A história do Corinthians parece reservar longos períodos de sofrimento seguidos por momentos de pura catarse. Um desses momentos foi a conquista do Campeonato Brasileiro de 1990, o primeiro título nacional do clube.

O grito de libertação naquele 16 de dezembro de 1990 ecoa junto com o de 1977, quando o Timão encerrou uma espera de 23 anos com a conquista do Campeonato Paulista, e o de 2012, ano em que o Corinthians quebrou a barreira da Libertadores e venceu o tão sonhado título continental.

Por isso, jogadores como Ronaldo Giovanelli, Neto, Tupãzinho e companhia dividem o panteão de lendas corintianas com Basílio, Wladimir, Zé Maria e, mais recentemente, Cássio e Paulinho. Sentam-se até à mesma mesa que Rivellino e Doutor Sócrates, ainda que estes ocupem um patamar técnico superior no universo do futebol.

A singularidade do Brasileirão de 1990 está em sua capacidade de abrir portas. Em 80 anos de história, o Corinthians nunca havia conquistado o campeonato nacional. No entanto, nas três décadas seguintes, o clube somou impressionantes sete títulos, consolidando-se entre os cinco maiores vencedores da competição.

Campanha do título de 1990 do Corinthians

1ª Fase

  • 1º Turno – 10 Jogos – 6 Vitórias, 2 Empates, 2 Derrotas – 2º Colocado (Grupo A)
  • 2º Turno – 9 Jogos – 2 Vitórias, 3 Empates, 4 Derrotas – 7º Colocado (Grupo A e Geral)

Quartas de final

  • Corinthians 2 x 1 Atlético Mineiro
  • Atlético Mineiro 0 x 0 Corinthians

Semifinal

  • Corinthians 2 x 1 Bahia
  • Bahia 0 x 0 Corinthians

Final

  • Corinthians 1 x 0 São Paulo
  • São Paulo 0 x 1 Corinthians

Destaques do Corinthians campeão brasileiro de 1990

  • Ronaldo – Principal referência entre os remanescentes do título paulista de 1988, o goleiro foi decisivo para segurar os empates nas fases finais.
  • Giba – O lateral direito foi a principal válvula de escape da equipe, além de ter participação muito importante na semifinal, marcando o gol que iniciou a virada contra o Bahia.
  • Marcelo Dijan – Outro remanescente do último título do Corinthians até então, o zagueiro foi peça central do sistema defensivo que tomou só dois gols na fase final e passou a finalíssima sem ser vazado. Tamanha foi sua eficiência que além do título levou a Bola de Prata – o único do time, aliás.
  • Neto – O craque do time, o camisa 10. Neto foi brilhante bem ao estilo do Corinthians: decisivo, vibrante e goleador. E um artista nas bolas paradas. Marcou nove gols no competição — três só entre as quartas e as semis — e cinco foram em cobranças de falta.
  • Tupãzinho – O apelido de Talismã foi consagrado na final, mas já existia durante boa parte da campanha. Era a garra e a energia de um ataque que não era brilhante, mas dava conta do recado.
  • Nelsinho Baptista – Assumiu o time em último lugar do grupo e o levou ao título. Soube aproveitar o melhor dos jogadores e o trabalho feito no Paulistão, além de gerir um grupo desequilibrado, com mais de sete opções para o ataque e quase nenhuma para as laterais.

A história do primeiro título brasileiro do Corinthians

O Corinthians iniciou o Brasileirão confiante, mas com a torcida apreensiva. O time havia trocado de treinador no Paulistão, substituindo o ídolo Basílio por outro ex-jogador, Zé Maria, sem contratar reforços para o restante da temporada.

A diretoria acreditava que a equipe, que havia liderado a primeira fase do Estadual e terminado a segunda invicta, seria suficiente para o Campeonato Brasileiro. O presidente Vicente Matheus, por sua vez, estava guardando dinheiro para ampliar o Parque São Jorge, já que o clube era alvo de piadas pela falta de conquistas nacionais e pela ausência de estádio próprio.

No entanto, a campanha começou mal: o Corinthians perdeu por 3 a 0 para o Grêmio na estreia e, em seguida, foi derrotado por 1 a 0 pelo Cruzeiro no Pacaembu.

Com a pressão aumentando, Zé Maria foi demitido e Nelsinho Baptista, com apenas um título estadual pelo Atlético Paranaense, foi contratado. No fim, a mudança se provou acertada, e o Corinthians acabou conquistando seu primeiro título nacional em 1990.

O Dérbi e a sequência invicta

Nelsinho fez sua estreia em um difícil empate de 0 a 0 contra o Vitória, campeão baiano daquele ano, no Barradão.

Embora não tenha feito grandes mudanças na equipe, o técnico começou a moldar o time que se tornaria icônico, trazendo Wilson Mano de volta ao meio-campo, Giba à lateral direita e promovendo Tupãzinho como um 12º titular de confiança.

A recuperação do time começou de forma clássica: no Dérbi contra o Palmeiras. Em 1990, o rival estava há 14 anos sem títulos, e o Corinthians conquistou sua primeira vitória no Brasileirão justamente nessa partida. Como era de se esperar, Neto marcou seu primeiro gol. E adivinhe de que forma?

A vitória no clássico marcou a primeira de uma de sequência de 11 partidas de invencibilidade que só foi acabar na metade do segundo turno, na derrota para o Botafogo. No meio disso, cinco empates e outras cinco vitórias — incluindo uma contra um Flamengo de três jovens promissores: Zinho, Djalminha e um tal de Marcelinho Carioca.

A queda no segundo turno

A derrota para o Botafogo foi responsável por uma das clássicas “viradas” do futebol, transformando uma invencibilidade de 11 jogos em uma sequência de cinco partidas sem vitórias.

O Corinthians já vinha de três empates seguidos e também igualou o placar contra o Vasco, campeão brasileiro de 1989. Porém, a vitória por 1 a 0 sobre o Santos, time do volante César Sampaio — que seria eleito o Bola de Ouro da competição —, encerrou essa fase negativa.

A classificação para a fase final, obtida pelo índice técnico (7º lugar geral), foi garantida graças ao bom desempenho no primeiro turno, já que o segundo foi um desastre. Além da vitória contra o Santos, o Timão venceu apenas o Atlético Mineiro, seu futuro adversário nas quartas de final.

Craque Neto e a fase final

Apesar de ter superado o Atlético-MG na primeira fase, o Corinthians não esperava um confronto fácil nas quartas de final. O time mineiro, invicto no primeiro turno e lanterna no segundo, tinha a perigosa dupla de ataque formada por Éder e o artilheiro Gérson.

No Pacaembu, Gérson abriu o placar para o Atlético após um erro de Mauro “Van Basten” e uma cabeçada precisa. O gol aumentou a tensão no estádio e o Atlético cresceu no jogo, exigindo defesas importantes de Ronaldo Giovanelli. Porém, aos 30 minutos do segundo tempo, Neto empatou ao completar um cruzamento de cabeça.

A partir daí, o Corinthians ganhou confiança. Aos 40 minutos, após um cruzamento rasteiro de Dinei, Tupãzinho dominou mal e a bola sobrou para Neto, que marcou o gol da virada.

No jogo de volta, mais de 60 mil torcedores no Mineirão viram a defesa corintiana, com Ronaldo e Marcelo Dijan, segurar o ataque do Atlético. O empate em 0 a 0 garantiu a vaga do Corinthians nas semifinais do Brasileirão de 1990.

Semis: outra virada e Ronaldo salvador

O Corinthians enfrentou o Bahia no Pacaembu, buscando provar que um raio pode cair duas vezes no mesmo lugar. O tricolor baiano contava com Charles, o artilheiro da competição com 11 gols, como uma ameaça no ataque.

Então, o roteiro das semifinais foi semelhante ao das quartas de final, com o zagueiro Vágner abrindo o placar, enquanto Charles fez Ronaldo trabalhar. O goleiro do Bahia, Chico, também se destacou ao defender uma falta cobrada por Neto, que liderava a reação corintiana.

Após o lance, Neto cobrou um escanteio que resultou em um gol contra do lateral Paulo Rodrigues, após um desvio de Giba.

Neto, claro, foi o responsável pela cobrança que originou o segundo gol, marcando seu nono gol na competição. A partida terminou em 2 a 1, e o Timão avançou, segurando um 0 a 0 no jogo de volta.

A final do Campeonato Brasileiro de 1990

Depois de 24 anos, o Corinthians estava de volta à final do Campeonato Brasileiro. Desta vez, o adversário era o São Paulo, rival que tanto contribuiu para a Democracia Corintiana. Embora não houvesse ídolos como Sócrates ou Casagrande, Neto e Wilson Mano estavam prontos para brilhar.

Durante todo o campeonato, Mano, junto com Márcio Bittencourt, formou uma sólida cabeça de área, sustentando o apoio de Giba e o talento de Neto. Na final, foi Neto quem destacou Mano.

Com quatro minutos de jogo e o Morumbi lotado, uma falta na intermediária esquerda do ataque corintiano resultou em uma cobrança perfeita de Neto, que encontrou Mauro na pequena área. Apesar de o atacante ter furado, Wilson Mano estava posicionado para completar e marcar.

Tupãzinho e o primeiro título brasileiro do Corinthians

No jogo de volta, 100 mil torcedores lotaram o Morumbi para presenciar o fim de um tabu e o início de uma nova era. O São Paulo, comandado por Telê Santana, contava com talentos como Cafu e Raí, mas o Corinthians tinha 11 heróis, o apoio da torcida e Tupãzinho.

Após um primeiro tempo disputado, o Timão começou a se soltar na segunda etapa. Com menos de 10 minutos, Tupãzinho e Fabinho iniciaram uma tabela pela direita, avançando em direção à pequena área. Fabinho recebeu de Tupãzinho, mas seu chute foi bloqueado pela defesa são-paulina.

Rapidamente, e com a atenção de quem esperou 80 anos, Tupãzinho apareceu para pegar o rebote e, em um carrinho, marcou o gol que garantiu o título ao Corinthians.

Após relembrar a campanha do primeiro título brasileiro do Corinthians, aproveite para conferir outros conteúdos sobre futebol: