixar a marcha em um estado melhor do que encontrei.
Para mim, o maior aprendizado foi que não se tratava apenas de alcançar a Olimpíada, mas de ter outros objetivos e contribuir para o esporte.
Preconceitos culturais em um esporte com pouco apoio
Caio enfrentou preconceitos culturais e buscou mudar essa realidade, treinado por seus pais, com sua mãe tendo sido marchadora. Aprendeu que resultados eram essenciais para alterar a percepção pública, seguindo o conselho de seu pai: “O Brasil gosta de bons resultados”.
Bonfim notou que esportes como o vôlei e a ginástica transformaram sua imagem com conquistas notáveis. Para o marchador, a solução não era apenas discutir as dificuldades, mas avançar com determinação e resultados, promovendo a marcha atlética tanto nas ruas quanto no aspecto moral.
Não adianta apenas discutir, é preciso trazer bons resultados para mudar a perspectiva. O vôlei e a ginástica enfrentaram preconceito, mas com a Geração de Prata e os excelentes resultados na ginástica, esses esportes se tornaram muito respeitados hoje.
Aspectos técnicos a serem aprimorados
Caio Bonfim enfrentou grandes desafios na marcha atlética, um esporte com regras rigorosas que exigem um pé sempre em contato com o solo e a perna totalmente estendida no primeiro contato.
A técnica também envolve o movimento dos braços e do quadril. Treinado intensivamente por sua mãe, especialista na marcha atlética, Caio contava com seu acompanhamento 24h por dia, essencial para evitar desqualificações devido a erros técnicos, ao contrário de outros esportes com penalidades menos severas.
Além das regras básicas, a técnica envolve o movimento dos braços e do quadril. Eu contava com minha mãe, especialista na marcha atlética, que me acompanhava 24 horas por dia.
Na marcha atlética, erros técnicos podem levar à desqualificação, o que torna essencial manter a técnica constante. Esse desafio inclui lidar com a distância de 20 km, adversários e a constante análise por parte dos outros.
Durante as competições, Caio Bonfim precisa manter a técnica perfeita enquanto busca energia extra para ultrapassar os concorrentes. Isso requer um trabalho contínuo e detalhado, com horas de prática acumulando-se em semanas e meses de preparação.
A experiência e o fortalecimento contínuo são essenciais para aprimorar a técnica e superar fraquezas. Caio compreende que, para executar movimentos complexos, é necessária não apenas força mental, mas também capacidade técnica e experiência, destacando a importância de um trabalho técnico abrangente e constante:
É necessário fortalecer. Descobrimos onde há fraqueza e trabalhamos para fortalecer, visando melhorar tecnicamente. Na marcha atlética, a técnica exige estar sempre atento a todos os aspectos. É um trabalho abrangente, não se limita a uma única coisa, é tudo. É preciso estar atento a tudo.
Olimpíadas
Londres 2012
Caio Bonfim foi qualificado para competir em sua estreia olímpica nos Jogos de Londres 2012, após assegurar o índice e conquistar a medalha de ouro no Campeonato Sul-americano de Marcha Atlética. Porém, não teve um desempenho satisfatório, encerrando a prova em 39° lugar entre os 48 atletas que a completaram, registrando o tempo de 1:24:45.
Rio 2016
Nos Jogos Olímpicos do Rio 2016, obteve o melhor resultado da história do Brasil na marcha atlética, finalizando a competição de 20 quilômetros, sua especialidade, na quarta posição com o tempo de 1:19:42.
Assim, estabelecendo um novo recorde brasileiro e ficando a apenas cinco segundos do medalhista de bronze, o australiano Dane Bird-Smith. Na prova de 50 km, terminou em 9º lugar, mais uma vez superando o recorde nacional, com o tempo de 3:47:02.
Tóquio 2020
Em sua terceira participação olímpica, Caio Bonfim, natural de Sobradinho-DF, concluiu os 20 km da marcha atlética nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 na 13ª colocação, com 1:23:21.
O atleta foi o melhor brasileiro na competição, realizada na cidade de Sapporo, no norte do Japão. Contudo, não alcançou o resultado almejado, não repetindo o feito da quarta colocação nas Olimpíadas do Rio 2016, seu melhor desempenho olímpico até então.
Paris 2024
O marchador brasiliense Caio Bonfim garantiu o índice olímpico para os Jogos de Paris 2024. Em Varsóvia, na Polônia, venceu a prova de 20 km do circuito mundial com o tempo de 1:19:43, 27 segundos abaixo do exigido pela World Athletics.
E foi nessa quarta participação que veio a inédita medalha na marcha atlética. Caio Bonfim foi sensacional, do começo ao fim, ficando com a prata e subindo no pódio com o tempo de 1:19:09. No revezamento misto, junto a Viviane Lyra, ficaram na 7ª posição.
Jogos Pan-Americanos
Aos 20 anos, Caio Bonfim representou o Brasil nos Jogos Pan-Americanos de 2011, em Guadalajara, no México. Contudo, sua estreia nos Jogos Pan-Americanos foi abruptamente interrompida quando, após percorrer 19,950 km na prova, foi eliminado nos últimos 50 metros da marcha de 20 km.
A desclassificação ocorreu em meio a uma decisão arbitrária de recebimento de um terceiro cartão vermelho, enquanto ocupava a 8ª posição. Na edição seguinte dos Jogos Pan-Americanos, em 2015, Caio foi o único atleta brasileiro a representar o país na modalidade, conquistando a medalha de bronze nos 20 km.
Foi a primeira medalha brasileira na marcha atlética masculina do Pan desde o bronze de Marcelo Palma em Havana 1991. Em 2019, nos Jogos Pan-Americanos realizados em Lima, Caio alcançou a medalha de prata nos 20 km marcha, ficando apenas 7 segundos atrás do equatoriano Brian Daniel Alvez.
Embora a tão almejada medalha de ouro ainda não tenha sido conquistada, Caio Bonfim voltou ao pódio na marcha atlética 20 km masculina dos Jogos Pan-Americanos 2023 em Santiago, no Chile. Após o bronze em 2015, em Toronto (Canadá), e a prata em Lima (Peru), em 2019, o brasileiro repetiu a segunda posição.
Com este resultado, ele se tornou o atleta mais vitorioso do Brasil na marcha atlética nos Jogos Pan-Americanos, acumulando três medalhas nas últimas três edições.
Campeonatos Mundiais
No Campeonato Mundial de Atletismo em Londres, Bonfim assegurou a medalha de bronze, a primeira para o atletismo brasileiro nessa modalidade, diminuindo novamente seu próprio recorde brasileiro para 1:19:04.
Em agosto de 2023, o brasileiro Caio Bonfim conquistou a medalha de bronze na prova de 20 km da marcha atlética no Campeonato Mundial de Atletismo em Budapeste, Hungria, estabelecendo um novo recorde brasileiro de 1:17:47.
Esta foi a sétima participação de Caio no Campeonato Mundial, estreando em 2011 em 11º lugar. A partir de 2015, ele consistentemente se classificou entre os dez melhores do mundo em todas as competições que disputou. Ele alcançou o quarto lugar nas Olimpíadas do Rio 2016 e o bronze no Mundial de 2017. No Mundial do ano anterior, terminou em sexto lugar.
O ano de 2023 para Caio culminou com a única medalha do atletismo brasileiro na última edição do Mundial, em Budapeste, Hungria. O bronze nos 20 km da marcha reforçou mais uma vez o aumento do nível de competitividade do atleta brasiliense, mantendo-o entre os melhores do mundo.
Com a virada do ano, Caio Bonfim iniciou a temporada com mais surpresas: conquistou o bronze na etapa chinesa do Circuito Mundial de Marcha e estabeleceu um novo recorde brasileiro, registrando um impressionante tempo de 1:17:44.
Copa do Brasil de Marcha Atlética
Caio Bonfim, figura proeminente da marcha atlética no Brasil, triunfou em fevereiro deste ano nos 20 km da Copa Brasil de Marcha Atlética, evento que inaugurou a temporada nacional da modalidade em Vitória, Espírito Santo.
A corrida ocorreu em um circuito de um quilômetro na Mata da Praia, e Caio completou a distância em 1:21:26. Além de ser uma competição em si, o evento serviu como etapa classificatória para o Sul-Americano de Marcha, que ocorrerá no próximo mês em Recife. Caio assegurou o 13º título na categoria adulta desta competição, registrando o tempo de 1:21:26.
Mais conquistas
Qualificado para os Jogos Olímpicos de Paris 2024, Caio Bonfim alcançou mais uma conquista na temporada de 2023.
Após conquistar a medalha de bronze no Mundial de Budapeste (Hungria) e garantir duas medalhas – prata e bronze – nos Jogos Pan-Americanos de Santiago (Chile), o marchador sagrou-se campeão dos 20 km da World Athletics Race Walking Tour.
Este circuito representa as principais competições de marcha atlética do mundo, sendo equiparado à Liga Diamante para as provas de pista e campo.
Marcas pessoais de Caio Bonfim
Evento | Marca | Local | Data |
Marcha 20 km | 1:19:09 | Paris, França | 1 de agosto de 2024 |
Marcha 20 km | 1:17:47 | Budapeste, Hungria | 19 de agosto de 2023 |
Marcha 35 km | 2:25:14 | Eugene, Estados Unidos | 24 de julho de 2022 |
Marcha 50 km | 3:47:02 | Rio de Janeiro, Brasil | 19 de agosto de 2016 |
Repórter no Esportelândia. Formada em Letras pela UFRJ e Jornalismo pela FACHA. Passou por Vavel Brasil, Esporte News Mundo, Futebol na Veia e PL Brasil. Está no Esportelândia desde 2021.