Jon Jones, um dos maiores nomes da história do MMA e UFC, é conhecido tanto por seu impressionante talento dentro do octógono quanto pelas polêmicas que marcaram sua trajetória fora dele.
Natural de Rochester, Nova York, Jon nasceu em uma família religiosa, com seu pai, Arthur Jones, sendo um pastor da Igreja de Deus em Cristo do Monte Sinai. O desejo de Arthur para o futuro de Jon era claro: que seu filho seguisse seus passos na fé e se tornasse pastor.
Contudo, o destino de Jon seria bem diferente, levando-o a se tornar um dos atletas mais controversos da história, com excelência nos octógonos e um abismo fora dele. Até decidir abraçar uma nova fé, a cristã, em um momento de redirecionamento em sua vida.
Da vida religiosa à busca por justiça e o sucesso de Jon Jones no MMA
Primeiros passos de Jon Jones nas artes marciais e na fé
Nos primeiros anos da vida de Jonathan Dwight Jones, seu pai já vislumbrava uma vida de serviço à comunidade religiosa para ele e acreditava que o filho pregaria e seria inspiração moral para os outros. Jon, no entanto, não seguiu esse caminho.
Decidiu estudar Justiça Criminal na faculdade, movido por um desejo de fazer a diferença no sistema judicial.
Porém, o universo do MMA lhe mostrou sua verdadeira vocação, deixando para trás sua ambição acadêmica e os princípios de justiça que haviam orientado sua escolha inicial.
A tragédia pessoal e os primeiros testes, nas artes marciais e na religião
A fé de Jones foi testada em momentos difíceis de sua vida, especialmente quando ele perdeu sua irmã mais nova para o câncer cerebral.
Ele compartilhou publicamente que, apesar da dor e das dificuldades que enfrentou, nunca perdeu sua fé em Deus. Em uma entrevista de 2013, ele disse:
Apesar de todas as perguntas que tive, nunca desisti de Deus, nunca desisti da minha fé.
A princípio, antes de iniciar sua carreira no MMA, Jones era um grande wrestler no ensino médio, sendo campeão estadual em Los Angeles e nacional em Iowa. Então, em 2008, aos 20 anos, estreou no MMA, se afastou dos valores espirituais que seu pai tanto almejava para ele.
Estreia no MMA e sucesso no UFC sem Jesus Cristo
Como resultado de sua estreia no UFC, atingiu o mais alto nível no esporte que qualquer atleta de MMA sonharia.
Entretanto, não estava em paz consigo mesmo. Seu comportamento controverso, somado a uma série de problemas legais e conflitos com autoridades, afastaram-no ainda mais de sua doutrina cristã.
Jon Jones se envolveu em fugas de cenas de acidentes, embriaguez ao volante, testagens positivas para substâncias proibidas e até mesmo acusações de violência doméstica. Foi realmente um período tumultuado de sua vida.
Os 10 demônios de Jon Jones na vida pessoal e sua jornada de fé que culminou no GOAT do MMA
O paralelo entre a busca por redenção na fé e a busca por perfeição no MMA é evidente. Jon Jones, em sua jornada para se tornar o maior de todos os tempos (GOAT) no UFC, precisou enfrentar seus próprios demônios.
As lições que ele aprendeu dentro e fora do octógono acabaram se cruzando, com o lutador começando a entender que sua verdadeira força não vinha apenas de sua habilidade física ou mental, mas de uma conexão espiritual mais profunda.
Antes de sua transformação espiritual, o atleta tinha tudo para ser lembrado como um dos maiores campeões, mas também como alguém que falhou em várias áreas da vida, como atropelamento e fuga, uso de drogas, álcool, agressão física, importunação sexual, etc.
- Acidente de carro por dirigir embriagado (2012)
- UFC 182 – Doping por cocaína (2015)
- Condenação por atropelamento e fuga (2015)
- UFC 200 – Doping por clomifeno e letrozol (2016)
- UFC 214 – Dopig por purinabol (2017)
- UFC 232 – Doping por “efeito pulsante” de turinabol (2018)
- Importunação sexual a uma garçonete (2019)
- Prisão por dirigir alcoolizado e uso negligente de arma de fogo (2020)
- Prisão por violência doméstica (2021)
- Acusação de agressão verbal e ameaça (2024)
1 – Acidente de carro por dirigir embriagado (2012)
Na madrugada de 19 de maio de 2012, Jones bateu seu Bentley Continental GT em um poste em Binghamton, Nova York, após estar dirigindo sob influência de álcool. O lutador foi preso e mais tarde libertado por sua mãe sob pagamento de fiança.
Ele se declarou culpado de acusações, sendo condenado a pagar uma multa de US$ 1 mil, instalar bloqueios de ignição em todos os seus veículos, concluir uma aula de impacto de vítimas e teve sua carteira de motorista suspensa por 6 meses.
2 – UFC 182 – Cocaína (2015)
Antes de sua luta com Daniel Cormier no UFC 182, em janeiro de 2015, Jon Jones testou positivo para benzoilecgonina, o principal metabólito da cocaína.
Como a substância não é proibida fora da competição pela Agência Mundial Antidoping (WADA), Jones pôde competir normalmente.
A amostra foi coletada em 3 de dezembro de 2014, com o resultado positivo revelado em 23 de dezembro. Uma semana depois, ele passou em um segundo teste, e o metabólito da cocaína já estava fora do seu sistema.
Após o escândalo, Jones passou uma noite em reabilitação, e foi multado em US$ 25 mil pelo UFC por violar o código de conduta do atleta.
3 – Condenação por atropelamento e fuga (2015)
Em abril de 2015, Jon Jones foi procurado pela polícia de Albuquerque, Novo México, após estar envolvido em um atropelamento e fuga.
Ele teria colidido com dois veículos em um cruzamento, fugido a pé, deixando uma mulher grávida ferida no local, não antes de voltar ao carro para pegar dinheiro para escapar.
A polícia encontrou um cachimbo com maconha no veículo alugado de Jones e ele foi acusado de um crime grave por deixar a cena do acidente. Após se entregar à polícia, Jones pagou fiança e foi liberado, mas o UFC o suspendeu e retirou seu título de campeão.
Em setembro de 2015, Jones se declarou culpado e foi condenado a liberdade condicional supervisionada, com a obrigação de cumprir serviços comunitários. Em 2016, ele admitiu sua fuga e a falta de verificação da condição da outra pessoa envolvida.
4 – UFC 200 – Clomifeno e Letrozol (2016)
Em julho de 2016, Jones foi flagrado em um teste antidoping positivo para duas substâncias proibidas: clomifeno e letrozol.
Essas substâncias são moduladores hormonais e metabólicos, usadas para tratar desequilíbrios hormonais, e não podem ser utilizadas nem dentro nem fora da competição.
A violação foi detectada em 16 de junho de 2016, e após o teste B confirmar o resultado, Jones foi removido do UFC 200, com Anderson Silva substituindo-o.
Jones alegou que os produtos que usou estavam contaminados, e a USADA concordou que ele não havia tomado as substâncias de forma intencional. Contudo, foi suspenso por 1 ano pela USADA.
5 – UFC 214 – Turinabol (2017)
Em agosto de 2017, Jon Jones testou positivo para Turinabol, um esteroide anabolizante, após sua vitória sobre Cormier no UFC 214. O teste positivo foi detectado em uma amostra coletada antes da luta.
Como resultado, a Comissão Atlética da Califórnia (CSAC) anulou a vitória de Jones e a reconquistou para Cormier.
Jones foi suspenso provisoriamente e, após uma audiência, recebeu uma suspensão de 15 meses, retroativa a 28 de julho de 2017, além de 3 meses de serviço comunitário.
Ele alegou que os suplementos que tomou estavam contaminados e sua suspensão foi reduzida devido à sua colaboração com a USADA.
6 – UFC 232 – “Efeito Pulsante” de Turinabol (2018)
Em 2018, antes de sua luta contra Alexander Gustafsson no UFC 232, uma nova questão com o doping surgiu: uma quantidade mínima do metabólito de Turinabol foi detectada nos testes de Jones.
Esse “efeito pulsante” foi atribuído a uma quantidade residual da substância do teste positivo de 2017. Como resultado, a luta foi transferida para Los Angeles, já que Jones não obteve uma licença para lutar em Nevada devido à irregularidade.
No entanto, os médicos do California State Athletic Commission (CSAC) não tomaram nenhuma ação disciplinar contra Jones, afirmando que não havia evidência de uso intencional de substâncias proibidas e que não houve melhora no desempenho.
7 – Importunação sexual a uma garçonete (2019)
Em 21 de julho de 2019, Jones foi acusado de agressão por um incidente em abril, envolvendo uma garçonete de um clube de striptease em Albuquerque, Novo México.
A moça alegou que Jones lhe deu um tapa, um mata-leão e a beijou no pescoço, além de tocá-la depois que ela pediu para ele parar.
O julgamento do caso foi realizado em 26 de setembro de 2019, onde Jones não contestou as acusações e recebeu uma sentença de 90 dias, pelos quais não deve ter novamente levantadas e ele: voz de prisão, violação da lei, consumo de álcool ou drogas e não retornar à cena.
Ele também foi condenado a pagar custas judiciais durante seu período de liberdade condicional não supervisionado, conforme o documento do tribunal.
8 – Prisão por dirigir alcoolizado e uso negligente de arma de fogo (2020)
Jon Jones foi preso na madrugada de 26 de março de 2020, em Albuquerque, após ser encontrado por um policial em um Jeep preto, aparentemente dirigindo sob efeito de álcool.
O oficial ouviu um som de disparo e, ao investigar, percebeu sinais de intoxicação em Jones, que falhou no teste de sobriedade e teve um resultado de bafômetro mais de duas vezes acima do limite permitido.
Durante a revista no veículo, foram encontradas uma garrafa de bebida alcoólica e uma arma sob o banco do motorista. Jones foi preso e acusado de direção embriagada agravada, uso negligente de arma de fogo, posse de recipiente aberto e falta de seguro.
Jon se declarou culpado por dirigir alcoolizado e, em um acordo judicial, as outras acusações foram retiradas. Como sentença, recebeu 4 dias de prisão domiciliar, 1 ano de liberdade condicional, 90 dias de terapia ambulatorial e 48 horas de serviço comunitário.
9 – Prisão por violência doméstica (2021)
Em 24 de setembro de 2021, um dia após ser introduzido no Hall da Fama do UFC, Jon Jones foi preso em Las Vegas por um incidente doméstico envolvendo sua noiva, Jessie Moses.
A polícia foi chamada pela filha de Jones relatando uma briga entre o casal. Quando os policiais chegaram, encontraram Moses com sangue no rosto e um galo no lábio, alegando que Jones a havia puxado pelos cabelos.
Durante a detenção, Jones se mostrou agressivo, danificando o capô de um veículo policial e desafiando os oficiais. Ele foi preso por agressão doméstica e adulteração de veículo policial, com fiança de US$ 16 mil.
Jones pagou a fiança e, três semanas depois, foi proibido de treinar na academia Jackson Wink MMA.
Em dezembro, a acusação de agressão foi retirada, mas Jones se declarou culpado pela adulteração do veículo, pagando uma multa e sendo condenado a terapia de controle da raiva e a uma ordem de distanciamento legal.
10 – Acusação de agressão verbal e ameaça (2024)
Embora Jon Jones tenha abraçado a fé e expresso publicamente sua crença em Jesus Cristo desde 2023, demonstrando gratidão por sua vitória no UFC e proclamando seu amor pela palavra divina, a jornada espiritual e pessoal do lutador continua sendo um desafio diário.
Em 30 de março de 2024, um incidente envolvendo Jones e uma agente de testes de drogas gerou mais controvérsia. Ele foi acusado de agressão e de ameaçar a vida da agente durante uma visita à sua casa, o que resultou em uma intimação policial.
Em julho de 2024, Jones se declarou inocente dessas acusações e o julgamento foi adiado pelo não comparecimento da agente.
Para resolver a situação, em outubro, ele concordou em participar de aulas de controle de raiva, uma maneira de tentar lidar com suas emoções e comportamentos impulsivos de forma construtiva.
A redescoberta da fé e transformação pessoal de Jon Jones até o GOAT do MMA
Apesar de sua fidelidade, o processo de reabilitação e transformação de Jon Jones é uma luta contínua, lidando com seus desafios pessoais e emocionais todos os dias.
Ainda asssim, tenta permanecer firme em sua fé enquanto trabalha para superar as tentações e as dificuldades que surgem em seu caminho.
Foi no momento de crise que Jon se voltou para Deus e passou a expressar publicamente sua credulidade.
Após a luta contra Dominick Reyes no UFC 247, em 8 de fevereiro de 2020, foi decidido por Jones e Dana White que a lenda dos meio-pesados ficaria um tempo off para preparar seu corpo fisicamente para subir de peso e ir para os pesados.
Esse momento de off season simbolizou um ponto de virada em sua jornada espiritual, quando ele começou a abraçar sua crença com mais sinceridade.
Quando voltou a competir, em 4 de março de 2023, Jon era um atleta ainda letal no octógono, mas paz e amor fora dele.
Neste período de readaptação corporal para ganhar massa muscular, Jon Jones trabalhou juntamente sua crença em Jesus Cristo. Apesar de nunca ter deixado de ser cristão, o americano não caminhava ao lado da fé.
A primeira grande demonstração da fé de Jon Jones
Após suas estreia nos pesos-pesados vencendo Ciryl Gane, ele expressou publicamente seu amor por Deus.
Tenho que agradeceu ao meu Senhor e Salvador, Jesus Cristo. JESUS CRISTO [gritou]. Sem Ele eu nunca teria chegado até aqui.
Digo a todos vocês, guerreiros de oração: lá fora, os senti tão forte a semana toda que só quero agradecer a cada um de vocês que oraram por mim.
A segunda grande demonstração da fé de Jon Jones
Em 2024, Jones continuou sendo uma figura de destaque no MMA, mas sua jornada agora é mais do que apenas sobre vitórias no octógono. Ela é também uma história de redenção, espiritualidade e superação pessoal.
Jon Jones mostrou-se um homem de fé, agora visto por muitos como um exemplo de transformação e redenção, tanto para os fãs do MMA quanto para os fiéis.
Ao ser entrevistado por Joe Rogan após sua última vitória, desta vez sobre Stipe Miocic, Jon Jones expressou novamente seu amor por Jesus:
Eu quero reconhecer Jesus Cristo. Não posso levar o crédito por um presente como esse [talento]. Realmente devo tudo a Ele (Jesus Cristo). Sei que há milhões de pessoas ao redor do mundo assistindo agora e só quero que vocês saibam que Jesus os ama muito.
Em uma das suas maiores demonstrações de fé, Jones tem um versículo bíblico tatuado em seu peito: Filipenses 4:13, que diz:
Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.
Além disso, Jones escolheu personalizar seus shorts de luta com esse versículo, como uma forma de afirmar sua crença de maneira visível durante suas competições.
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Coordenador do Esportelândia desde 2021, é jornalista pós-graduado em Jornalismo Esportivo. Autor do livro “Os Mestres do Espetáculo”, que está na biblioteca do Museu do Futebol de São Paulo. Passou por Jovem Pan, Futebol na Veia e PL Brasil.