É bem mais simples discutir sobre arbitragem em esportes os quais o resultado é definido por meio de medidas, como o tempo e a distância. No caso do atletismo e da natação, por exemplo, uma simples foto da linha de chegada determina o vencedor. Bem como em esportes de precisão, como tiro com arco ou tiro esportivo, o alvo é quem dita o campeão.
Não há aquela discussão de botequim se a passada do Usain Bolt foi maior ou menor ao final da prova. Ou se a técnica utilizada por Tiger Woods, naquela tacada que deu o prêmio, foi proposital ou coisa do acaso.
A importância do árbitro
Já nos esportes em que há a oposição direta com seu adversário, as discussões sobre o resultado são inúmeras. Assim, para valer prevalecer o que é previsto pelo regulamento, é imprescindível a presença do árbitro. Aliás, não há nada mais controverso do que arbitragem.
Sou apaixonada por esportes e já pratiquei vários deles, o que me levou à minha primeira formação, em educação física. Participei de algumas competições de judô e futsal em nível escolar ou universitário, mas sempre com arbitragem oficial.
Descobri o tênis já adulta, e na minha primeira competição estranhei o fato de não ter um árbitro. Como o piso era saibro, bastava anunciar se a bola era dentro ou fora analisando a marca que ela deixava no chão. Mas e se o seu adversário não fosse tão honesto assim? Cantar dentro ou fora durante uma jogada pode muito bem ser uma estratégia para provocar seu adversário e desestabilizar sua preparação mental.
E com a evolução do esporte e também da preparação física dos atletas, as bolas alcançam velocidades tão altas que dificultam a precisão da avaliação visual do ponto. Quem assiste uma partida de tênis já percebeu a presença de um árbitro central, árbitros de linha do saque, árbitro de rede, e árbitros de fundo de quadra. Todos eles avaliando se a bola entrou ou saiu. E mesmo assim, foi um dos primeiros esportes a inserir a tecnologia do vídeo-replay para minimizar as dúvidas. Mas como a cada ponto o jogo é interrompido, é bem mais simples de analisar o vídeo-replay e, se for preciso, voltar o ponto. O momento da conferência do ponto é até aguardado pela torcida presente no evento.
Arbitragem no futebol
No futebol é bem diferente. É difícil voltar o lance que o árbitro interrompeu. Por exemplo, em um impedimento ou uma falta marcada equivocadamente. A torcida não acompanha a análise do lance e até fica irritada com a interrupção do jogo. E quando a análise requer interpretação, e não se percebe que não há consenso entre os árbitros, fica pior a discussão. A demora causa mais tensão do que expectativa. Por isso o uso do VAR (do inglês Video Assistant Referee, ou árbitro assistente de vídeo) não é tão aceito pelos espectadores.
A arbitragem no judô
E por que estou falando de tantos esportes diferentes se estou aqui para falar de judô? É porque eu precisava preparar vocês para entender a dinâmica da arbitragem nos demais esportes com os quais temos mais contato, para facilitar o entendimento ao falar da arbitragem no judô. E nele também há o debate a respeito do árbitro de vídeo, que veio substituir os árbitros laterais que ficavam sentados à beira do tatame formando uma triangulação para ampliar a visão do lance.
No judô, a cada quatro anos, quando muda o ciclo olímpico, existe uma reciclagem nas regras do judô. Por um motivo simples, o esporte evolui. Assim, a justificativa é que o esporte vai ser cada vez mais dinâmico e atraente para novos espectadores. Ou seja, todos aqueles que assistirem à uma disputa de judô, deverão ficar excitados com cada técnica aplicada e torcer pelo ápice da luta.
A preocupação da Federação Internacional de Judô em conjunto com o Comitê Olímpico Internacional não é só para ser um esporte visível para quem pratica. Mas, sim, alcançar o maior número de fãs pelo mundo.
Podemos, inclusive, pensar que o judô é o esporte que mais se molda ao modelo esperado pelo COI de se adaptar aos novos consumidores dos esportes. Sejam eles praticantes, atletas de alto rendimento, fãs do esporte, ou simples espectadores momentâneos. Como aqueles que acompanham somente o esporte durante os Jogos Olímpicos.
O comportamento dos judocas em relação ao regulamento
A cada mudança de regras, a dinâmica do jogo muda. O comportamento do judoca ao novo regulamento precisa se adaptar, ajustar novas técnicas, mudar de estratégia até que seja necessária uma nova reciclagem nas regras. Sabemos que a conquista medalha de ouro de Aurélio Miguel nas Olímpiadas de Seul, em 1988, promoveu a mudança de regras sobre os agarres no judogi (uniforme de judô). Pois a forma como ele realizava sua pegada nos adversários não era prevista como uma infração e impedia que ele fosse atacado de maneira mais eficiente.
Esse foi apenas um exemplo das tantas mudanças que ocorreram com o objetivo de manter o Judô como um esporte mais dinâmico. Visto que as discussões a respeito da arbitragem não vão caber em apenas um artigo. Te vejo no próximo!
Foto destaque: JF Team por Tamas Zahonyi and Nicolas
Kika Quille é estudante de Jornalismo, profissional de Educação Física e professora de Judô, é especialista em Desenvolvimento Esportivo de crianças e adolescentes pela Academia Brasileira de Treinadores junto ao Comitê Olímpico do Brasil. Foi voluntária dos grandes eventos esportivos que ocorreram no Brasil, Pan 2007, Copa das Confederações 2013, Copa do Mundo 2014 e Rio 2016.