A Bundesliga 2020/2021 será marcada pela austeridade mas principalmente pela competência. O mercado foi pouco movimentado de estrelas, até porque os clubes optaram por seguir as estruturas montadas na temporada anterior.
Na verdade, com a exceção de Sané no Bayern de Munique, foram mais saídas marcantes do que chegadas. As mais sentidas serão as de Werner e Havertz, que zarparam para o Chelsea, e Thiago, que foi para o Liverpool.
Para Bayern, Leipzig e Leverkusen, a reposição foi caseira, no máximo doméstica. O Dortmund nem repor precisou e até avançou na sua política de protagonismo de jovens talentos.
Gladbach, Hertha, Hoffenheim e Wolfsburg também mantiveram seus principais destaques. O Eintracht Frankfturt se readaptou ao desmonte da temporada passada. O Freiburg não conseguiu segurar as melhores peças, no entanto movimentou seu elenco gastando bem pouco.
Até mesmo quem precisava dar respostas mais contundentes no mercado, como Schalke e Werder Bremen, optou pela manutenção e evolução dos seus jogadores. Já Colônia, Mainz e Augsburg deram uma enxugada na folha salarial e ficaram somente com o essencial para sobreviver à briga contra o rebaixamento.
Entre os promovidos, estratégias diferentes. O Stuttgart vai na base da molecada, apostando no talento e na valorização dos seus “ativos”, enquanto o Arminia Bielefeld aposta no entrosamento dos campeões da segunda divisão do Alemão.
Tirando Dortmund e Bayern, Bayer e Hertha, mais ninguém gastou mais do que € 20 milhões e apenas o Borussia que ultrapassou € 50 milhões em despesas. Toda essa essa responsabilidade é um reflexo da resposta alemã à situação atual, seja na saúde, seja nas finanças.
O resultado, além das contas equilibradas, é uma excelente novidade: a volta da torcida ao estádios.
Ainda que em número reduzido e com diversas restrições, os torcedores devem ser uma das maiores atrações da Bundesliga 2020/2021. As demais você confere no Guia da disputa que produzimos abaixo.
Até onde vai a hegemonia do Bayern na Bundesliga?
Pode parecer estranho falar isso do time que ganhou os últimos oito campeonatos, porém desde a estreia de Pep Guardiola que o Bayern de Munique não começava uma temporada tão confiante.
São vários os paralelos possíveis. O primeiro e mais óbvio é a conquista da Tríplice Coroa (Alemão, Champions e Copa da Alemanha) no anterior. Depois, Hansi Flick pode até não ter o prestígio de Guardiola porém o trabalho tem sido tão revolucionário quanto.
A competência do alemão é inegável, comprovada pela invencibilidade e pelos títulos conquistados desde que assumiu o cargo, e a compatibilidade com o clube é até maior que do ex-treinador espanhol, fazendo a equipe jogar de uma maneira confortável culturalmente e extremamente competitiva.
Por fim, se 2012/2013 foi a temporada de consolidação de líderes como Alaba, Boateng e Martínez, em 2020/2021 teremos Davies, Goretzka, Gnabry e Kimmich como novas referências. É a conclusão do minucioso processo de renovação iniciado ainda na era guardiolista.
Até a janela de transferências foi similar, inclusive um tanto simbólica. Se Götze já estava acertado e Thiago foi a única pedida de Pep em 2013, Nübel e Sané cumpriram, respectivamente os mesmos papéis em 2020.
O simbolismo fica por conta da saída de Thiago e, se você quiser forçar um pouco, no fato de que Sané estava no Manchester City de Guardiola.
Apesar de tantas coincidências, é o excelente desempenho que bávaros que deve concluir com sucesso a “temporada espelhada”, isto é, com o título da Bundesliga conquistado com sobras.
A garotada do Borussia Dortmund
A incapacidade do Borussia Dortmund em aproveitar as vaciladas do Bayern nos últimos anos tirou um pouco da expectativa do clube pela conquista da Bundesliga, até porque tudo indica que o começo lento do rival não deve se repetir tão cedo.
Ao mesmo tempo, há tempos que os Aurinegros não tinham um grupo tão talentoso. Haaland, Sancho e Brandt (até então) permaneceram, Reus enfim se recuperou de lesão e há uma infinidade de jovens promissores à disposição de Lucien Favre.
Jude Bellingham, revelação inglesa de 17 anos, foi a principal contratação da temporada, e se junta à Gio Reyna (17 anos) e ao brasileiro Reinier (18), emprestado pelo Real Madrid, para formar a novíssima geração do Dortmund, que pode ter também o prodígio Moukoko, atacante de 15 (!) anos que foi integrado ao elenco principal.
Qualidade, energia e fôlego certamente não faltaram no campeonato. Até experiência há de sobra, com Hümmels, Witsel e com o próprio Reus. Mas será o suficiente para quebrar uma hegemonia?
A consolidação do RB Leipzig na Bundesliga
O RB Leipzig não é novidade para mais ninguém. A disputa das semifinais da Liga dos Campeões são prova o bastante disso.
Talvez resida exatamente nesse fato o maior desafio do time da Red Bull. Julian Nagelsmann se mostrou um exímio treinador e estrategista, mas saberá lidar com os obstáculos do ano seguinte ao sucesso?
Como motivar, por exemplo, Sabitzer, Forsberg e Kampl, no time há mais tempo? E como lidar com o assédio aos defensores Upamecano e Angeliño? Por outro lado, os meias Dani Olmo e o atacante Borkowski devem dar uma maior frescor à disputa interna.
Dentro de campo, a saída de Timo Werner pode dificultar um pouco na hora da decisão mas, no decorrer da temporada, a base consolidada deve acelerar a adaptação do coreano Hwang, trazido da “filial” da Áustria para o lugar do antigo camisa 11.
Successful debuts for our 1️⃣1️⃣ and 3️⃣9️⃣ on Saturday 🙌
🔴⚪ #DieRotenBullen pic.twitter.com/fQZCpGiK2n
— RB Leipzig English (@RBLeipzig_EN) September 15, 2020
A disputa pela Bundesliga “alternativa”
Na ponta da “Bundesliga alternativa” temos Monchëngladbach e Bayer Leverkusen, respectivamente 4º e 5º colocados do ano passado. O Hertha, mesmo terminando na 10ª posição, se junta ao bolo pelo potencial do elenco montado.
O Borussia optou por renovar o seu grupo, mantendo a já jovem equipe titular, dispensando veteranos como Fabian Johnson e o brasileiro Raffael e ainda trazendo a promessa Hannes Wolf, emprestado pelo Leipzig.
O Leverskusen, mesmo vendendo Kai Havertz, seu melhor jogador, pouco se movimentou no mercado de transferências. Até porque o time se preparou já em janeiro de 2020, trazendo do River Plate o meia Palacios e começando a transição de Florian Wirtz, nova jóia dos “farmacêuticos”.
O Hertha Berlin, novo rico da Bundesliga, também fez o maior volume de investimentos no ano passado. O ataque foi e ainda é o foco das contratações da “Velha Senhora”. Piatek, Lukebakio e o brasileiro Matheus Cunha chegaram ainda em 2019/2020, e o colombiano Jhon Córdoba desembarcou em Berlim para 2020/2021.
Eintracht Frankfurt do ataque ao meio
O Eintracht Frankfurt fez o caminho contrário do Hertha. Sofrendo com as perdas de Jovic, Rebic e Haller no começo da última temporada, o time mudou seu centro de gravidade.
O meio campo de Kostic, Rode e Kamada passou a carregar a equipe, que apesar da qualidade na criação deve repetir o meio de tabela do campeonato anterior.
Os “europeus” Hoffenheim e Wolfsburg
É até um pouco injusto colocar Wolfsburg e Hoffenheim neste bloco intermediário. Os dois, afinal, conseguiram vagas na Liga Europa. Só que os compromissos europeus, dentro de um calendário muito mais apertado, devem sufocar maiores aspirações domésticas.
Ainda assim, são duas equipes de boa produção ofensiva e com bons talentos no comando de ataque. No Wolfs, a grande área é de Weghorst, autor de 16 gols na Bundesliga 2019/2020. No Hoffenheim, o posto é Kramaric, que anotou 12 gols no campeonato passado.
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A tradição e a pressão de Schalke 04 e Werder Bremen
Schalke 04 e Werder Bremen terão de trabalhar muito para apagar os fiascos anteriores e voltar a fazer jus à tradição dos 11 títulos alemães que somam.
O Schalke até começou bem, cumprindo um bom primeiro turno. No segundo que a coisa degringolou e o time terminou a competição fazendo a terrível sequência de 15 partidas sem vitórias.
A avaliação da diretoria foi de algo fora do comum e bancou o técnico David Wagner, “parça” de Jürgen Klopp. Para a Bundesliga 2020/2021 a aposta é na manutenção e evolução do elenco, em especial dos meias Serdar e Harit.
O ano do Werder foi muito mais dramático, se salvando do rebaixamento só nos playoffs contra o Heidenheim. Os cartolas alviverdes também deram um voto de confiança ao grupo principal e ao técnico Florian Kohfeldt, mas renovando bastante o elenco de apoio.
A juventude do Stuttgart
O Stuttgart também tem uma tradição para se apoiar, dono de cinco títulos alemães. Porém, voltando à primeira divisão, a estratégia do retorno é apostar na juventude.
O elenco é um dos mais jovens da Bundesliga 2020/2021 — com idade média abaixo dos 24 anos — e também um dos mais habilidosos, especialmente o meia Didavi e o atacante Nico González.
Os elencos mais transformados da Bundesliga
Os clubes que mais transformaram seus elencos são também os que provavelmente conviverão na parte inferior da tabela.
O Freiburg perdeu alguns titulares depois da oitava posição na última temporada, mas se movimentou bem na janela, gastando em cinco novos jogadores a metade do que recebeu nas negociações.
O Augbsurg, do lateral esquerdo brasileiro Iago, ex-Internacional, enxugou bastante o elenco e apostou na contratação de veteranos para melhor suportar a briga contra o rebaixamento.
Colônia e Mainz seguiram o mesmo caminho, diminuindo a folha salarial e usando a grana para bancar seus destaques. O Mainz, por exemplo, segurou os bons e assediados atacantes Onisiwo, Quaison e Mateta.
Union e Arminia querem surpreender na Bundesliga
Seguindo um ano surpreendente em que, recém-promovido, ficou na 11ª colocação, o Union Berlin também foi bastante ativo na janela de transferências. A principal contratação foi o atacante Max Kruse, marcado pelo bom desempenho no Werder Bremen em 2018/2019.
Ja o Arminia Bielefeld quer seguir como o elemento surpresa que foi na Bundesliga B. Por isso mesmo, manteve intacta a base da temporada anterior. O fato curioso é que se reforçou de sete jogadores sem gastar um centavo sequer.
Quando começa a Bundesliga 2020/2021
A bola rola na Bundesliga 2020/2021 no dia 18 de setembro, uma sexta-feira. A primeira rodada vai até o dia 20, domingo.
O calendário alemão será um tanto apertado nesta temporada, com duas semanas a menos de paralisação durante o inverno com as datas de possíveis replays da Copa interferindo nas rodadas da Liga.
De qualquer maneira, a 34ª e última rodada do Campeonato Alemão está marcada para o dia 22 de maio de 2021.
Calendário da 1ª rodada da Bundesliga 2020/2021
Sexta-feira – 98/09
- Bayern de Munique x Schalke 04 – 15:30
Sábado – 19/09
- Eintracht Frankfurt x Arminia Bielefeld – 10:30
- Union Berlim x Augsburg – 10:30
- Colonia x Hoffenheim – 10:30
- Werder Bremen x Hertha Berlim – 10:30
- Stuttgart x Freiburg – 10:30
- Borussia Dortmund x Borussia Mönchengladbach -13:30
Domingo – 20/09
- RB Leipzig x Mainz – 10:30
- Wolfsburg x Leverkusen – 13:00
Times da Bundesliga 2020/2021
- Bayern de Munique
- Borussia Dortmund
- RB LeipzigSchalke 04
- Wolfsburg
- Bayer Leverkusen
- Hoffenheim
- Borussia Mönchengladbach
- Werder Bremen
- Hertha Berlim
- Eintracht Frankfurt
- Stuttgart
- Arminia Bielefeld
- Union Berlim
- Augsburg
- Colonia
- Friburg
- Mainz
Onde assistir à Bundesliga 2020/2021
Pela primeira vez o Campeonato Alemão está fora da TV a cabo. A notícia, no caso, é boa: todas as transmissões serão gratuitas. Um jogo de cada rodada da Bundesliga 2020/2021 será passado na Band, geralmente aos domingos de manhã.
Para as demais partidas, um acordo inédito: o aplicativo One Football, de resultados em tempo real, transmitirá tudo de forma gratuita até 2023. Para sintonizar nas partidas, basta instalar o app no seu celular. Não será possível assistir pelo computador.
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*Última atualização feita em 17 de setembro de 2020
Jornalista formado pela UNESP, foi repórter da Revista PLACAR. Cobriu NBB, Superliga de Vôlei, A1 (Feminino), A2 e A3 (Masculino) do Campeonato Paulista e outras competições de base na cidade de São Paulo. Fanático por esportes e pelas histórias que neles acontecem, dos atletas aos torcedores.