Na tarde do último sábado (3), o Sesc Santo Amaro recebeu a jogadora de vôlei Fabiana Claudino para mais um evento do projeto Sesc Verão. Conhecida como Fabizona, a atual atleta do Osasco participou de uma conversa e um bate-bola com os fãs.

Capitã da Seleção Brasileira de vôlei por anos, a jogadora está marcada na história do esporte nacional por todas as conquistas que já atingiu. No entanto, Fabiana mostra que a sua grandeza vai muito além do seu metro e noventa e quatro dentro das quadras.

Em vídeo, Fabiana dá aula sobre posicionamento contra o racismo

Fabiana destaca a importância do combate ao racismo no esporte

Durante o bate-papo no Sesc Santo Amaro, localizado na cidade de São Paulo, Fabiana Claudino falou sobre o começo da sua carreira, quando deu início no vôlei ainda adolescente.

Dentre as principais dificuldades destacas, a jogadora afirmou que uma das mais difíceis foi lidar com o racismo velado que acontece no universo esportivo.

Hoje com 39 anos, a atleta revela que desde muito nova já era ‘podada' sobre como deveria se comportar nos bastidores do vôlei, até o dia em que se tocou de que as coisas deveriam ser diferentes.

Você acaba sendo silenciado para não expor os clubes e marcas. Mas a partir do momento que eu comecei, realmente, a entender sobre a minha importância, do papel que eu tinha de representar as pessoas que não tinham poder da fala, foi quando virou a minha chave.

O meu esposo sempre falou: ‘Fabiana, você tem que falar, você tem que cobrar isso, você tem que ir para cima'. E aí foi quando eu comecei a falar realmente as coisas que eu estava vendo, que eu pensava, cobrar atitude. 

Apesar de o assunto parecer repetitivo, Fabiana Claudino reforça a importância de se debater racismo diariamente, porque ele ainda é uma pauta muito presente no dia a dia do brasileiro, principalmente dentro do esporte.

Fabiana vôlei racismo (3)
Fabiana Claudino sempre foi referência na Seleção Brasileira de vôlei – Divulgação/Redes Sociais

Fabizona tenta usar toda a experiência que adquiriu ao longo da carreira para dar voz a quem precisa e apoiar a causa para que outros não precisem passar pelo que ela passou.

É aquela coisa, né? Brasileiro tem memória fraca. Então é sempre: ‘Ah, tá bom! Ela está reclamando aí, mas daqui a pouco passa. Daqui a pouco ninguém vai lembrar mais.'

Eu tenho a paciência de explicar pra quem quer entender, pra quem quer ouvir. Mas se eu tiver também que ir pra cima… Eu não penso duas vezes.

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O racismo acontece além das quadras

Apesar de lutar contra o racismo há bastante tempo, Fabiana Claudino afirma que essa é uma luta que ainda está longe de acabar. A prova disso são os vários casos com os quais a jogadora já teve de lidar fora do esporte, principalmente na região em que mora.

No entanto, existem alguns tópicos que fazem com que a Fabizona não pare de lutar pelo que considera ser o certo. A atleta afirma que após o nascimento de seu filho, a sua indignação ficou ainda mais forte.

Acho que depois que a gente tem filho, a gente pensa em proteger a qualquer custo. E aí você já vê algumas coisas que vão acontecer. Onde meu filho estuda, por exemplo, não tem nenhuma pessoa preta. Literalmente, só tem a gente. 

E você vê o seu filho e sabe que não tem jeito. Tem coisa que a gente não gostaria de passar, mas sabe que a qualquer momento algo vai acontecer. E na escola também dele não tem nenhuma criança (preta), ele é o único.

Fabiana vôlei racismo
Fabiana é referência na voz contra o racismo – Divulgação/Redes Sociais

Em meio aos vários relatos sobre casos de racismo vivenciados, Fabiana destaca um em que conseguiu passar a mensagem que queria a quem deveria recebê-la.

Eu lembro que uma vez que eu fui levar ele para escola, era o dia das crianças. Na hora que eu entrei tinha um painel cheio de crianças brancas, e estava escrito: ‘Aqui é o lugar de crianças felizes'. Aquilo ali me revoltou.

Eu fui na diretora e falei com ela: ‘Olha só, hoje o meu filho ele ainda não entende, mas ele busca referências. Se você olhar pra esse painel, ele vai ver que é o lugar de crianças felizes, mas não tem um preto pra contar história. Só tem pessoas brancas.'

E ela: ‘Como assim? Aqui a gente tem o faxineiro, aqui a gente tem o porteiro, aqui a gente tem não sei quem.' Mas eu respondi: ‘Meu bem, eu não estou aqui pra desprezar o trabalho de ninguém. Trabalho é trabalho. Mas só para você entender, o meu filho está sendo criado pra ser o dono dessa escola, para ser o diretor dessa escola, e é assim que você tem que olhar pra ele. 

Em suma, o que Fabiana exige é que a forma como as pessoas pretas são olhadas passe por uma mudança. Ela tem plena consciência de que essa transformação social não vai acontecer da noite para o dia. Mas o quanto antes isso começar a mudar, antes surtirá efeito.

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