Com todos os preparativos para a abertura da Olimpíada de Paris 2024 a todo vapor, os comitês olímpicos começaram a nomear quais atletas serão os porta-bandeiras de seus países. O Brasil resolveu escolher Isaquias Queiroz (canoagem) e Raquel Kochhann (rugby sevens).
O atleta da canoagem é um dos mais condecorados na história do Brasil nas Olimpíadas. São quatro medalhas, sendo uma de ouro, duas de prata e uma de bronze. Raquel, por outro lado, ainda não conquistou medalha em Olimpíadas, mas está indo para a competição pela terceira vez na carreira.
A jogadora de rugby sevens conseguiu superar o câncer de mama e voltar aos gramados. O Esportelândia te conta um pouco sobre a emocionante história de Raquel Kochhmann e o que inspira a jogadora a continuar no esporte.
Entrevista com Raquel Kochhann – Atleta da Seleção Brasileira de rugby sevens
Início de carreira e como conheceu o rugby sevens
Ao contrário de muitos atletas, o rugby não foi o primeiro esporte que Raquel Kochhann se dedicou integralmente. Costumava jogar futebol e chegou a ser convocada para a Seleção Sub-17 do Brasil, mas uma entorse do tornozelo foi o suficiente para que fosse cortada.
Voltando sua atenção para os estudos, logo em seguida entrou na faculdade de Educação Física em Caxias do Sul-RS. Não conseguindo deixar sua paixão pelo esporte de lado, Raquel, aos 19 anos, entrou para o time de futsal da faculdade, onde uma companheira de equipe a convidou para conhecer o rugby sevens.
Conheci o rugby a convite de uma amiga e foi amor ao primeiro contato: treino de tackle, chutar, correr, derrubar, entrar em contato… tudo o que sempre gostei. Ali encontrei o meu esporte.
Os principais desafios no início da carreira
Focada e apaixonada no rugby, Raquel Kochhann começou a jogar pelo Serra Rugby, de Caxias do Sul-RS. Em sua primeira participação no Campeonato Gaúcho, venceu o prêmio de melhor jogadora do torneio.
No entanto, o início no esporte não foi fácil, ao passo que a jogadora tinha dificuldades financeiras e todas as competições que disputava, eram pagas.
No início, os maiores desafios foram financeiros, já que não tinha muita condição e todas as competições eram pagas. Mas o rugby é um esporte incrível e ganhei uma nova família, que sempre me ajudou a superar qualquer obstáculo.
O primeiro ponto pela Seleção Brasileira é inesquecível para Raquel Kochhann
Mais uma vez investida em tentar uma vaga na Seleção Brasileira – dessa vez no rugby -, em 2012 tentou novamente fazer testes para representar o Brasil. Se preparou para a seletiva e foi aprovada.
Em 2013, estreou pela Seleção em um amistoso contra a França, em Dubai. Em seguida, se mudou para São Paulo para poder ficar mais perto do centro de treinamento do Brasil e se preparar para a Olimpíada do Rio, em 2016, ano em que o rugby sevens se tornou uma modalidade olímpica.
Tiveram vários momentos [importantes], mas talvez o mais especial seja o meu primeiro try pela Seleção Brasileira, contra a França, em Dubai 2013.
Foi quando percebi o quão prazeroso era estar vivendo este sonho. Depois vieram outros tantos e te digo: cada convocação é mais do que especial.
Raquel descobriu o tumor antes da Olimpíada de Tóquio 2020
Em 2016, o Brasil ficou em 9º lugar na primeira aparição do esporte em Olimpíada. Em Tóquio 2020, a seleção teve um resultado pior do que anteriormente, terminando em 11º no torneio.
Os sinais de câncer em Raquel Kochhann apareceram antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio, mas o tamanho do tumor e o resultado da biópsia não chamou atenção.
Antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio, quando senti um caroço no meu peito. Fiz exames, inclusive biópsia, e nada foi constatado a ponto de me preocupar.
Porém, um ano depois, esse caroço praticamente dobrou de tamanho, e o mastologista sugeriu a retirada, sem muita urgência, pois era benigno.
Passado mais um mês, sofri uma lesão de ligamento cruzado anterior no joelho e, como já ficaria um tempo afastada dos gramados, decidi tirar esse caroço.
Ali foram encontradas células cancerígenas, que levaram a uma investigação mais profunda. Após novos exames, descobri um foco secundário desse câncer no esterno. E foi aí que iniciei o tratamento.
O esporte ajudou Raquel Kochhann a superar o câncer
Qualquer hiato forçado em um atleta de alto nível pode gerar dentro dele mesmo uma série de novas descobertas. Em especial os limites do corpo, algo que Raquel aprendeu a respeitar durante o tratamento.
O que mais sentiu falta foram os treinamentos os quais o corpo é levado ao limite. No rugby, que não tem proteção e o contato físico é a maior característica do esporte, tanto o treinamento quanto a recuperação é de extrema importância.
Não poder treinar em alta intensidade. Foi preciso aprender a respeitar os limites do meu corpo e entender o que deveria ser feito em cada fase.
Para manter a mente saudável, é fundamental fazer coisas que você gosta e estar perto de pessoas com boa energia.
Durante esse processo, o esporte me ajudou a manter a cabeça leve e sadia, influenciando diretamente nas respostas do meu corpo ao tratamento.
O significado de representar o Brasil pela terceira vez em Jogos Olímpicos
Raquel Kochhann revelou como se sente indo para a 3ª Olimpíada da carreira, mas destacou também o fato de representar o Brasil em diversos eventos internacionais, independente do tamanho do torneio.
Como todas as competições internacionais, é uma honra poder representar nosso país mundo afora. E a melhor parte é poder mostrar ao mundo, e principalmente aos brasileiros, que o Brasil não é apenas o país do futebol. Existem muitos esportes com grande representatividade mundial.
Aos 31 anos, Raquel Kochhann pode estar disputando a última Olimpíada com a camisa do Brasil. Porém, tanto o legado de superar as barreiras quanto carregar a bandeira do Brasil ao lado dos melhores atletas do mundo viverão.
O Brasil estreia no rugby sevens feminino no dia 28 de julho, contra a França. No mesmo dia, enfrenta os Estados Unidos pelo o grupo C, que também conta com o Japão.
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Marcelo Cartaxo é jornalista, redator e repórter no Esportelandia, um dos maiores sites olímpicos do Brasil. Com passagens por Futebol na Veia, Premier League Brasil, Minha Torcida, Quinto Quarto e ShaftScore, adquiriu experiências que hoje somam na equipe de redação do site.