As temporadas de 2020 e 2021 serviram para acabar com qualquer dúvida sobre a hegemonia da Mercedes na Fórmula 1.
Os oito títulos da montadora superaram até mesmo o indiscutível domínio da Ferrari entre o fim da década de 1990 e meados dos anos 2000. No ano anterior, o hexa de Lewis Hamiltonjá havia feito da escuderia a recordista em conquistas consecutivas de seus pilotos.
Hamilton, inclusive, está muito próximo de igualar o número de títulos de Michael Schumacher e agora acelera ruma à ultrapassagem dos recordes do alemão.
A Mercedes deve muito do seu momento ao piloto inglês, mas também tem muitos méritos nesse processo, incluindo a contratação em si do agora hexacampeão.
A história da mais nova hegemonia da F1 passa por uma tragédia, por um negócio perfeito, por dois ex-pilotos — um campeão e outro fracassado — e tem seu ponto de virada numa das maiores mudanças na dinâmica de competição da categoria. Fique conosco e conheça todos os detalhes!
A história da Mercedes na F1
A Mercedes-Benz esteve presente na Fórmula 1 desde os primórdios. Foi inclusive campeã de duas das cinco primeiras edições da competição, em 1954 e 1955. O campeão, na verdade, foi o argentino Juan Manuel Fangio, que chegou ao bicampeonato três anos antes de existir a disputa oficial de montadoras.
Glória e tragédia conviveram no esporte em 1955, que comemorou o bi da Mercedes mas chorou o acidente de Le Mans, a maior tragédia da história do automobilismo, que vitimou mais de 80 pessoas e motivou o afastamento da empresa alemã das corridas.
A parceria com a McLaren e a compra da Brawn
O retorno definitivo da Mercedes à F1 só foi acontecer em 1994, primeiro numa breve parceria com a Sauber e, enfim, no projeto de longo prazo com o fornecimento de motores à McLaren. A conexão Alemanha-Inglaterra nos boxes deu frutos nas pistas.
Foram dois títulos seguidos de Mika Häkkinen, em 1997 e 1998, e o tri veio 10 anos depois com Lewis Hamilton. Naquela altura, a sociedade internacional já começava a se deteriorar. A McLaren buscava maior autonomia para construir seus modelos, e a Mercedes queria novamente ter uma equipe própria.
A oportunidade de ouro veio ao fim de 2009. A Brawn GP, equipe sensação da temporada e campeã no primeiro ano de sua existência, estava à venda. Foi devidamente comprada e absorvida pela montadora alemã.
Toto Wolff e a nova Mercedes
Nico Rosberg e Michael Schumacher formaram a primeira equipe da “nova” Mercedes, em 2010. Time mais alemão, impossível. Mas não deu em muita coisa. Foram três anos de resultados medíocres antes da primeira grande transformação acontecer. E não estamos falando da saída de Schumacher em 2012.
Ao final desse mesmo ano, Ross Brawn, que tinha sido “absorvido” junto da compra da escuderia homônima, deu lugar a Niki Lauda no cargo de Diretor Não-Executivo. Tricampeão da Fórmula 1, Lauda fazia a ponte entre a empresa e a montadora.
O empresário Toto Wolff veio na sequência. Ex-piloto frustrado, o austríaco se aproximou da categoria como agente de pilotos e se consolidou como “salvador” da Williams, dono de 15% da equipe inglesa e depois Diretor Executivo.
A chegada de Wolf foi essencial para o sucesso da Mercedes. O “forasteiro” conseguiu emplacar uma nova visão sobre a gestão de equipes Fórmula 1, baseada na compartimentação das áreas técnicas e na descentralização das decisões.
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A contratação milionária de Lewis Hamilton pela Mercedes
Nesse esquema, Niki Lauda tinha um poder maior do que o normal para o cargo, no que diz respeito a questões desportivas. E assim, o austríaco conseguiu uma das melhores “contratações” da história da categoria.
A partir de muito convencimento, seja do piloto, seja da empresa, Lauda conseguiu costurar um acordo entre Lewis Hamilton e a Mercedes.
Hamilton aceitou o desafio de correr por uma nova montadora, e os engravatados alemães concordaram em pegar tudo o que o campeão de 2008 pedia. A adesão do inglês à equipe aconteceu no início de 2013 e mudou a história da equipe e de toda a F1.
Mercedes, a dona da “era híbrida” da F1
Toto, Lauda, Hamilton e Rosberg formavam um belo time, mas o adversário era implacável. A Red Bull Racing de Sebastian Vettel vinha construindo sua própria hegemonia e, em 2013, no primeiro ano da “nova nova Mercedes”, levou o tetracampeonato.
Então, a grande transformação. Em 2014, a Fórmula 1 entrou na sua “era híbrida”, com motores de menor potência, mais pesados e que alteraram completamente a lógica da montagem dos veículos.
Para alguns especialistas, deixaram ainda mais importante o papel do engenheiro nas competições
Enquanto muitas equipes quebravam a cabeça para se adaptar, a descentralizada Mercedes tinha o genial Andy Cowell pronto para trabalhar as mudanças específicas nos módulos dos novos motores.
2014, o início da hegemonia da Mercedes
Definitivamente, a Mercedes saiu por cima da mudança.
A temporada de 2014 foi mágica. Hamilton e Rosberg fizeram nada menos que 11 dobradinhas e combinaram para 16 vitórias de 19 GPs. Foram ainda donos de 12 voltas mais rápidas e fizeram 18 pole positions.
Com 11 corridas conquistadas, Lewis Hamilton foi o campeão, e Rosberg ficou com o vice. Na disputa de construtores, lavada: 701 pontos para a Mercedes e 405 para a Red Bull. Era o início de um domínio que parecia sem precedentes na história da Fórmula 1.
Os títulos da Mercedes na F1
Entre 2014 e 2016, a Mercedes correu livre, leve e solta na Fórmula 1. Como ninguém conseguia se equiparar às soluções de Cowell para o motor híbrido, a disputa ficava mesmo entre Hamilton e Rosberg. O inglês levou em 2014 e 2015; o alemão, em 2016.
Nessa época, o maior desafio para Wolff e Lauda era a gestão de egos. Em 2017, no entanto…
Se em 2014 a organização “chocou” com os motores híbridos, três anos depois foi a vez de subir o sarrafo ao obrigar todo mundo a desenhar os modelos do zero.
A hegemonia de Lewis Hamilton na F1
Naquela altura, entendia-se que o domínio da Mercedes começaria a minguar. Tudo indicava que a Ferrari tinha conseguido equiparar a tecnologia dos motores e a tradição em desenhos da montadora italiana poderia mudar a competição.
Em uma tacada só, menosprezaram a Mercedes e Lewis Hamilton. Com a eficiência do motor equiparada, o chassi dos alemães começou a brilhar. E todo o talento do piloto inglês fez a diferença.
Logo no primeiro ano dos projetos zerados, Hamilton levou 9 dos 20 GPs e formou outros quatro pódios. Foi campeão no México, com duas corridas a serem disputadas e passou o número de poles conquistadas por Ayrton Senna (vídeo abaixo) . Em 2018, 11 vitórias, seis pódios e novamente campeão, com dois GPs de antecedência.
A temporada de 2019 fez de Lewis Hamilton o segundo piloto da história da Fórmula 1 a vencer seis títulos mundiais. Mais campeão que ele, só Michael Schumacher.
Novamente, foram 11 vitórias, seis pódios e apenas cinco poles, o menor número entre todas as suas campanhas vitoriosas. A conquista, como de praxe, veio com duas corridas a serem disputadas.
A polêmica da Mercedes Rosa
Para quem duvidava, a Mercedes consolidou seu domínio. Igualou os seis títulos consecutivos da Ferrari, entre 1999 e 2004, e superou os italianos em conquistas consecutivas dos seus pilotos — em 1999, o campeão foi, ironicamente, da McLaren-Mercedes.
Tamanho é o sucesso da equipe alemã, que teve adversário que decidiu “copiá-la”. A temporada 2020 foi marcada já desde o começo pela épica vitória de Lewis Hamilton no GP da Inglaterra, terminando a corrida com apenas três pneus inteiros.
O onboard + rádio da última volta do Hamilton 🤯 pic.twitter.com/wBASk0pjvs
— Samuel Pancher (@SamPancher) August 3, 2020
Mas outra coisa chamou a atenção: o carro da Racing Point Force India. A construtora, que já conta com motores da Mercedes, também pôs na pista um modelo muito similar ao dos hexacampeões.
A cópia parcial foi admitida pela Racing Point, que tem sido chamada de “Mercedes Rosa” e a manobra foi punida pela FIA, mas ainda assim, apenas pelo sistema de freios e dentro do regulamento esportivo, ou seja, na parte técnica, está tudo mais ou menos liberado.
Seria a estratégia da “nanica” o caminho para acabar com o domínio dos alemães?
Vale lembrar que por toda a história da categoria, as inovações de uma construtora foram sendo copiadas ou pelo menos “absorvidas” pelas rivais, e, equiparadas as questões técnicas, o que sobrava era a competição no volante.
Heptacampeonato da Mercedes no Mundial de Construtores
Independentemente das cópias por outras equipes, a Mercedes segue ampliando seu domínio na Fórmula 1. Com a dobradinha de Lewis Hamilton e Valtteri Bottas no GP da Emilia-Romagna, a equipe confirmou a conquista do seu sétimo título consecutivo do Mundial de Construtores.
Hamilton já se tornou o recordista de vitórias na Fórmula 1, ultrapassando a marca histórica de Michael Schumacher, e conta apenas os dias para igualar o número de títulos do alemão.
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*Última atualização em 15 de novembro de 2023
Jornalista formado pela UNESP, foi repórter da Revista PLACAR. Cobriu NBB, Superliga de Vôlei, A1 (Feminino), A2 e A3 (Masculino) do Campeonato Paulista e outras competições de base na cidade de São Paulo. Fanático por esportes e pelas histórias que neles acontecem, dos atletas aos torcedores.