O fisiculturismo brasileiro vive um momento inédito desde o título de Ramon Dino no Mr. Olympia. Uma combinação rara de talento, história, mídia e representatividade transformou o país em potência esportiva — e o fenômeno ganhou até apelido: a possível Brazilian Storm do bodybuilding.

Mas será que já podemos comparar esse boom à onda histórica do surf? Para o lendário Fernando Sardinha, um dos mais experientes e vencedores fisiculturistas do Brasil, a resposta é empolgante — e vai muito além da euforia atual.

A explosão do fisiculturismo brasileiro e a visão de Fernando Sardinha

Para Sardinha, o Brasil realmente vive o auge do seu fisiculturismo — mas não o auge final. Em exclusiva ao Esportelândia, ele lembra que acompanhou tudo nascer, desde o tempo das academias improvisadas, quando mal havia máquinas adequadas e fotos eram tiradas em Polaroid quase clandestina.

Hoje é lindo ver onde chegamos. Acredito que estamos no auge, sim, mas não o auge definitivo. Ou seja, não é o limite, ainda há muito para explorar.

Sou otimista. Comecei há mais de 40 anos, quando não havia nem academia estruturada, apenas máquinas básicas.

Em 1990, nós já tínhamos carreira e já aconteciam muitos eventos e campeonatos no Brasil. Mas não era profissional desse jeito.

O ponto de virada do esporte, segundo ele, tem nome e sobrenome: Tamer El Guindy.

Em 2017, o Tamer trouxe o modelo americano e transformou nosso esporte. Empresas acreditando, público engajado, comentaristas, storytelling. Ele é o Dana White do fisiculturismo.

A chegada do primeiro Musclecontest Brasil, em 2018, consolidou essa virada. Naquele dia, o público vibrou como torcida de futebol na disputa entre Diogo Montenegro e Felipe Franco — um momento considerado histórico para quem vive o esporte.

O impacto de Ramon Dino: mais que um campeão, um símbolo brasileiro

Ramon Dino representa algo que estava faltando ao esporte — um herói popular, humilde e com narrativa universal.

Quem não torceu por ele no Mr. Olympia? Ele conta a história do brasileiro sofrido, que não tem nada. Um menino do Acre fazendo calistenia no quintal…

O surgimento de ídolos como Ramon também preenche um vazio emocional.

Não temos mais as manhãs de domingo com Senna. Não temos mais heróis sendo mostrados na TV. Precisávamos respirar de novo.

Sardinha destaca o impacto de Ramon ajoelhar no palco do Olympia, agradecendo a Deus, e mostrar a bandeira do Brasil foi um gesto que gerou forte identificação.

Poucos super-heróis falam de Deus. Ramon fala. E isso toca as pessoas.

O futuro do fisiculturismo brasileiro na TV

Sardinha é enfático sobre a entrada do esporte na televisão.

Vai vir antes do que todo mundo espera. Já estamos na TV em várias facetas. Mas agora, ainda mais, porque o Ramon é muito vendável. É bonito de se ver.

O fisiculturismo precisa de exemplos positivos e atletas como Ramon Dino representam isso: humildade, dedicação e fé. Atualmente, temos grandes ídolos, mas a televisão nem sempre dá espaço.

E mesmo atletas menos falantes, como Ramon ou Alex Poatan, funcionam comercialmente porque despertam identificação e empatia.

Quando você conta suas dores, alguém vai sentir a mesma dor. Isso conecta. Isso vende. Conforta.

O Brasil vive mesmo o auge do fisiculturismo?

Sim. Segundo Sardinha, esta é a melhor fase da história do esporte no país, mas ainda há muito espaço para crescimento, especialmente em mídia e profissionalização.

Por que Ramon Dino é tão importante para o esporte?

Ele concentra carisma, narrativa de superação, humildade e fé. Além disso, rompeu a bolha do nicho e levou o fisiculturismo para programas de TV como o Fantástico, da Globo.

A TV vai transmitir eventos como Mr. Olympia ou Arnold Classic?

Sardinha acredita que isso está muito perto de acontecer. A popularidade de atletas brasileiros abriu portas e interesses comerciais.

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Eric Filardi Content Coordinator

Coordenador do Esportelândia desde 2021, é jornalista pós-graduado em Jornalismo Esportivo. Autor do livro “Os Mestres do Espetáculo”, que está na biblioteca do Museu do Futebol de São Paulo. Passou por Jovem Pan, Futebol na Veia e PL Brasil.