O UFC 200 foi um evento grandioso, comparável aos maiores acontecimentos esportivos globais. A arena em Las Vegas estava repleta de glamour, e as transmissões televisivas tinham chamadas com qualidade cinematográfica.

Dentro do octógono, estrelas reconhecidas mundialmente, especialmente no Brasil, como Amanda Nunes, José Aldo e Anderson Silva, estavam no card principal. Nos bastidores, Dana White, o responsável por tornar tudo isso possível.

Graças às ações de Dana, é possível perceber o quanto este espetáculo do século XXI, realizado em 2016, se distancia das modestas noites do fim da década de 1990.

Na época, o UFC era um evento falido, uma ideia rechaçada pelo senso comum e um acontecimento na fila do esquecimento.

Depois, porém, que o empresário assumiu as rédeas, o Ultimate Fighting Championship virou um negócio bilionário e o bastião do MMA no mundo, um dos esportes que mais crescem atualmente.

A seguir, vamos investigar e detalhar o processo que fez o UFC ter o tamanho que tem e que fez de Dana White um homem com uma fortuna milionária. It's Time!

Como Dana White comprou o UFC

Dana White é a face do UFC. Ele é o responsável por fazer tudo acontecer, quem mantém as operações funcionando e a equipe em ordem. Ele organiza as grandes lutas e eventos, conduz as entrevistas nas pesagens e está na frente das câmeras quando é necessário dar respostas.

Por esses motivos, muitas pessoas pensam que o chefe americano é o proprietário da organização e um magnata no mundo das lutas. Embora tenha sido ele o responsável pela aquisição, ele não foi quem pagou por ela e nunca foi o dono.

Em 2001, a Semaphore Entertainment Group (SEG) estava à beira da falência. Entre os ativos que a empresa buscava liquidar estava o UFC, um campeonato que tinha comprado em 1995 do brasileiro Rorion Gracie e que estava desde 1997 fora das principais redes de televisão dos EUA.

A aquisição foi realizada por Lorenzo e Frank Fertitta, herdeiros da indústria de cassinos de Las Vegas, por US$ 2 milhões. Através de Dana White, que se tornou sócio minoritário, presidente e titular de 19% das ações da marca, a compra foi concretizada.

Mas como um empreendedor da classe média de Connecticut se envolveu num negócio desses?

Quem é Dana White?

Mesmo antes do UFC, a vida de Dana White sempre esteve ligada ao mundo das lutas. Fanático por boxe e um lutador frustrado, White passou a juventude entre treinos, um colégio que não completou e um projeto social para jovens boxeadores.

Ao entrar na vida adulta, ele abriu uma academia para lutadores em Las Vegas e fundou uma empresa para agenciá-los.

Nessas andanças, entrou em contato não só com os irmãos Fertitta, outros dois fanáticos por boxe, como também com o UFC, sendo inclusive empresário de lutadores futuramente consagrados como Chuck Liddell e Tito Ortíz.

Uma vez dentro do meio, foi natural que Dana White ficasse sabendo da crise da SEG e da liquidação do Ultimate Fighting Championship. Nem foi um mérito tão grande conseguir o investimento dos Fertitta, que não só tinham grana no bolso como também uma boa relação com o empresário.

A visão, no entanto, que Dana teve em relação ao UFC e ao MMA, essa sim é inigualável.

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O UFC antes e depois de Dana White

O UFC foi fundado em 1993 pelo empresário Art Davie e pelo jiujiteiro Rorion Gracie. A ideia era fazer uma competição entre as diversas artes marciais e “decidir” o melhor estilo de luta.

Sem, no entanto, uma organização desportiva por trás e com a pressão pelas vendas para a televisão, o Ultimate Fighting Championship foi tomando a forma de um “Vale-Tudo” que vendia mais a violência do que a supremacia de uma determinada arte marcial.

Regras, TV e reality: como Dana White fez um império no UFC
Royce Gracie durante luta dos primórdios do UFC. A família brasileira dominava a competição (Foto: Reprodução/ UFC)

O que começou como um fenômeno, pegando carona nos embates da regularização da televisão americana dos anos 80 e crescendo como um produto “proibido”, foi perdendo força pelo rechaço da comunidade da luta atlética e pelo posterior veto das operadoras de televisão a cabo.

O MMA e a transformação do UFC com Dana White

Ao mesmo tempo em que o “vale-tudo” dos Gracie declinava, o MMA ganhava popularidade como uma arte marcial unificada. Embora ainda estivesse em fase inicial de padronização, a ideia de combinar diversos estilos de luta atraía cada vez mais adeptos.

Dana White estava atento a essa tendência. Sua visão para o UFC não surgiu do nada. Ele costumava dizer que o produto sempre foi bom, mas mal comercializado. No entanto, o novo Ultimate Fighting Championship era realmente um produto diferente.

Para voltar à televisão por assinatura e ao pay-per-view, a competição precisava impor limites aos seus participantes.

Em vez de apenas colocar restrições nos combates, Dana trabalhou para estabelecer o MMA como o fio condutor, transformando o produto de uma luta violenta para um combate esportivo.

Assim, o impedimento de golpes baixos, mordidas, cabeçadas e chutes em adversários caídos não seriam meras coleiras — tenha em vista que o público-alvo trabalhado inicialmente era a audiência do UFC antigo — mas regras de um esporte de fato.

Fora que o MMA não era e nem é somente sobre impor limites aos lutadores, mas todo um conjunto de ações técnicas dentro de uma série de regras que dão sentido à sua prática, como o impedimento no futebol ou os 24 segundos de ataque no basquete, por exemplo.

O crescimento do UFC com Dana White

Como um bastião não da luta sem limites, mas da prática do MMA em alto nível, o UFC decolou. Claro, isso não aconteceu da noite para o dia. Foram mais de cinco anos de estruturação, mas, após a crise econômica mundial de 2008, o caminho ficou mais claro.

Enquanto o MMA crescia como uma arte marcial inovadora, Dana White empregava estratégias de marketing mais modernas, utilizando as redes sociais de maneira eficiente e aproximando a competição do público, tornando-a mais transparente e promovendo os participantes.

Embora não houvesse nada de novo na promoção dos lutadores, desenvolvendo personas e fomentando rivalidades, o UFC adotou uma abordagem semelhante ao MMA, aproveitando o que lhe interessava de cada esporte e utilizando diferentes métodos de propaganda.

O boxe, que Dana conhecia tão bem, foi a base. A formação dos Fight Nights, a pesagem como um evento de imprensa, tudo veio da nobre arte.

Do basquete e do futebol americano, a estruturação da cobertura midiática; até o futebol e a sua internacionalização foram usados como inspiração — é só ver como a marca cresceu no país depois de Anderson Silva.

The Ultimate Fighter

Talvez a ação de marketing mais decisiva tenha sido a criação do reality show The Ultimate Fighter.

Pegando carona em um dos formatos de TV mais consumidos nos EUA, o UFC conseguiu aumentar a visibilidade da marca, fidelizar uma audiência — os vencedores do programa ganhavam contratos e competiam de verdade — e consolidar o MMA como uma prática esportiva, tudo numa tacada só.

Grandes lutas, grandes lucros

Todo esse processo gerou um produto extremamente bem-sucedido, vendido em 2016 para um grupo chinês por mais de R$ 4 bilhões, com Dana White mantido no comando. O valor é altíssimo, mas o retorno não demorou a acontecer.

Só em 2018, a receita foi de US$ 700 milhões. O montante envolvido é tão grande que o UFC se dispôs a pagar por uma ilha privada para continuar realizando eventos durante a pandemia do novo coronavírus.

Embora os valores exatos não tenham sido divulgados, Dana afirmou que estaria disposto a pagar alto pela chamada “Ilha da Luta”.

Para os lutadores, o UFC investe milhões em salários em cada evento. Em um dos cards da “Ilha da Luta”, foram mais de US$ 4 milhões em pagamentos garantidos, além dos bônus por vitória e desempenho, que variam de US$ 30 mil a mais de US$ 100 mil.

O futuro do UFC

Hoje, o UFC é um projeto consolidado e uma das maiores organizações esportivas do mundo. No entanto, segundo Dana White, o momento é de expansão.

Desde que assumiu a presidência do UFC, Dana sempre teve como meta substituir o boxe como o principal esporte de luta do século XXI.

Um plano ousado, sim, mas baseado em um princípio simples: o esporte que um jovem vê hoje é o mesmo que ele apresentará aos seus filhos no futuro. E convenhamos, não há muitos jovens assistindo boxe atualmente.

Amanda Nunes e os cards femininos do UFC

Outro passo rumo ao futuro dado pelo UFC e por Dana foi a criação da categoria feminina. No entanto, não se trata de pioneirismo ou inovação.

O UFC foi uma das últimas organizações de MMA a investir em lutadoras, realizando sua primeira luta entre mulheres apenas em 2013.

Até hoje, a organização enfrenta críticas pelos critérios utilizados na seleção das competidoras, além das premiações e salários, que ainda seguem a infeliz tendência de desvalorização das atletas em comparação aos homens no esporte mundial.

Ainda assim, não é de se jogar fora a visibilidade que alcançam campeãs como a brasileira Amanda Nunes, nem o impacto que elas têm no fomento da prática de MMA por mulheres e até na audiência do público feminino.

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