O Coritiba e todo o futebol do Paraná nunca se esquecerão de 1985. Foi o ano em que o Coxa conquistou o seu Campeonato Brasileiro, o primeiro título nacional de um clube paranaense.
Por causa de 1985, nomes como Ênio de Andrade, Rafael e Lela estarão para sempre marcados na história do Coritiba e do futebol brasileiro. Eles foram os principais destaques de uma campanha improvável, de altos e baixos, de gigantes caídos e que terminou com a glória alviverde e um Maracanã calado.
Para homenagear essa conquista que já passou dos 30 anos de idade, a Esportelândia relembra a campanha, os destaques e os grandes momentos do Coritiba campeão brasileiro de 1985.
Os destaques do Coritiba de 1985
- Rafael Camarotta – O paredão. O goleiro foi peça-chave para o sistema defensivo do Coxa. Suas atuações na semis e na final renderam até pedidos de convocação para a seleção brasileira.
- Gomes – O xerifão. Único jogador do elenco que já tinha sido campeão (em 1978, com o Guarani), o zagueiro foi a voz da experiência no elenco. Tanto que bateu (e converteu) o pênalti do título.
- Dida – O motorzinho. O lateral foi um dos mais regulares de uma campanha nada regular do Coritiba. Forte, rápido e seguro com a bola no pé, Dida foi essencial para o estilo de jogo do campeão, de marcação forte e velozes contra-ataques.
- Lela – O craque. O ponta direita, pai do atacante Alecssandro e do volante Richarlyson, Lela foi o grande destaque técnico do time a partir de potentes arrancadas pelos lados e com gols decisivos.
- Índio – O matador. Índio começou o Brasileirão com tudo mas depois encarou uma seca de 16 jogos sem gols. A sequência ruim acabou justamente na final, quando fez o gol de falta que abriu o placar. O gol do título, de certa forma.
- Ênio de Andrade – O professor. Assumindo o volante com o carro andando, Ênio usou a experiência dos títulos brasileiros de 1979 e 1981 para formar uma equipe campeã que peitou gigantes e encarou um Maracanã lotado na final.
A campanha do Coritiba no Campeonato Brasileiro de 1985
O Campeonato Brasileiro de 1985 foi todo diferente. Foi o primeiro a não ter nenhum dos maiores clubes do país na decisão e o primeiro a ser vencido por um time do Paraná.
Foi também o primeiro a unificar as Taças de Ouro e de Prata num único campeonato, que continuou sendo chamado de Taça de Ouro, em mais uma tentativa da CBF de organizar o calendário do futebol brasileiro.
A divisão Taça de Ouro/Taça de Prata aconteceu entre 1980 e 1983, foi interrompida em 1984, quando a competição nacional foi chamada de Taça Brasil, e novamente retomada em 1985. Em 1986, foi mais uma vez chamada de Taça Brasil. Uma bela de uma bagunça.
O que importa é que em 1985 houve uma mudança na fórmula de disputa e na consequente classificação para a sequência do Campeonato.
Se de 1980 a 1983 a segunda fase da Taça de Ouro contava com os quatro melhores da Taça de Prata, em 1985 esse número mudou para oito, que vinham dos grupos C e D — para todos os efeitos, uma Taça de Prata.
A fase decisiva do Brasileirão de 1985, portanto, teve quatro times a menos da suposta elite do futebol. Não que mude qualquer mérito, mas o contexto era esse. O Coritiba, que fique claro, avançou para a segunda fase via grupo A, que representa a Taça de Ouro dos outros anos.
O mais curioso é quem conseguiu esse feito mesmo terminando em sétimo do seu grupo.
O potencial do Coxa e a troca decisiva
Uma mostra de que a fórmula não fez lá muita diferença para o Coritiba foi o começo do campeonato. O time treinado por Dino Sani deu a largada vencendo o São Paulo e o Cruzeiro no Couto Pereira.
O centroavante Índio voou nesses dois confrontos e marcou três dos cinco gols. Mas o Coxa — mais precisamente o técnico Dino Sani — acabou sendo vítima do próprio sucesso. Bahia e Vasco estavam espertos e causaram duas derrotas em sequência aos paranaenses.
Sani caiu, Dirceu Krüger foi o interino e veio a troca decisiva: Ênio de Andrade assumiu o comando.
Ênio foi um baita achado da diretoria do Coxa, um gaúcho que tinha conquistado o Campeonato Brasileiro como jogador do Palmeiras em 1960 e que foi campeão treinando o Internacional de 1979 e o Grêmio de 1981.
Sua experiência foi valiosa e seus métodos foram ainda mais importantes. O professor começou o trabalho promovendo uma mudança radical na preparação física.
Os exercícios — corridas sem fim ao redor do campo e sessões de tração de rolos compressores de 200kg — seriam considerados arcaicos hoje em dia. Não importa: prepararam os jogadores para um jogo de muita intensidade na marcação e velocidade nos contra-ataques.
Derrubando gigantes
Outra novidade que o treinador levou aos treinos do Coxa foi o uso dos reservas e jogadores da base como sparrings, emulando as táticas dos adversários a serem enfrentados.
Combinando o físico com o estratégico, o Coritiba de Ênio de Andrade peitou os gigantes do seu grupo. No segundo turno, novamente duas vitórias contra São Paulo e Cruzeiro, dessa vez num Morumbi e num Mineirão lotados.
A saga dos visitantes mal-educados foi completada no Maracanã, que na ocasião era a casa do Flamengo de Leandro, Adílio e Bebeto, o campeão de três das últimas quatro edições da Taça Ouro.
A classificação do Coxa contra o Santos
Foi um jogo em casa, no entanto, que reservou a maior emoção. O adversário foi outro gigante, o Santos.
Antes de começar, a partida já tinha um caráter épico. Com 10 pontos e na primeira colocação do grupo A no segundo turno, o Coritiba só tinha chances de avançar se assim terminasse a primeira fase.
O cenário era simples. O Coxa tinha que ganhar. Se isso não acontecesse, o Fluminense, com nove pontos, não poderia vencer. O que complicava era o número de vitórias conquistadas em casa no segundo turno: zero.
Com os olhos no Couto Pereira e os ouvidos no Maracanã, o torcedor viu o roteiro começando favorável. O Bahia, adversário dos cariocas, abre o placar aos 18 minutos do primeiro tempo. Oito minutos depois, Vavá faz o mesmo para o Coritiba contra os paulistas.
Foram três minutos de euforia até o gol de empate do Santos. A tensão foi crescendo ao longo do segundo tempo e virou desespero na marca dos 34 minutos. O Fluminense virou.
O grito de liberdade só viria aos 45 minutos, quando Lela “roubou” o chute de seu colega de time, Marco Aurélio e anotou o gol da classificação.
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Lela decisivo e as zebras de 1985
A loucura da última partida da primeira fase fortaleceu os jogadores. A pausa no campeonato por conta das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1986 os deixou afiados. Ênio de Andrade os transformou num time.
No ritmo de Lela, o Coritiba passou pela segunda fase com confiança, respondendo nos momentos mais complicados dos jogos mais difíceis. Foram três vitórias, dois empates e apenas uma derrota no grupo G, que tinha Corinthians, Sport e Joinville.
Dos cinco gols marcados nesta etapa, três foram de Lela. O mais marcante foi na primeira partida contra o Corinthians, um 1 a 0 disputadíssimo no Couto Pereira. Não foi exatamente bonito, mas a energia do camisa sete na sua clássica comemoração da careta mostra como foi importante.
As semifinais de 1985 e a defesa do Coritiba
Lembra da história dos grupos C e D e dos oito classificados da “Taça de Prata”? Pois é, dois deles avançaram às semis e formaram uma das mais inusitadas disputas de Campeonato Brasileiro da história.
Bangu e Brasil de Pelotas foram, respectivamente, o primeiro e o terceiro colocados do grupo D. Buscavam, assim como o Coritiba, o título inédito. Apenas o Atlético Mineiro já tinha vencido o torneio, em 1971. Foi justamente o adversário do Coxa.
Foi nas semifinais que a defesa armada por Ênio de Andrade realmente deu as caras. A equipe já vinha de três jogos consecutivos sem sofrer gols na segunda fase e seguiu sem ser vazada nos dois jogos antes da final.
No 1 a 0 da ida, a zaga estava tão bem que foi a responsável tanto pelo 1 do Coritiba, com o zagueiro Heraldo, quanto pelo 0 do Atlético Mineiro.
A volta foi a vez de Rafael brilhar. Diante de mais de 60 mil pessoas no Mineirão, o goleiro segurou o Galo de Nelinho, Paulo Isidoro e Reinaldo e ao fim do jogo até ouviu aplausos vindo da arquibancada.
A final de 85: Coxa e Bangu no Maracanã
O Maracanã estava cheio no dia 31 de Julho de 1985 e viu algo inusitado em suas arquibancadas.
Formando uma massa de mais de 90 mil pessoas, flamenguistas, botafoguenses, vascaínos e tricolores estavam unidos na torcida do Bangu, todos em prol do futebol carioca.
O time do dirigente e ilustre bicheiro Castor de Andrade tinha feito uma boa campanha, deixando Vasco e Internacional para trás antes das semifinais.
Dentro de campo, o Alvirrubro tinha muito talento nas pontas com Ado e Marinho. O último, inclusive, foi eleito o Bola de Ouro de 1985 e participou ativamente da Seleção Brasileira durante as eliminatórias para a Copa do Mundo de 1986.
Índio predestinado e o gol anulado
O jogo, como você deve imaginar, foi bastante disputado. O Bangu jogava no ataque, empurrado pelo Maraca e no ritmo de Marinho. O Coritiba se alimentava dessa energia e fazia o exato oposto, marcando muito e buscando matar o jogo nos contra-ataques.
Foi o Coxa quem abriu o placar, num lance de renegados, aqueles que as finais adoram consagrar. Aos 25 do primeiro tempo, o ponta-esquerda Toby, que passou a maior parte da competição machucado, sofreu a falta. Cobrou o atacante Índio, que amargava 16 jogos sem marcar. E marcou.
O time paranaense se prontificou a cumprir o roteiro dos últimos jogos. Almir e Marildo apertavam na marcação, Heraldo e Gomes rebatiam e o pouco que passava por eles parava no goleiro Rafael.
A melhor defesa da fase final trabalhou bem. Por 10 minutos. Aos 35 minutos o volante Lulinha aproveitou uma bola mal afastada da área do Coxa e bateu forte com a perna direita. A bola foi desviada e só assim conseguiu vencer Rafael.
O restante do jogo teve uma dinâmica similar. O Bangu parando no goleiro e o Coritiba tirando suspiros dos cariocas no contra-ataque. Até que Marinho recebeu um lançamento com todo o campo de ataque aberto.
Craque como era, o camisa sete não teve o menor problema em driblar Rafael e fazer o que seria o gol do título, não fosse a intervenção do árbitro Romualdo Arppi Filho.
Um lance polêmico, dado a corrida do bandeirinha para o meio, validando o gol, e a naturalidade paulista do juizão, que rendeu infindáveis acusações bairristas por parte da torcida carioca.
Coritiba campeão brasileiro nos pênaltis
O Bangu não conseguiu converter o apoio do Maracanã em uma vitória no tempo normal. Pode ter sido a concentração subtraída pelo gol anulado, pode ter sido a pressão reversa da expectativa de um estádio lotado, pode ter sido muita coisa, incluindo um adversário preparado para ser campeão.
Nas cinco primeiras cobranças do Coritiba, cinco acertos. O Bangu acompanhou, fazendo os cinco também. Então Ado perdeu a primeira da série alternada. O zagueiro Gomes, no alto da sua experiência como o único campeão do elenco, bateu firme no canto direito. E o resto é história.
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Jornalista formado pela UNESP, foi repórter da Revista PLACAR. Cobriu NBB, Superliga de Vôlei, A1 (Feminino), A2 e A3 (Masculino) do Campeonato Paulista e outras competições de base na cidade de São Paulo. Fanático por esportes e pelas histórias que neles acontecem, dos atletas aos torcedores.