Ao avistar os emblemáticos touros vermelhos na camisa do time adversário, o torcedor já antecipa o que pode se desenrolar no campo. Não importa o local, as equipes da Red Bull sempre adotam a mesma abordagem, buscando pressionar o adversário e encerrar o jogo o mais rapidamente possível.

Não foi com pouca polêmica  e tampouco foi barato, mas a empresa de energéticos conseguiu enfim se estabelecer no futebol mundial.

São quatro times representando a marca em pelo menos dois grandes centros do esporte  — Alemanha, Áustria, Brasil e EUA — e no mínimo uma conquista clara: a padronização do seu estilo de jogo, a consolidação da “Escola Red Bull” no futebol.

Claro que cada equipe tem suas especificidades, até para que se virem dentro da cultura futebolística e a realidade financeira de seus respectivos países, mas o que há em comum entre eles é visível.

A ideia de pressionar muito o adversário na marcação, de jogar com velocidade e fazer isso numa escalação repleta de jovens de boa capacidade técnica é visível em absolutamente todos os compromissos das “franquias” da Red Bull.

Mais do que um capricho, o alinhamento dos modelos de jogo é o cumprimento de uma visão de certa forma pragmática do esporte e dos caminhos para o seu sucesso.

É só observar a hegemonia do Salzburg na Áustria, a consolidação do Leipzig na Alemanha, as sucessivas campanhas no topo do New York, nos EUA e o barulho que o Bragantino tem feito aqui no Brasil.

Ralf Rangnick e a padronização do Red Bull

O ponto decisivo para essa história foi a contratação de Ralf Rangnick  para o cargo de Diretor Esportivo de tanto o Red Bull Salzburg quanto o RB Leipzig.

A chegada de Ralf aconteceu em 2012 e marcava os seis anos da agressiva estratégia de inserção da marca no mundo do futebol. Tudo começou em 2005, na terra do CEO Dietrich Mateschitz, com a compra do FC Salzburg, da Áustria.

2006 foi a fez do New York MetroStars, dos EUA; em 2007 foi fundado o Red Bull Brasil e no ano de 2009 o SSV Mandranstadt foi adquirido na Alemanha. Houve ainda o Red Bull Gana, em 2008, mas que seria encerrado em 2014.

De volta a 2012, o acordo com Rangnick acarretou em uma certa demonstração de poder por parte da empresa, uma carta de intenções para o futuro.

Ralf Rangnick no banco do RB Leipzig
Rangnick começou a carreira como técnico no fim de 1980 (Foto: Steffen Prößdorf/ CC)

O alemão vinha de uma temporada bem-sucedida como técnico do Schalke 04 e mesmo assim optou por assumir as gestões de um clube das divisões regionais do seu país e de outro de um centro futebolístico de menor expressão.

A “sedução” de Rangnick se deu pelo ambicioso plano de integrar as duas equipes a partir do seu ideal de futebol. O gestor pensa o jogo de uma maneira intensa e sistemática, e quer que seus times atuem pressionando e que tenham ações velozes com a bola.

A ideia é encurtar ao máximo o tempo de resposta do oponente, que não consegue jogar nem marcar a tempo. Quando o adversário conseguir se ajustar, pode ser tarde demais no placar.

Ralf também teria a oportunidade de prospectar e desenvolver jogadores para imprimir seu estilo de jogo, da mesma maneira que tinha feito com Matip e Draxler no Schalke — hoje no Liverpool e no PSG, respectivamente — e com Roberto Firmino, este nos seus longínquos tempos como professor do Hoffenheim.

O sucesso do projeto da Red Bull

A partir da chegada do novo Diretor Esportivo, o Red Bull Salzburg emendou uma sequência de títulos nacionais que que começou em 2014 e dura até hoje. São sete conquistas e contando…

Na Alemanha, o RB Leipzig chegou à Bundesliga em quatro anos, com uma ajuda maior de Rangnick. No ano que rendeu o acesso à elite, foi gerido e treinado por ele. A mesma jornada dupla aconteceu em 2018-19, no que foi uma espécie de transição para a chegada do “técnico revelação” Julian Nagelsmann.

Desde que subiu para a primeira divisão, o Leipzig nunca ficou abaixo da sexta colocação. Foi vice-campeão da Alemanha logo no seu primeiro ano na série A.

O tamanho do sucesso dos Red Bulls germânicos pode ser medido também pela presença de suas revelações nos maiores times do futebol mundial, como Sadio Mané e Naby Keïta no Liverpool.

Mané e Keïta no Liverpool
Mané se destacou no Salzburg e Keïta saiu do Leipzig para o Liverpool  (Reprodução)

Os bons resultados na Europa fizeram a “firma” voltar os olhares para a América. E lá foi Ralf Rangnick fazer a sua gestão dupla no New York Red Bulls, dono de três melhores campanhas da MLS mas de nenhum título, e no recém-controlado Red Bull Bragantino.

Red Bull Bragantino e a nova investida no Brasil

A parceria entre Red Bull e Bragantino é recheada de polêmicas. A empresa, afinal, “absorveu” um clube de enorme tradição regional e que já estava na segunda divisão nacional.

E olha que havia um outro time fundado e operante, que fez a melhor campanha do Campeonato Paulista no mesmo ano em que foi concretizada a parceria.

Jogadores e comissão técnica, inclusive, foram a base integral do novo Bragantino, substituindo a maioria dos profissionais que estavam na agremiação paulista.

Na prática, foi uma compra de uma vaga para a Série B e, consequentemente, para a Série A. Ao mesmo tempo, a gestão conseguiu, em nove meses, conquistar um título que não era obtido desde 1989 no clube e triplicar a média de público do estádio no processo.

Bragantino nas asas da Red Bull

A campanha do Red Bull Bragantino em 2019 e no início de 2020 deu maior destaque às marcas do estilo de jogo pregado pela empresa e uma maior visibilidade aqui no Brasil ao projeto.

O retorno desportivo permitiu o aumento do investimento da matriz. Assim, ficou bem mais fácil a montagem de um elenco que permitia que o modelo idealizado por Rangnick fosse posto em prática.

A implementação do “estilo Red Bull” foi acompanhada de perto pelo alemão durante a Série B, com direito a intertemporada na Áustria, e foi uma das últimas contribuições do Diretor com a empresa.

Na temporada 2020-21, Ralf Rangnick volta ao mercado dos treinadores. Ele faria a sua tradicional jornada dupla no Milan, mas o acordo acabou ruindo.

O estilo Red Bull de futebol

Como falamos, cada time tem suas especificidades. O Red Bull Bragantino, por exemplo, joga de uma maneira mais cadenciada se comparado às filiais alemã e austríaca, mas ainda assim compartilha com elas diversas ideias de jogo, no ataque e na defesa.

Marcando, o Braga busca pressionar seus adversários na saída de bola com muita gente e com grande intensidade. Atacando, a palavra de ordem é velocidade, sempre buscando as pontas e rápidas trocas de passes.

Observe os gols do Bragantino, Leipzig e Salzburg que selecionamos abaixo, todos já após a pausa da pandemia. Veja como todos saem de jogadas rápidas vindas da lateral e como o time ocupa o campo de ataque, já pronto para uma possível pressão caso a bola fosse perdida.

Elenco jovem e intercâmbio e compras nos gigantes

Outra marca da Red Bull muito visível no Bragantino é o trabalho com os jovens. As filiais da empresa estão sempre atrás de jogadores de bom potencial que combinem técnica e capacidade físico.

No mercado de transferências para a temporada de 2020 o time brasileiro cumpriu a política à risca. O clube foi quem mais gastou no País, pagando um montante acima dos 80 milhões de reais. Todos os contratados tinham menos de 25 anos

Porém, ao contrário das outras franquias, que prospectam talentos nos menores e os vendem aos grandes, o Red Bull Bragantino foi às compras entre os gigantes brasileiros. Artur foi trazido do Palmeiras, Tony Anderson do Grêmio, Alerrandro do Atlético Mineiro e por aí vai.

Simultaneamente, o time se utilizou do intercâmbio de atletas da Red Bull, a partir do empréstimo do lateral Luan Cândido pelo Leipzig.  A gestão unificada, nesse caso, não só facilita esse tipo de transação como também identifica os melhores encaixes entre os jogadores e os times.

Cândido, por exemplo, muito jovem, poderia se adaptar ao estilo da Red Bull e ter tempo mais de jogo no Brasil. Há também o caso de Keïta, do Liverpool, que foi do Salzburg ao Leipzig, de André Ramalho, que lá em 2011 saiu do Red Bull Brasil rumo à Áustria, entre vários outros.

A estrutura e o futuro do Red Bull Bragantino

Por mais que a Red Bull não conte mais com Rangnick para o futuro, sua estrutura já está consolidada. Cada clube conta com profissionais formados em gestão esportiva e estudados na visão globalizada do futebol promovida pela empresa.

No Brasil, esse profissional é Thiago Scuro, o Diretor Executivo do Red Bull Bragantino. Scuro mal chegou aos 40 anos de idade, mas já tem bastante bagagem em gestão esportiva e é bastante influente no meio, tendo trabalhado no Cruzeiro, por exemplo.

A crença do dirigente no atual projeto é tão grande que ele chegou a recusar cargos no Flamengo e Palmeiras.

Sua preocupação não é nem tanto manter a padronização tática de Rangnick mas sim viabilizar um futuro sólido para o Braga. O elenco deve se manter forte se combinados a grana da matriz com os possíveis retornos financeiros dos investimentos nos jovens contratados.

A estrutura é o próximo passo, com planos para um centro de excelência já sendo feitos.

Tendo em vista o provável cenário do futebol brasileiro, de queda no poderio de alguns dos principais clubes do País, Scuro projeta que seu time deve fazer o mesmo que as outras franquias da Red Bull e brigar no topo em dois ou três anos.

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