Se você é um fã de futebol minimamente ativo em alguma rede social, é muito provável que você tenha visto, recebido ou compartilhado algum vídeo de um gol do Ronaldo no Barcelona.
É um conteúdo irresistível. O personagem é um dos principais craques da nossa história recente, o Barça é um dos protagonistas do futebol mundial e os lances verdadeiramente são apreciáveis.
Foi só uma temporada, entre 1996 e 1997, em que Ronaldo jogou na Catalunha. Mas que temporada. 49 jogos, 47 gols e um nível de atuação que só seria visto novamente no clube quase uma década depois, curiosamente por um jogador com o exato mesmo nome.
Mas suas atuações, lances e golaços vão além de simples likes e shares. São patrimônios da humanidade, materiais para o eterno imaginário popular e inspirações definitivas para muitos dos craques de hoje.
Para além do metafísico, o ano europeu de 1996-1997 rendeu ao atacante o prêmio de Melhor do Mundo. Ao Barcelona, os títulos da Copa do Rei, da Supercopa e da Copa da UEFA e 28 milhões de euros da venda recorde à Inter de Milão.
Antes do Ronaldo: a bagunça no Barça e resposta na grana
A temporada 1996-1997 começou bastante turbulenta no Barcelona. Se em 1995 o time tinha perdido Romário e Stoichkov, o Dream Team se desmantelou de vez com a saída de Johan Cruyff do banco de reservas.
O processo que levou à saída do holandês envolveu atritos constantes com a diretoria. Eles aconteceram muito por conta da debandada do setor ofensivo no ano anterior. O desgaste ao fim de 1995-1996 foi irreversível.
Algo semelhante aconteceria ao fim de 1996-1997 e que culminaria na saída de Ronaldo.
Para o lugar de Cruyff, veio Sir Bobby Robson. Treinador da Seleção Inglesa no fim da década de 80, Robson parecia ser a pessoa certa para retomar o domínio da La Liga exercido no começo dos anos 90.
O inglês vinha de um bicampeonato português e tinha vencido quatro dos últimos seis campeonatos nacionais que tinha disputado. As outras duas conquistas tinham sido com PSV, que tinha um tal de Romário no comando de ataque.
A experiência de Bobby Robson com uma estrela brasileira no ataque foi decisiva para o que aconteceu na sua chegada na Espanha. Sabendo que o Barça precisaria recuperar a confiança do time e dar uma resposta tanto à torcida quanto ao mercado, planejou uma contratação bombástica. E ligou para o ex-clube.
Ronaldo, o fenômeno da Espanha
Ronaldo chegou chegando na Espanha. Foi contratado por 15 milhões de euros, o maior valor pago por um jogador até então. Se atualizarmos os valores, hoje seria algo na casa do 90 milhões.
Se pensarmos que era um atacante de 20 anos já campeão do mundo e autor de 51 gols em 54 jogos no seu tempo na Holanda, o valor está longe de ser um absurdo. Até porque Ronaldo era mais do que gols.
O jogo de Ronaldo era fantástico, uma combinação entre potência física, técnica apurada, talento e inteligência posicional. Algo que beirava a perfeição — era “O Fenômeno”, afinal de cotas.
Sua imagem era tão grande quanto o seu futebol. A apresentação, a assinatura de contrato, os primeiros treinos, tudo era um frenesi midiático. Qualquer produto com seu nome estampado era rapidamente esgotado pelos torcedores na loja oficial do clube.
O Barcelona voltava aos holofotes, o clube estava vibrante e a ansiedade pela estreia tomava conta da cidade.
Estreia dos sonhos e os primeiros gols de Ronaldo no Barcelona
Ronaldo demorou seis minutos para fazer o seu primeiro gol pelo Barcelona. Giovanni, outro reforço dos espanhóis para a temporada, carregou a bola até a intermediária e entregou para o camisa 9 com o devido respeito.
Quem viu aqueles gols do Fenômeno nas redes sociais sabe o que acontecia quando ele recebia a bola por ali. Dominou e, com três toques na bola, arrancou rumo à meia lua da grande área, deixando três marcadores no caminho. Antes do chute, ainda escapou de um carrinho e colocou a bola no cantinho direito do goleiro.
Com 30 minutos do segundo tempo, recebeu a bola na ponta esquerda, entre as linhas da área e da linha de fundo. Parou, encarou o marcador e deu um elástico desconcertante, completado por uma assistência para Ivan De La Peña.
Ainda deu tempo de fechar o placar (5 a 2), mas dessa vez Giovanni é quem fez tudo. O camisa 10 arrancou do círculo do meio campo, passou por quatro adversários de uma vez e, na saída do goleiro, só deixou a bola para o seu compatriota empurrar para as redes.
Num compromisso com a Seleção Brasileira, Ronaldinho não participou do jogo da volta, em que o Barça perdeu por 3 a 1, mas o seu show foi o suficiente para garantir o primeiro título da temporada.
Daquela partida em diante, foram três meses de muita bola na rede. Foram 15 gols em 13 partidas, incluindo um inesquecível hat-trick para cima do Valencia do técnico Luis Aragonés.
No primeiro e no terceiro gols, o camisa nove arrancou impiedosamente pela defesa adversária, a mesma que tinha sido vice-campeã do ano anterior. Na frente do goleiro Zubizarreta, o titular da Seleção Espanhola, o artilheiro não tremeu.
No vídeo a seguir, vale notar o posicionamento de Ronaldo no lance do segundo gol e como ele era capaz de ficar sempre no limite do impedimento.
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As polêmicas e a “seca” de Ronaldo
O show contra o Valencia de certa forma encerrou o primeiro bom momento de Ronaldo no Barcelona. Marcou um gol no mês seguinte e só voltar a marcar em 1997.
Foram cinco partidas de seca na La Liga, o que, para um jogador com a média do Fenômeno, parece bastante. Nesse meio tempo, derrotas para o Athletic Bilbao, para o Real Madrid e para o pequeno Hércules, no jogo em que acabou a seca.
O período coincidiu com os primeiros atritos com a diretoria do Barcelona. Ronaldo estava com o ego nas alturas pelo cumprimento de toda e qualquer expectativa gerada e passou a pedir um maior salário.
O presidente Josep Nuñez era bastante permissivo em muitas questões. Liberou inexplicáveis viagens de Ronaldo ao Brasil, fez vista grossa para as críticas do atacante ao esquema do técnico Bobby Robson e o protegeu das cornetadas da torcida.
Mas quando o assunto era aumento salarial, Nuñez era intransponível como nenhuma defesa conseguia ser em frente ao Fenômeno. Stoichkov e Schuster que o digam.
A querela não durou muito mais que aqueles cinco jogos. O futebol de Ronaldo era precioso demais para o Barça e o momento no clube era bom demais para o atacante deixar passar por um punhado de dólares.
Afinal, Ronaldo era o Melhor do Mundo.
Redenção contra o Real Madrid
A redenção de Ronaldo com a torcida, que não andava muito satisfeita com a noturna vida ativa do craque, aconteceu da melhor forma: numa vitória contra o Real Madrid.
O então Melhor do Mundo tinha começado o ano a vapor. A derrota para o Hércules, que seria rebaixado ao fim do campeonato, foi doída, mas serviu para acabar com a zica. Marcou um golaço contra o Bétis e fez outros três na goleada contra o Rayo Vallecano.
O clássico contra o Real valia pela Copa do Rei e o camisa 9 já começou com tudo. Apresentou o cartão de visitas com poucos minutos, driblando Seedorf e outros três na entrada da área e chutando rente à trave esquerda. Abriu o placar antes dos 15 minutos.
A inteligência na linha de impedimento apareceu de novo e, recebendo um passe primoroso de Guardiola, arrancou da intermediária ofensiva e só precisou tocar uma vez na bola, um chute rasteiro no canto esquerdo do goleiro.
O Barcelona venceu por 3 a 2, resultado que, somado com o 1 a 1 na volta — com gol contra de Roberto Carlos após chute rasteiro de Ronaldo — classificou o time às quartas de final.
O torneio seria depois vencido sem a presença do brasileiro na final, mas foi todo encaminhado por ele. Nas quartas, jogou só o segundo jogo contra o Atletico de Madrid e anotou um hat-trick naquele maluco 5 a 4. Nas semis, mais dois gols na goleada por 4 a 0 contra o Las Palmas.
A outra Copa, a da UEFA, teve uma participação mais tímida mas não menos decisiva de Ronaldo. Na altura do jogo contra o Real, o Barça estava nas quartas, fase em que o atacante guardou dois gols, um em cada jogo, contra o Estolcolmo.
O brasileiro passou as semifinais contra a Fiorentina de Rui Costa em branco, mas jogou o fino contra o PSG de Raí e Leonardo. Marcou o gol do título, o único da partida, convertendo o pênalti sofrido por ele mesmo.
Barcelona voando com Ronaldo na área
No Campeonato Espanhol, Ronaldo voltou à excelente fase dos primeiros meses. Na sequência dos jogos contra o Real Madrid na Copa do Rei fez quatro gols em quatro jogos, sendo três deles contra o Real Zaragoza de Fernando Morientes.
Dali em diante, não parou mais de fazer gols. Partindo do jogo contra o Sevilla, na 30ª rodada — o Campeonato Espanhol tinha 24 times na época — o Fenômeno marcou em absolutamente todas as partidas da competição.
Foram 12 gols em nove jogos, incluindo mais um hat-trick sobre o Atlético de Madrid, certamente seu adversário favorito. Vale conferir o video da sua atuação. Foi uma exibição de gala.
O atacante não atuou nas últimas três rodadas por conta da Copa América de 1997 (a do “vocês vão ter que me engolir!”). O Brasil foi o campeão e Ronaldo, o craque do torneio.
O gol antológico contra o Compostela
Ronaldinho terminou o Campeonato Espanhol como o artilheiro, marcando 34 gols. Na temporada inteira, 47 gols em 49 jogos. Um ano mágico. Só ficou faltando o título nacional, vencido pelo Real por só dois pontos de diferença.
O momento que talvez melhor represente o que foi o Ronaldo no Barcelona foi o antológico gol marcado contra o Compostela, ainda no primeiro turno.
O camisa 9 ganhou uma disputa no meio de campo e começou a arrancar mesmo com a camisa sendo puxada. Num drible de pelada, parando a bola com a sola do pé esquerdo e dando um tapa com a direita, escapou do segundo e acelerou em direção ao gol.
Cortou o terceiro homem com enorme facilidade, dando um drible de corpo, e entrou na área com a bola grudada no pé. Trocando o domínio da esquerda para a direita, passou pelos últimos dois adversários que vinham na perseguição e ainda conseguiu se equilibrar para chutar no canto esquerdo na saída do goleiro. Uma obra de arte.
E não foi só o gol, foi toda a partida. Pobre do pequeno Compostela, que se preparou para enfrentar um homem e teve de lidar com um Fenômeno.
Problemas na renovação e a ida de Ronaldo para a Inter de Milão
Se com um começo estelar Ronaldo já começou exigir uma maior valorização, ao fim de um ano magnífico a pedida foi astronômica. O presidente Josep Nuñez jogou duro, cedeu em alguns valores, mas fez a contrapartida de um contrato de 10 anos.
O acordo parecia dar certo e Nuñez chegou até a anunciar que o atacante era do Barcelona “por toda a vida”.
Então apareceu Massimo Moratti. Dono da Inter de Milão desde 1995, o italiano aproveitou a insatisfação de Ronaldo com as condições do “super contrato” e até com a eleição de Luís Enrique como craque do ano por parte da torcida.
O empresário prometeu rios de dinheiro e o status dentro do vestiário que o atacante sempre quis no Barça. Com um cheque de R$ 27 milhões de dólares entregue à Federação Espanhola, pagou a multa do camisa 9 e o fez o novo 10 da Internazionale.
Durou apenas um ano a passagem de Ronaldo no Barcelona, mas as lembranças serão eternas.
Nunca saberemos até onde exatamente poderia ter parado o atacante sem a lesão de três anos depois, mas, do que temos, não é absurdo nenhum dizer que o período blaugrana foi o auge do Fenômeno.
Ronaldo no Barcelona: gols, títulos e prêmios
Campeonato Espanhol
- 37 jogos
- 34 gols
- 9 assistências
Copa da UEFA
- 7 jogos
- 5 gols
- 1 assistência
Copa do Rei
- 4 jogos
- 6 gols
- 1 assistência
Supercopa da Espanha
- 1 jogo
- 2 gols
- 1 assistência
Títulos
- Copa da UEFA
- Copa do Rei
- Supercopa da Espanha
- Vice-campeão Espanhol
Prêmios
- Melhor do Mundo da FIFA (1996, 1997)
- Artilheiro do Campeonato Espanhol (1996-1997)
- Melhor Jogador da Copa América (1997)
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Jornalista formado pela UNESP, foi repórter da Revista PLACAR. Cobriu NBB, Superliga de Vôlei, A1 (Feminino), A2 e A3 (Masculino) do Campeonato Paulista e outras competições de base na cidade de São Paulo. Fanático por esportes e pelas histórias que neles acontecem, dos atletas aos torcedores.