Para Phil Rajzman, surfista tricampeão mundial de Longboard, uma nova história começou em 2025. Surfar aos 43 anos é uma experiência diferente. Já não é mais só sobre performance, vitórias ou títulos, é sobre significado de vida.

Depois de três décadas remando atrás de ondas, o mar virou mais do que um lugar de competição. Virou templo, refúgio e cura. O carioca, filho do ex-jogador de vôlei Bernard Rajzman e da ex-patinadora Michelle Wollens, venceu um câncer em 2024.

Hoje, surfar deixou de ser uma diversão ou um esporte de alto nível. Para ele, é uma forma de se reconectar com a vida após um período nebuloso passado na vida pessoal. Se antes era brincadeira, virou paixão e profissão, hoje é cura.

Como o surfe ajudou Phil Rajzman a vencer um câncer e voltar ao topo?

No final de 2023, Phil recebeu o diagnóstico de câncer. Passou 2024 em tratamento, equilibrando corpo e mente como nunca antes. E mesmo em meio à tempestade, o surfe o manteve firme: física, emocional e espiritualmente.

Gradualmente, Phil Rajzman entendeu que vencer o câncer não era somente resistir ao tratamento, mas transformar a forma de viver. O diagnóstico de linfoma veio inesperado, quando ainda morava no Havaí, e o sistema de saúde local impôs uma espera angustiante.

Decidiu voltar ao Brasil, onde em apenas 10 dias já estava iniciando a quimioterapia. Ainda assim, escolheu não se isolar da vida: manteve sua rotina perto do mar, com treinos, crianças e ondas. Foi essa conexão que o sustentou emocionalmente e redefiniu seu caminho de cura.

Minha médica me disse: ‘O segredo é não se deixar abalar. As pessoas que vencem esse tratamento são as que continuam vivendo, que não abandonam o que amam’. E eu levei isso muito a sério. Continuei indo ao mar, pegando onda quando dava, mergulhando quando não dava. Estar na água me trazia de volta para mim.

O melhor swell da vida em meio à quimioterapia

Em meio a um dos ciclos de tratamento, precisou voltar ao Havaí para resolver pendências. Chegando lá, enfrentou o melhor swell da temporada, mas com o corpo ainda devastado pela quimioterapia. Mesmo assim, entrou no mar.

Fiquei uma hora e meia esperando a onda certa. Quando veio, dropei. Era um tubo perfeito, daqueles que você se sente dentro de uma casa. Quando saí daquela onda, tudo mudou. Foi como um reset. Eu pensei: ‘É por isso que eu vou continuar lutando. É por isso que eu vou ganhar essa competição’.

A cura do câncer e o título em Saquarema (2025)

Ao retornar ao Brasil, prestes a ser internado para o transplante de medula, veio a notícia mais inesperada: ele estava curado. Não precisaria mais passar pelo procedimento.

A médica olhou para mim e disse: ‘Você zerou. Não tem mais nada. Você se curou’. E completou: ‘A melhor coisa que você fez foi manter sua vida em movimento, manter seu vínculo com o mar, com o esporte, com a família’. E eu entendi. O mar não foi só cenário, foi parte do tratamento. Foi onde eu soltei o medo, onde me senti vivo.

Hoje, ele reconhece que o surfe não foi apenas resistência física, mas um amparo mental e espiritual. Foi no oceano que ele encontrou não só forças para continuar, mas também o motivo para nunca desistir.

Em abril de 2025, já em remissão, voltou a competir e venceu a etapa de Saquarema do circuito sul-americano da WSL (REMA WSL Saquarema Surf Festival). Uma vitória com valor que vai muito além do troféu.

Uma vitória que não foi apenas esportiva, foi existencial. Cada onda agora tem um outro valor. A energia que troco com o oceano carrega mais do que técnica: carrega gratidão.

Depois de tudo que passou, eu sinto que foi bom (superar o câncer). Eu me torneio um ser humano melhor. Agora, me sinto mais apto a dar conselhos e servir como exemplo do que quando eu só tinha títulos mundiais. Porque o melhor título da minha vida foi ter superado o câncer.

Corpo em transformação, mente mais afiada

Aos 43 anos, Phil entende seu corpo com mais profundidade. Com manobras exigentes e mudanças rápidas de direção, o respeito aos limites se torna essencial. Enquanto isso, sua mente segue mais afiada do que nunca.

As manobras mais explosivas exigem cuidados maiores, trocas rápidas de direção. Ao mesmo tempo, a mente está mais afiada, o estilo mais refinado e a leitura do mar mais precisa. A técnica evolui com o tempo, e isso é libertador.

A preparação física também mudou: mais yoga, funcional, musculação leve, respiração e meditação. O foco não é mais o pico de performance, mas a longevidade no esporte. O surfe de Phil evoluiu com ele, mesmo quando a WSL tentou engessar o estilo do Longboard.

Minha preparação física hoje é mais equilibrada. Valorizo o descanso e a alimentação. Não busco mais o corpo de um atleta no auge. Busco saúde e longevidade. Quero continuar surfando não só bem, quero continuar surfando sempre.

Meu surfe mudou muito. Evoluiu junto com a minha percepção de mundo. As viagens, as competições, os aprendizados com os mestres, tudo isso foi moldando meu estilo. Sempre busquei unir o clássico com o progressivo, mesmo quando o circuito internacional tentou empurrar o Longboard para uma direção única e engessada.

O que aconteceu com Phil Rajzman?

Em 2023, Phil Rajzman foi diagnosticado com linfoma, um tipo de câncer agressivo. O diagnóstico aconteceu enquanto ele morava no Havaí, mas por conta da lentidão do sistema de saúde local, ele decidiu retornar ao Brasil para iniciar o tratamento.

Em menos de duas semanas, já estava fazendo quimioterapia. Mesmo durante o processo, manteve-se próximo ao mar e ativo no surfe. Após meses de tratamento e superação, recebeu a notícia de que estava curado e sequer precisaria do transplante de medula que estava previsto.

Quem é Phil Rajzman?

Phil Rajzman é um surfista profissional brasileiro, especialista em longboard, bicampeão mundial da WSL e campeão mundial pela ASP, totalizando 3 títulos mundiais.

Quantos títulos Phil Rajzman tem na carreira?

  • 2025 – Etapa REMA WSL Saquarema Surf Festival
  • 2017 – Etapa Huanchaco Repalsa Longboard Pro
  • 2016 – Campeão mundial da WSL
  • 2014 – Vice-campeão mundial da WSL
  • 2009 – Campeão Pan-Americano
  • 2007 – Campeão mundial da WSL
  • 2007 – Campeão Pan-Americano
  • 2004 – Campeão mundial pela Oxbow Pro

Quem é o pai de Phil Rajzman?

Phil é filho do ex-jogador de vôlei Bernard Rajzman, que fez história na Seleção Brasileira e é integrante do Hall da Fama do Voleibol. Bernard ficou famoso pelo “saque viagem”, e também teve papel político no esporte brasileiro.

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Eric Filardi Content Coordinator

Coordenador do Esportelândia desde 2021, é jornalista pós-graduado em Jornalismo Esportivo. Autor do livro “Os Mestres do Espetáculo”, que está na biblioteca do Museu do Futebol de São Paulo. Passou por Jovem Pan, Futebol na Veia e PL Brasil.