“Depois do acidente, saí de um casulo. Era um cara que sonhava muito, mas não tinha muitas expectativas de vida. A minha autoestima ficou muito melhor. Eu me senti mais bonito, fiquei mais forte. Se eu soubesse, já teria cortado minha perna antes, porque melhorou muito”.

A fala acima resume bem o modo como o atleta paralímpico Vinícius Rodrigues se coloca diante das adversidades. Ele teve a perna esquerda amputada acima do joelho quando tinha apenas 19 anos, mas usou aquele acidente como o impulso para novas conquistas.

Se você não conhecia Vinícius, podemos adiantar que ele é recordista mundial nos 100 metros. Ele também já foi ao pódio no Mundial Paralímpico e foi medalhista de prata para o Brasil na Paralimpíada de Tóquio.

Para conhecer tudo sobre a incrível história de Vinícius Rodrigues, continue conosco!

Quem é Vinícius Rodrigues?

Quem é Vinícius Rodrigues
Vinícius Rodrigues é recordista mundial dos 100 metros na classe T63

Vinícius Rodrigues é um atleta paralímpico brasileiro. Ele compete na classe T63, para amputados de perna acima do joelho e, em 2019, registrou o recorde mundial de sua classe nos 100 metros rasos, com o tempo de 11s95.

Dono da melhor marca da história e medalhista de bronze no Mundial de Atletismo Paralímpico de Dubai, Vinícius é um dos grandes nomes do atletismo brasileiro, tendo inclusive feito sua estreia no maior evento esportivo na Paralimpíada de Tóquio, em 2020.

A medalha olímpica foi a coroação de uma inspiradora história de como superar os limites e encarar as adversidades de forma positiva. 

Confira, a seguir, todos os detalhes da trajetória de Vinícius Rodrigues!

História de Vinícius Rodrigues

História do atleta paralímpico Vinícius Rodrigues
Vinícius Rodrigues não competia no atletismo até sofrer acidente aos 19 anos

Vinícius Rodrigues nasceu em 28 de novembro de 1994, em Rosana, na divisa entre São Paulo e Paraná. Aos 5 anos, ele se mudou para Iepê, também no interior paulista, até que chegou a Maringá aos 10 anos.

Ao longo de sua adolescência na cidade paranaense, o atletismo ainda não fazia parte de sua rotina. Ele praticava judô e futebol. Foi quando começou a servir no Exército que experimentou a sensação de uma competição. “Competi pela primeira vez e senti o que era uma competição de verdade, aquela torcida, aquela pegada toda”, destaca, em entrevista à Esportelândia.

Depois do Exército, os planos se Vinícius seguiam pela carreira militar. “Antes de sofrer o acidente, eu tinha acabado de passar no concurso da Polícia Militar do Paraná. Eu estava perto de fazer o teste físico quando sofri o acidente. No teste físico, fui de muletas para que não fosse registrada ausência e até fiz o recorde das barras neste dia. Minha meta era na Polícia e seguir carreira, até que o acidente mudou tudo”.

Acidente e amputação da perna esquerda

O acidente citado por Vinícius Rodrigues aconteceu quando ele tinha 19 anos, em Maringá. Ele andava de motocicleta ao ser atingido por um carro. “Um carro me fechou e eu tive todo o impacto na canela. Minha perna explodiu na hora”, relembra.

Os médicos informaram a Vinícius que teriam de amputar sua perna esquerda, senão haveria risco de ter passar por novas cirurgias e outras amputações. “Falei ‘mete a faca logo’. Perdeu uma, tem duas”. 

“Não foi fácil uma notícia assim, mas eu estava mais preocupado em ficar vivo. Em relação à perna, não estava preocupado. Sempre tive o pensamento que tinha duas. Se perdesse uma, ainda dava para sair pulando. E confiei em Deus”, acrescenta. 

Ainda no hospital, Vinícius Rodrigues começou a planejar sua vida a partir de então. E o esporte paralímpico surgiu como um novo caminho a ser percorrido.

Recuperação e início no atletismo paralímpico

Quando se recuperava do acidente que levou à amputação de sua perna esquerda, Vinícius recebeu a visita de Terezinha Guilhermina. Ela nasceu com retinose pigmentar, doença congênita que provoca a perda gradual da visão, e conquistou 8 medalhas em Paralimpíadas, sendo 3 ouros.

“A Terezinha me visitou no hospital porque tínhamos alguns amigos em comum. Fiz um evento beneficente em Maringá, onde nossos amigos se encontraram, mas eu ainda não conhecia a Terezinha. Ela acabou me visitando no hospital e deu esse novo rumo para mim”, explica Vinícius.

Terezinha deu a ele um moletom que havia usado no pódio na Paralimpíada de Pequim, em 2008, além de um livro do Comitê Paralímpico Brasileiro, com todas as modalidades adaptadas. 

Ao ver a imagem de uma prótese para atletas que tiveram a perna amputada, Vinícius Rodrigues decidiu que competiria no atletismo paralímpico.

Além de Terezinha Guilhermina, outra inspiração para o futuro recordista mundial foi o alemão Heinrich Popow, que também tem parte de uma perna amputada e foi campeão paralímpico no salto em distância, nos Jogos do Rio 2016, e nos 100 metros, em Londres 2012.

“O Popow foi o cara que vi na foto e pensei ‘se ele consegue, também consigo’. No hospital, já mandei um e-mail, perguntei a ele como eu conseguiria uma prótese. Ele mandou que um amigo do Brasil me avaliasse, viu que eu tinha o perfil e me deu esse apoio. É como um irmão mais velho e um exemplo para ser seguido dentro e fora das pistas. É um cara fenomenal”, ressalta.

Não demorou muito para que Vinícius Rodrigues iniciasse sua trajetória no atletismo paralímpico e batesse as marcas que Heinrich Popow havia estabelecido.

Principais conquistas de Vinícius Rodrigues

Vinícius Rodrigues medalhista de bronze no Mundial Paralímpico de Dubai em 2019
Vinícius Rodrigues foi medalhista de bronze no Mundial Paralímpico de Dubai em 2019

Em abril de 2019, Vinícius Rodrigues entrou, definitivamente, para a história do esporte paralímpico mundial. Na abertura do Open Internacional de Atletismo e Natação, no CT Paralímpico, em São Paulo, ele estabeleceu o recorde mundial dos 100m da classe T63, para amputados de perna acima do joelho, com o tempo de 11s95.

 “Eu me tornar recordista mundial foi muito bom. Chorei muito de alegria. Foi o momento que relembrei tudo que passei. Sabia também que tinha muita coisa a melhorar e ser mais rápido ainda. Foi só a primeira grande estreia, para mostrar para o que eu vim”, destaca.

Com o status de atleta mais veloz da história, Vinícius passou a vislumbrar ainda mais conquistas. Nos Jogos Parapan-Americanos de 2019, em Lima, ele era o mais forte candidato a vencer os 100m da classe T63, mas outros países não enviaram representantes suficientes para a disputa e ele foi obrigado a competir em uma categoria acima, ficando no quarto lugar.

“Saí daqui para competir e, por os outros países não classificarem seus atletas, acabei competindo com outra categoria, sabendo que na minha eu teria pego medalha de ouro. Foi meio chato, mas corri com a classe acima e foi uma experiência boa”, diz o brasileiro, com o discurso de quem sempre enxerga o lado positivo das adversidades.

No Mundial de Atletismo Paralímpico de Dubai, em 2019, Vinícius Rodrigues pôde competir na classe T63 e foi ao pódio pela primeira vez. “Foi meu primeiro Mundial e pude pegar a medalha de bronze”, salienta.

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Participação de Vinícius Rodrigues em Paralimpíadas

Vinícius Rodrigues na Paralimpíada
Vinícius Rodrigues se prepara para estrear na Paralimpíada em Tóquio

Vinícius se preparou e estreou nos Jogos Paralímpicos, em Tóquio. A vaga na competição não foi conquistada cedo por um centésimo, mas as marcas já estabelecidas o deixaram seguro em sua preparação.

“O índice é 12s24 e eu fiz 12s25 no Mundial de Dubai. E minha melhor marca é 11s95. Então é só dar a ‘encaixada de corrida’ que faço esse índice. Eu preciso é chegar bem em Tóquio, acertar o que errei em Dubai, trazer essa medalha para minha casa e para meu país”, afirma o recordista mundial.

Os principais adversários de Vinícius Rodrigues pelo ouro olímpico são o dinamarquês Daniel Wagner e o alemão Leon Schaefer, campeão e vice do Mundial Paralímpico de Dubai, em 2019.

Para superá-los, o brasileiro treinou cerca de seis horas por dia, de segunda a sábado, no Centro Paralímpico. Os treinos de pista são segunda e sexta-feira. Às terças e quintas, ele faz atividades na academia. Nos demais horários, há treinamentos técnicos, fortalecimento, fisioterapia e regeneração.

O ouro em Tóquio era uma das metas de carreira estabelecidas por Vinícius, que já foi campeão brasileiro. “Campeonatos nacionais nunca foram a minha meta. Sempre me visualizei sendo campeão mundial e paralímpico”, ressalta.

Independentemente do resultado a ser conquistado em Tóquio, Vinícius Rodrigues já se estabelece como uma referência no esporte paralímpico brasileiro. Para quem quer seguir seus passos, ele deixa uma mensagem. 

“Para entrar no esporte paralímpico, tem de querer muito. Dependendo da modalidade que você escolhe, é muito sofrido e não muito justo. Não haverá muito apoio e investimento no começo. É preciso ser resiliente”, alerta. 

“Você tem de procurar se desenvolver, estar perto dos melhores treinadores, sair do interior e ir para a capital. E ir para cima, acreditar em você, não impor nenhum limite. A gente é brasileiro e está no nosso DNA se reinventar. Temos de colocar nosso pensamento no alto. Se mirar na estrela, você vai acertar a Lua”.

Participação na Paralímpiada de Tóquio 2020

O principal evento esportivo do mundo foi realizado em 2021 devido a pandemia causada pelo coronavirus. No Japão, Vinícius Rodrigues foi muito bem e conquistou a medalha de prata dos 100m da classe T63.

Para chegar lá, o brasileiro venceu a primeira eliminatória com o tempo de 12s11, com três centésimos de vantagem para o segundo colocado Anton Prokhorov, da Rússia. Dessa maneira, o brasileiro se classificou para final da modalidade.

Com o melhor tempo dos oito finalistas nas eliminatórias, Vinícius foi forte candidato para conquistar um lugar no pódio. O favoritismo foi confirmado, depois de uma grande prova, o brasileiro conquistou a medalha de prata em Tóquio, após ficar um decimo atrás de Prokhorov.

O pódio completo foi: ouro, Anton Prokhorov, com o tempo de 12s04, prata, Vinícius Rodrigues, com o tempo de 12s05 e o bronze ficou com Leon Schaefer, com o tempo de 12s22.

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*Última atualização em 16 de agosto de 2023