Pode parecer incrível, mas a trajetória da Brawn GP na Fórmula 1 é uma verdadeira história de superação. A equipe, formada menos de um mês antes do início do campeonato, teve um desempenho tão espetacular que parece roteiro de cinema.
Comandada por Ross Brawn e contando com pilotos como Jenson Button e Rubens Barrichello, a Brawn GP superou todos os obstáculos e conquistou o título mundial em seu primeiro e único ano de existência.
Enquanto Hollywood ainda não transforma essa história em filme, você pode conhecer todos os detalhes dessa jornada impressionante aqui mesmo. Continue conosco e descubra como a Brawn GP, uma equipe que quase não existiu, se tornou uma das mais bem-sucedidas da Fórmula 1.
História da Brawn GP
Era uma sexta-feira de 2008 quando o mundo da Fórmula 1 veio abaixo. No dia 5 de dezembro, um pouco mais de um mês do primeiro título mundial de Lewis Hamilton, a Honda Racing anunciou a sua retirada imediata da categoria.
Dona de um dos maiores orçamentos do grid, a equipe foi posta à venda após os duros impactos econômicos da crise econômica mundial do fim da década de 2010, que obrigou a Honda a interromper todos os investimentos que pôde.
A falta de dinheiro era, na verdade, geral. Tanto que o time ainda estava a venda há menos de um mês do início da temporada de 2009. A essa altura, funcionários da fábrica estavam em stand-by; pilotos negociavam seus futuros e a F1 buscava alternativas para as duas vagas abertas no grid.
É nessa hora que aparece o mocinho, ainda que não haja um vilão nessa história. Ross Brawn, diretor técnico contratado pela Honda em 2008, exerce, junto do CEO Nick Fry, o chamado management-buyout, a compra da equipe, salvando empregos, completando o grid e dando início a um dos mais emocionantes campeonatos da Fórmula 1.
O “milagre” de Ross Brawn
Ross Brawn não era um magnata mas, com todo o prestígio de um diretor técnico vencedor de sete títulos mundiais, conseguiu fazer com que a nova equipe, batizada com seu próprio nome, estivesse viva e operante antes da nova temporada de Fórmula 1.
Mais do que um “bom samaritano” do automobilismo, Ross foi alguém com enorme convicção em seu trabalho, beirando a fé, na verdade. Tirado da aposentadoria pela Honda para ser chefe da equipe em 2008, o inglês apostou em concentrar suas energias na total reconstrução do carro, só que para 2009.
Foi por isso mesmo que com um dos maiores orçamentos do grid o time da montadora japonesa terminou o campeonato de construtores apenas na nona colocação. A grana, o foco, a expectativa, tudo estava voltado para o carro de 2009.
Assim, a decisão da Honda pela venda caiu como uma bomba também para o dirigente, que viu ameaçado o trabalho de um ano inteiro. Mais: a destruição de um enorme potencial.
A Fórmula 1 de 2009
Pois bem, a compra da Honda aconteceu e a nova Brawn GP fez acontecer. E chocou a Fórmula 1.
Com o BGP 001 — carro que todo mundo acreditava ter sido feito às pressas — e com um novo motor da Mercedes, Jenson Button e Rubens Barrichello, pilotos remanescentes da Honda, arrebentaram já nos treinos da pré-temporada.
Ninguém entendeu nada. Button voando baixo a cada volta, Rubinho batendo o recorde de tempo do Circuito da Catalunha, Ross Brawn operando tudo dos boxes, tudo era muito novo e muito surpreendente.
A história toda ficou ainda mais confusa com a dobradinha na largada para o GP de abertura da temporada, o da Austrália. E quando ela se repetiu no pódio, com Button em 1º em Barrichello como vice?
O difusor duplo da Brawn GP
Quando os adversários de fato sacaram o que acontecia com a caçula do grid, Button já tinha vencido o segundo Grande Prêmio do ano, na Malásia. Na raiz do arrasador início da Brawn GP estavam os famigerados difusores duplos.
Um pouco de contexto: em 2008, quando Ross assumiu a chefia da Honda, foi anunciada uma espécie de isonomia dos desenhos para 2009. Em outras palavras, todo mundo teria que começar seus carros do zero para a nova temporada, seguindo, claro, um novo regulamento.
Entre os vários pontos dessas regras estava a questão dos tais difusores, um elemento na parte traseiro dos carros que aproveita o ar que por ali passa para dar maior aderência e estabilidade.
O regulamento instituía um menor espaço para esse elemento, só que estipulavam as medidas apenas em relação ao corpo do carro.
Os engenheiros da Honda/Brawn, então, seguiram o delimitado para o carro, mas aumentaram a parte em si, criando uma espécie de difusor duplo. Essa brecha no regulamento acabou por render cerca de meio segundo de vantagem para os adversários.
A polêmica e a revolução dos difusores duplos
Ferrari, McLaren e demais seguidores da regra em seu intuito, chiaram.
Chegaram até a apelar à Federação Internacional do Automobilismo (FIA), que julgou o caso entre os GPs da Malásia e da China, mas indeferiram o pedido de impedimento do uso dos difusores duplos. A Brawn GP seguiria com a sua novidade e quem quisesse que corresse atrás.
A grande sacada da equipe não era necessariamente revolucionária mas precisa. A questão dos difusores era relativamente simples porém algo que não se ajustava da noite para o dia.
Assim, enquanto todo mundo corria para refazer seus desenhos, Jenson Button e Rubens Barrichello corriam para um total de seis vitórias e nove pódios nos primeiros sete GPs. Houve até mais duas dobradinhas — Espanha e Mônaco — além do GP da Austrália.
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“Gordura” e tensão na Brawn GP
A “gordura” da Brawn GP era boa quando a concorrência conseguiu equipar os carros, o que não quer dizer que a segunda metade do campeonato tenha sido não tenha sido emocionante para a novata da Fórmula 1.
A tensão tomou conta do ambiente depois das duas dobradinhas da Red Bull nos GPs da Inglaterra e da Alemanha e também da vitória de Lewis Hamilton na Hungria.
Os roteiros de filmes chamam esse momento de “provação”. E foi justamente o que a Brawn GP fez: provou que era mais do que um carro e que poderia ser campeã.
Ross Brawn, mais que um dono
As vitórias, portanto, de Rubens Barrichello nos Grande Prêmios da Europa e da Itália foram mais do que um alívio, mais do que uma salvação para a construtora. Foram a consagração de uma equipe e, de certa forma, do seu líder.
Até porque não era somente nos difusores onde a Brawn GP inovou na Fórmula 1. Como dono da equipe, Ross Brawn iniciou — ou pelo menos renovou — uma tendência de liderança na categoria.
Dono de poder máximo, Ross era muito presente na rotina dos treinos e nos fins de semana de corrida. Com a experiência de alguém que esteve nos sete títulos de Michael Schumacher na F1, o inglês atuava como um elo entre departamentos e como um ponto focal do dia a dia, aliviando a pressão e dando suporte confiança.
O dono da Brawn GP era, na prática, um chefe de equipe todo-poderoso. Sua enorme bagagem serviu como uma espécie de apólice de seguro para os momentos ruins mas também como uma balizadora de uma gestão extremamente eficiente.
Foi de Ross, por exemplo, a decisão de manter Rubens Barrichello no time, em detrimento de Bruno Senna. O jovem sobrinho de Ayrton Senna traria visibilidade e principalmente patrocinadores, mas Brawn optou por ficar com a experiência de Rubinho.
O conto de fadas da Brawn GP
E foi com enorme experiência, com conhecimento de pistas e do campeonato, que Rubens Barrichello venceu os GPs número 11 e 13.
Os pontos aliviaram a equipe na disputa dos construtores e empurraram o desempenho de Button, que conseguiu somar na dobradinha da Itália e depois confirmar o título dos pilotos em Interlagos.
A chegada do inglês nos boxes brasileiros foi uma catarse completa. Com uma corrida de antecedência, a Brawn GP confirmava o final feliz de um conto de fadas. Só não foi um “felizes para sempre”.
A venda da Brawn GP para a Mercedes
Valorizada pelo ano mágico mas sem a capacidade financeira para se manter em alto nível, a Brawn GP foi, ao fim de 2009, comprada pela Mercedes Benz, negócio que seria decisivo para o campeonato nos anos seguintes (e que contamos com detalhes aqui).
A venda foi uma decisão sábia de Ross Brawn, que comandou a Mercedes e depois a própria Fórmula 1. Ela também acabou por eternizar uma das mais fantásticas histórias do automobilismo e, por que não, de todo o esporte.
Números e estatísticas da Brawn GP
- Vitórias: 8
- Pódios: 15
- Poles: 5
- Melhores voltas: 5
- Pontos: 172
Pilotos da Brawn GP
- Jenson Button
- Rubens Barichello
Títulos da Brawn GP
- Mundial de Pilotos (2009)
- Mundial de Construtores (2009)
Série sobre a Brawn GP
No último dia 15 de novembro, foi ao ar a novo série do Disney+ sobre a incrível história da escuderia na Fórmula 1.
Intitulada de Brawn: A Impossível História da Fórmula 1, a produção tem apresentação do astro Keanu Reeves e reúne entrevistas com as mais relevantes personalidades da época, como o Rosso Brawn, Jenson Button, Rubens Barrichello e Christian Horner.
Assista ao trailer de Brawn: A Impossível História da Fórmula 1
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Repórter no Esportelândia. Licenciado em Literatura Inglesa. Jornalista com passagens por Quinto Quarto, Blog de Escalada, Minha Torcida, Futebol Interior e Techpost. Está no Esportelândia desde 2022.