Ídolo de Ayrton Senna, o argentino Juan Manuel Fangio foi o primeiro grande piloto da história do automobilismo mundial. Isto porque, sua trajetória se confunde com o início deste esporte e também com o início da Fórmula 1.

Dessa forma, Fangio disputou o primeiro campeonato de Fórmula 1 de todos os tempos e conquistou cinco das oito primeiras temporadas desta categoria, que é considerada a maior do meio automobilístico.

Portanto, vamos conhecer um pouco mais sobre a vida e carreira dessa lenda, que é, até hoje, eleito por muitos o maior pilotos de todos os tempos. Sendo assim, o piloto ocupa o hall da fama da Fórmula 1.

Portanto, venha com a gente descobrir mais sobre os fatos e curiosidades da história de Juan Manuel Fangio!

“Todos os anos alguém se consagra campeão do mundo. Mas é circunstancial. O verdadeiro campeão do mundo é um só. É Juan Manuel Fangio” – Ayrton Senna (1993) - Foto: Reprodução/Museu Fangio
“Todos os anos alguém se consagra campeão do mundo. Mas é circunstancial. O verdadeiro campeão do mundo é um só. É Juan Manuel Fangio” – Ayrton Senna (1993) – Foto: Reprodução/Museu Fangio

Fangio: o início de uma lenda

Sete anos após a criação da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) em 1904, nasceu Juan Manuel Fangio (24 de junho de 1911), em Balcarce, Província de Buenos Aires, Argentina. Assim, filho de uma humilde família de imigrantes italianos, Fangio abandonou os estudos aos 12 anos de idade para trabalhar em uma oficina mecânica.

Dessa forma, o lendário piloto iniciou sua história no automobilismo e disputou sua primeira corrida aos 18 anos como co-piloto de Manuel Ayerza, a bordo de um Ford-T, terminando a corrida na última posição. Porém, o resultado não desanimou o jovem Fangio.

Assim, após servir o exército militar como motorista do comandante, ele abriu sua própria garagem. Juan começou a correr oficialmente em 25 de outubro de1936, na categoria Turismo de Estrada, dirigindo um Ford Model A de 1929, modificado e reconstruído pelo próprio piloto portenho.

Em 1938, Fangio estreou na categoria argentina Turismo Carretera, competindo em um Ford V8. Assim, Juan venceu importantes provas, como as Mil Milhas Argentinas, em 1939, e a prova de resistência de 10 mil km (de Buenos Aires-ARG até Andes-PER), em1940.

Então, após ser bicampeão da categoria, em 1940 e 1941, o Portenho começou a ganhar reconhecimento em seu país.

Juan Manuel Fangio no seu Ford Model A. Fonte: Reprodução/site fotos viejas mar de plata fotos viejas mar de plata
Juan Manuel Fangio no seu Ford Model A. Fonte: Reprodução/site fotos viejas mar de plata

Fangio: o “Maestro” da Fórmula 1

Em 1942, o automobilismo de todo o mundo encerrou as atividades devido a segunda guerra mundial. Contudo, após o fim do combate, Fangio obteve patrocínio do Governo Argentino e, em 1947, foi competir nos Grandes Prêmios da Europa, centro das principais competições do automobilismo mundial.

Assim, em 1950 os Grandes Prêmios foram unificados em um único campeonato, dessa forma se tem o início da principal categoria deste esporte, a Fórmula 1.

Então, aos 38 anos, Juan Manuel Fangio inicia sua trajetória na Fórmula 1 pela equipe Alfa Romeo, conquistando três das seis corridas da competição.

Entretanto, o Portenho ficou com o vice-campeonato na estreia da categoria, perdendo por três pontos para seu companheiro de equipe Giuseppe Farina, que também obteve três vitórias na temporada.

Contudo, no ano seguinte, o argentino conquistou seu primeiro título mundial ao derrotar a Ferrari de Alberto Ascari. Iniciando assim, sua vitoriosa carreira na maior categoria do automobilismo mundial.

O acidente mais grave de Fangio

Fangio teve sua carreira interrompida em 1952 devido ao acidente mais grave de sua história. Ao seguir de avião para a Itália, onde disputaria o Grande Prêmio de Monza, o piloto fez escala em Paris, mas não pôde continuar a viagem devido ao mau tempo.

Assim, para não perder a prova, o piloto argentino dirigiu aproximadamente 700 km até Monza. Então, Fangio chegou cansado da viagem para disputar a prova e bateu o seu Maserati na segunda volta da sessão de treinos, sendo arremessado para fora do carro.

Em consequência, o piloto feriu-se gravemente no pescoço, ficando 40 dias internado no hospital e cinco meses com o tronco e pescoço imobilizados. Porém, apesar do susto, ele voltou a competir no ano seguinte, em 1953, e conquistou o vice-campeonato correndo pela escuderia Maserati.

Juan Manuel Fangio: de ídolo a lenda do automobilismo

Após o vice-campeonato, Fangio iniciou a temporada de 1954 como piloto da Maserati e terminou como piloto da Mercedes-Benz. Dessa forma, o argentino conquistou duas vitórias pela escuderia italiana e mais quatro vitórias pela equipe alemã.

Portanto, se sagrando bicampeão mundial e iniciando uma sequência de quatro títulos seguidos. Assim, foi nessa sequência de quatro anos que o argentino virou “El Maestro” e uma lenda da Fórmula 1.

Em 1955, Fangio conquistou seu terceiro título mundial ainda como piloto da Mercedes-Benz. Contudo, a escuderia alemã abandonou as corridas após a tragédia na corrida de 24 Horas de Le Mans, que vitimou 84 espectadores e um piloto.

Dessa forma, o argentino foi contrato por Enzo Ferrari para conquistar o seu quarto título mundial e o terceiro título da Escuderia Italiana na Fórmula 1.

A última façanha de Fangio

A relação entre Enzo Ferrari e Juan Manuel Fangio nunca foi das melhores e, no ano seguinte, o piloto argentino deixou a escuderia. Assim, Juan voltou para a Maserati, em 1957, e conquistou o seu título mais improvável com um carro muito inferior ao de seus concorrentes.

Foi neste ano que o piloto portenho fez sua maior corrida da carreira, no GP alemão de Nürburgring, quando ele teve um problema no reabastecimento e fez uma corrida de recuperação.

Acabou quebrando o recorde da pista volta a volta e tirando uma grande diferença de tempo até conseguir ultrapassar as duas Ferraris, se consagrando penta campeão mundial. Após a corrida Fangio disse em entrevista:

 Eu nunca dirigi tão rápido antes na minha vida e acho que nunca mais poderei fazê-lo novamente.

Assim, o argentino conquistou o prêmio anual da Academia Francesa de Esportes por ser o autor da mais impressionante façanha esportiva do mundo.

Fangio e sua Maserati 250 no GP de Mônaco, em 19 de maio de 1957. Fonte: Museu Fangio
Fangio e sua Maserati 250 no GP de Mônaco, em 19 de maio de 1957. Fonte: Museu Fangio

Aposentadoria de Juan Manuel Fangio

O fim da carreira de Juan Manuel Fangio no automobilismo se deu no auge de seus 47 anos, após o GP da França, no circuito de Reims, em 1958.

Contudo, além da idade, uns dos principais motivos para encerrar sua carreira foi a percepção de que os tempos românticos do automobilismo estavam acabando. Assim, El Maestro explicitou isso em uma entrevista anos após a sua aposentadoria:

Eu estava em Reims, a treinar para o Grande Prêmio da França, quando senti que o carro estava muito instável, o que me chamou a atenção porque a grande virtude da Maserati 250F era sua estabilidade.

Então cheguei ao box e perguntei ao chefe de equipa o que se passava; ele respondeu-me:- Trocamos os amortecedores! – Mas porquê?, perguntei. – Porque estes nos pagam! – Assim, naquele momento, tomei a decisão de encerrar a carreira. E não me arrependo disso!” – disse Fangio.

A vida do Maestro após o fim da carreira automobilista

Após a aposentadoria, em 1974, o Maestro foi presidente da Mercedes-Benz Argentina e, em 1987, virou presidente honorário da escuderia. Um ano antes, em 1986, foi inaugurado o Museu Fangio, em Balcarce, na Argentina.

Então, em julho de 1995, Juan Manuel Fangio faleceu vítima de insuficiência crônica renal aos 84 anos. Assim, a lenda das pistas nos deixou como o recordista de títulos da Fórmula 1 e sua marca de cinco títulos só foi superada em 2003, pelo alemão Michael Schumacher.

Em 2011, no centenário de seu nascimento, o ídolo argentino foi homenageado por todo o mundo e será eternamente lembrado como a primeira lenda do automobilismo mundial.

Curiosidades

“El Chueco” – O futebolista Fangio

Como bom argentino que era, Juan Manuel Fangio também era apaixonado pelo futebol e em 1928 jogou pelo clube Rivadavia como ala direito, onde foi apelidado com “El Chueco” (pernas tortas), apelido que o acompanhou por toda a vida.

Fangio como ala direito no Clube Rivadavia em 1928. Fonte: Reprodução do site fotos viejas mar de plata
Fangio como ala direito no Clube Rivadavia em 1928. Fonte: Reprodução do site fotos viejas mar de plata

O sequestro do Maestro em cuba

Como bom argentino que era, Juan Manuel Fangio também era apaixonado pelo futebol e em 1928 jogou pelo clube Rivadavia como ala direito, onde foi apelidado com “El Chueco” (pernas tortas), apelido que o acompanhou por toda a vida.

Com isso, a ação dos guerrilheiros tinha como objetivo mostrar a força do movimento revolucionário, que lutava contra Fulgêncio Batista, o ditador que governava o país. Contudo, o Maestro foi libertado após dois dias e os sequestradores se afeiçoaram ao argentino e até convidaram ele para ouvir a corrida no rádio.
Além disso, Fangio nunca guardou rancor dos guerrilheiros, pois acreditava que tudo havia sido por uma causa nobre. Então, foi daí que nasceu uma longa amizade do piloto com Fidel Castro.
“Eles pareciam ótimos para mim”, disse Fangio após o sequestro.
sequestro

Os filhos de Fangio

Poucos anos após a morte de Juan Manuel Fangio, o argentino Rubén Juan Vázquez, de 63 anos, trabalhava em um hotel no balneário de Pinamar, na Província de Buenos Aires.

Então, um dia, um hóspede perguntou se ele não era filho de Fangio por ser muito parecido com campeão mundial. Assim, Rubén perguntou a sua mãe, Catalina Basili, se a suspeita do hóspede poderia ser verdadeira.

A princípio, Catalina negou, porém cinco anos mais tarde, após a morte de seu marido, que tinha criado Rubén como filho, confessou que ele era filho do Maestro. Catalina e Fangio tiveram uma relação em 1940 quando ela estava separada do marido.

A saber, Rubén mudou seu nome para Rubén Juan Fangio após ser reconhecido na justiça como o filho da lenda argentina. Assim, o filho de Catalina e Fangio ganhou milhões como herdeiro do campeão mundial.

Além de Rubén, o Maestro teve outro filho reconhecido após sua morte. O argentino Oscar ‘Cacho' Fangio, quatro anos mais velho que Rubén, também foi reconhecido como herdeiro do piloto.

Cacho foi corredor de automóveis de Fórmula 3, e chegou a conviver com o campeão mundial e também era chamado de Fangio nas pistas. A saber, Fangio e a mãe de Oscar moraram juntos e existem cartas, fotos e vídeos dos dois juntos, como, por exemplo, nas corridas que o piloto participou na Alemanha e em outros países da Europa.

Atualmente, Oscar e Rubén, se reconhecem como irmãos, mesmo tendo se conhecido depois dos 70 anos de idade.

Ruben e Oscar Fangio entre Tatiana Calderón e Frédéric Vasseur no GP da Inglaterra Foto: Reprodução/Sauber
Ruben e Oscar Fangio entre Tatiana Calderón e Frédéric Vasseur no GP da Inglaterra Foto: Reprodução/Sauber

Números de Fangio na Fórmula 1

  • Títulos 5 (1951-54-55-56-57)
  • Corridas 51
  • Vitórias 24 (47%)
  • Pontos 245
  • Pódios 35 (69%)
  • Poles 29 (56%)
  • Melhor temporada 1954 (6 vitórias em 8 corridas)

Recordes de Fangio na Fórmula 1

  • Maior percentual de vitórias: 47,06%
  • Maior percentual de poles: 55,7%
  • Piloto com maior percentual de títulos: 62,5%
  • Maior percentual de largadas na primeira fila: 94,1%
  • Maior percentual de pódios: 68,6%
  • Único piloto campeão mundial por quatro equipes diferentes (Alfa Romeo, Maserati, Ferrari e Mercedes)
Em pé, da esquerda para a direita: James Hunt (campeão em 1978), Jackie Stewart (1969, 1971 e 1973) e Denis Hulme (1967). Sentados: Nelson Piquet (1981, 1983 e 1987), Juan Manuel Fangio (1951, 1954, 1955, 1956 e 1957), Ayrton Senna (1988, 1990 e 1991) e Jack Brabham (1959 e 1960)
Em pé, da esquerda para a direita: James Hunt (campeão em 1978), Jackie Stewart (1969, 1971 e 1973) e Denis Hulme (1967). Sentados: Nelson Piquet (1981, 1983 e 1987), Juan Manuel Fangio (1951, 1954, 1955, 1956 e 1957), Ayrton Senna (1988, 1990 e 1991) e Jack Brabham (1959 e 1960)

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