Em 1987, o basquete masculino brasileiro brilhou nos Jogos Pan-Americanos vencendo os EUA na final, com uma equipe de campeões inesquecíveis: Oscar Schmidt, Marcel de Souza, Israel Andrade, Gérson Victalino, Guerrinha, Cadum, Paulinho Villas Boas, Pipoka Vianna, Rolando Ferreira, Maury, Sílvio Malvezi e André Stoffel, comandados por Ary Vidal e José Medalha.
Foi neste Brasil x EUA que os americanos sofreram sua primeira derrota em casa na história, com show de Oscar Schmidt e Marcel de Souza. Também foi por causa deste jogo que o basquetebol mundial testemunhou o surgimento do Dream Team em 1992, afinal, não queriam perder nunca mais como contra o Brasil.
O Esportelândia falou com Marcel, Israel, Guerrinha, Cadum, Pipoka, Rolando e José Medalha. Eles relembraram a preparação para encarar o time americano, falaram da final de 1987 e, principalmente, mandaram um recado para a Seleção Brasileira que enfrenta o novo Dream Team nesta terça-feira (6) nos Jogos Olímpicos de Paris 2024.
Opiniões sobre a Seleção Brasileira em 2024 e o confronto contra os Estados Unidos
Marcel de Souza elogia o Brasil, mas reconhece EUA superior
Um dos grandes nomes daquela icônica Seleção Brasileira das décadas de 80 e 90, Marcel de Souza é realista sobre às chances do Brasil contra os Estados Unidos, enfatizando a evolução dos brasileiros, mas reconhecendo a superioridade americana.
Eu estou gostando muito da Seleção. Encontraram uma forma de jogar bem mais próxima do estilo brasileiro. É um grupo que parece ser muito unido. Os EUA têm um time excepcional. Gostaria muito que ganhássemos, mas, tecnicamente, os EUA são muito superiores.
Cadum elogia armadores da Seleção e pede leveza ao Brasil
Um dos maiores armadores da história do basquete brasileiro, Cadum esteve presente naquele Pan de 1987 e foi um dos responsáveis por fazer a Seleção Americana perder a compostura no histórico jogo. Para ele, o Brasil tem ótimos armadores, sabe da dificuldade do rival, mas quer que os brasileiros aproveitem o jogo.
A Seleção de agora me agrada demais. Huertas, Raulzinho, Yago e Georginho me agradam bastante como comandam o jogo. Estamos entre os 8 melhores do mundo, isso é uma vitória enorme para o basquete brasileiro.
Os EUA têm um time experiente, mais ou menos o que foi na Olimpíada de 1992. O jogo hoje está mais físico de todos os lados, mas acho que o Brasil pode fazer um bom jogo, embora seja muito difícil vencer.
Tem que acontecer muita coisa para vencermos: jogarmos muito bem e os Estados Unidos jogarem muito mal. Mas eles não têm tantos caras assim para jogarem mal. Se dois jogam mal, têm mais três para jogar bem. Acho bem difícil, mas vamos jogar, desfrutar e aproveitar por estarmos entre os 8.
Primeiro brasileiro na NBA, Rolando Ferreira não acredita no impossível em Brasil x EUA
Rolando Ferreira ainda jogava no Brasil quando a final do Pan aconteceu, mas já estava nos Estados Unidos quando o embate contra o Dream Team aconteceu, em 1992. Para ele, a Seleção Brasileira atual é talentosa, mas o pouco tempo de treino pode lhes afetar. Contudo, não acredita que seja impossível vencer os EUA.
Temos grandes talentos diferenciados. A diferença dessa Seleção para a nossa é o tempo de treino; tínhamos muito mais tempo para treinar, hoje as liga exigem muitos compromissos dos atletas. Infelizmente, treinam menos e demoram mais para pegar conjunto.
Precisaríamos de um jogador como Oscar ou Marcel, um cara que seria o “Franchising Player” (um grande craque) da equipe. Isso falta há um tempo. Mas o time me agrada. Eles têm feito bons jogos.
Não podemos dizer que é impossível ganhar. As coisas são impossíveis até que alguém vá lá e faça. É muito difícil, mas quem sabe? Na hora são 5 contra 5, pode ser. O problema nos Estados Unidos é a profundidade de banco; eles têm o elenco todo em alto nível.
José Medalha não acredita ser possível vencer os EUA pela qualidade dos americanos
Apesar de ter liderado um time tão histórico para o basquete mundial em uma vitória contra os Estados Unidos, o auxiliar técnico de Ary Vidal naquele Pan não acredita que seja possível o Brasil fazer frente aos americanos. Mas o treinador não vê demérito na Seleção, pelo contrário, é mérito do novo Dream Team.
Às chances de vencer os Estados Unidos são praticamente impossíveis. Não há como vencer esta Seleção Americana em um jogo normal. É um time muito superior.
Espero que os atletas possam aproveitar essa oportunidade, como nós aproveitamos em 1992, para realizar um sonho de enfrentar uma das melhores equipes do basquetebol mundial atualmente.
Israel Andrade quer que o Brasil faça o jogo da vida
Pivô titular daquele time campeão sobre os Estados Unidos no Pan de 1987, Israel é outro ex-jogador que sabe da superioridade óbvia dos EUA, mas prevê um jogo pegado e idealiza que o Brasil possa fazer o jogo da vida.
Será um jogo bem pegado. Os EUA são os favoritos; nas casas de apostas deve estar 9 para 1. Mas o Brasil precisa entrar em quadra descontraído, sabendo que eles [EUA] são favoritos, mas quem sabe podemos fazer o jogo da vida?!
Guerrinha elogia o comprometimento do grupo e se diz orgulhoso
Armador do Pan de 1987 e hoje técnico do São Paulo, Guerrinha foi um dos melhores jogadores de sua posição e um dos mais vencedores do basquete brasileiro. Agora, analisando a Seleção, ele acredita que tudo pode acontecer.
Dentro do que o Brasil tem hoje, é a melhor Seleção que poderia ter. Estamos jogando de maneira coesa e moderna, bem dirigido, com jogadores comprometidos. O Brasil está jogando de igual para igual com grandes seleções. Tudo pode acontecer.
Ter uma chance, mesmo que improvável, é maravilhoso para o basquete brasileiro. Independentemente do resultado, estamos muito orgulhosos de ver como os jogadores estão se dedicando ao jogo.
Pipoka Vianna acredita na vitória do Brasil: “Impossível não existe. Já provamos isso antes”
Mais um ex-jogador com grandes experiência e passagem pela NBA, Pipoka Vianna é o mais otimista do grupo. Para ele, o impossível não existe, como foi provado na final do Pan de 1987.
Pipoka acredita que esta geração pode levar o basquete brasileiro a outro patamar e escrever uma nova página na história do basquete mundial.
Temos uma grande equipe. Os jogadores já provaram que são capazes de enfrentar qualquer equipe do mundo de igual para igual. Eles demonstraram isso nesta Olimpíada, enfrentando a França, por exemplo, e tirando o máximo de si.
Embora ainda tenhamos alguns problemas, como altos e baixos nos rebotes defensivos, isso faz parte do aprendizado. Temos grandes jogadores com potencial de levar o basquete brasileiro a um novo patamar neste século.
Nesta Olimpíada, eles estão enfrentando os melhores jogadores do mundo e têm mostrado que o impossível não existe. Já provamos isso antes. Acreditamos neles e esperamos que eles possam escrever uma nova página no basquete mundial em Paris.
Lendas da Seleção Brasileira relembram título do Pan-Americano de 1987 sobre os Estados Unidos
A preparação do grupo para Brasil x EUA
O ex-armador da Seleção, Guerrinha, enfatizou o desenvolvimento da equipe desde 1985 e a preparação meticulosa que resultou em uma vitória marcante.
Vínhamos nos preparando desde 1985. No Mundial de 1986, na Espanha, ficamos entre os quatro melhores, o que foi um excelente resultado. Em 1987, estávamos ainda melhor e mais agressivos no jogo, confiantes.
José Medalha, auxiliar daquele time campeão em 1987, relembra os treinamentos nos Estados Unidos e com equipes fortes para encarar o Pan-Americano.
Tivemos uma preparação muito bem feita. Fizemos a fase final de treinamento nos Estados Unidos, na Universidade de Houston, e chegamos a treinar contra a equipe profissional do Houston. Eu tinha certeza de que o time estava muito bem preparado.
Os momentos de tensão que antecediam Brasil x EUA
Em resumo, todos disseram que já chegaram para a final tendo certeza da medalha de prata. O senso coletivo antes do jogo era de que seria impossível vencer o time americano.
- “Achavámos que íamos perder de muito. Entramos lá assim: ‘Tem que jogar, não tem jeito'”, Marcel de Souza.
- “Estávamos preocupados em passar vergonha, levar um couro muito feio”, Cadum.
- “Em sã consciência, ninguém achava possível derrotar os Estados Unidos, ainda mais dentro de casa. Fomos para a final para não tomar uma sacola de pontos. Mas o Ary Vidal falou uma coisa muito legal: “Calça de veludo, bunda de fora”, ou seja, a obrigação era deles, não tínhamos nada a perder”, Rolando Ferreira.
- “Sabíamos que vencer nos Estados Unidos seria um desafio quase impossível”, Guerrinha.
- “Todos que jogavam contra os Estados Unidos perdiam. Nosso objetivo era a prata. Encaramos o jogo com essa mentalidade”, Pipoka Vianna.
A soberba americana em Brasil x EUA
Como é de conhecimento da maioria, os Estados Unidos abriram uma vantagem de 20 pontos nos dois primeiros quartos, terminando o 1º tempo com 14 pontos a frente. Tudo dava certo para os americanos e errado para o Brasil. Mas o jogo virou no 2º tempo, como destacou Israel Andrade.
O David Robinson fez três faltas e saiu do jogo; quando voltou, fez a quarta e a quinta. Sem ele o time americano ficou perdido. Eles não tinham a mesma espontaneidade e começaram a hesitar um pouco. Para nós, foi o contrário: tudo começou a dar certo.
Os arremessos de Oscar e Marcel, a defesa do time e as infiltrações do Paulinho Vilas Boas… Conseguimos uma vitória épica, vencendo os Estados Unidos em em casa, algo que até então não havia acontecido.
O diferencial para vencer o confronto Brasil x EUA
Os Estados Unidos tinha um excelente time, mas eram jovens e caíram na catimba brasileira. Para Cadum, o time dos EUA sentiu a pressão: “Eram 20 mil pessoas os assistindo”. Já Rolando Ferreira conta que os americanos caíram na pilha de Cadum, Marcel e Oscar Schmidt no 2º tempo.
O Marcel, o Oscar e o Cadum davam espaço para eles e falavam: “Se é bom mesmo, chuta de três, chuta aí, quero ver”. Eles caíram na pilha, começaram a chutar e errar.
Para Marcel de Souza, especialista em bolas de 3, os chutes do perímetro foram priomordiais para o triunfo sobre os norte-americanos:
O que nós fizemos de diferente foi o arremesso de 3 pontos, que mudou o basquete mundial. Você vê que hoje todo mundo joga de 3 pontos. A gente fez isso em 1987, há quase 40 anos.
Por outro lado, José Medalha afirma que a soberba dos americanos custou caro para eles, mas foi fundamental o Brasil estar bem preparado para aproveitar a oportunidade para fazer história:
O time americano foi um tanto soberbo, mas nós, com um estilo de jogo muito próprio da escola brasileira, com muita velocidade e eficiência nos 3 pontos, acabamos surpreendendo muita gente. A vitória mudou muito o panorama do basquetebol mundial.
Guerrinha finalizou dizendo que o basquete é maravilhoso por poder proporcionar vitória deste tamanho, que pode servir de combustível para a Seleção Brasileira em 2024.
O esporte é bonito justamente por isso, porque você consegue se superar se tiver a capacidade. E foi isso que aconteceu na partida. Ganhamos confiança enquanto os EUA perderam, resultando em uma vitória marcante para o esporte brasileiro e mundial.
Ver essa foto no Instagram
Onde assistir Brasil x EUA no basquete masculino na Olimpíada de Paris 2024?
O emocionante duelo de basquete masculino entre Brasil x EUA na Olimpíada de Paris 2024 poderá ser assistido ao vivo através de várias plataformas. Sintonize no YouTube da Cazé TV para acompanhar a transmissão direta.
Além disso, a TV Globo transmitirá o jogo pelo canal aberto, enquanto o SporTV estará disponível para assinantes de TV por assinatura. Para mais opções, você também pode acessar a cobertura pelo site oficial Olympics.com. O confronto está agendado para terça-feira (6), às 16h30 (horário de Brasília).
Coordenador do Esportelândia desde 2021, é jornalista pós-graduado em Jornalismo Esportivo. Autor do livro “Os Mestres do Espetáculo”, que está na biblioteca do Museu do Futebol de São Paulo. Passou por Jovem Pan, Futebol na Veia e PL Brasil.